Polícia investiga morte do cacique Merong Kamakã Mongoió em Brumadinho

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Alenice Baeta/Divulgação

Além das circunstâncias suspeitas envolvendo sua morte, líder indígena sofre outra violência, com a Vale tentando impedir o sepultamento de seu corpo em sua terra.

O cacique Merong Kamakã Mongoió foi encontrado morto na 2ª feira (4/3) na aldeia em que morava, no distrito de Casa Branca, em Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte. Merong pertencia ao povo Pataxó Hã-Hã-Hãe, originário do sul da Bahia, e à sexta geração da família Kamakã Mongoió. O líder indígena era um conhecido ativista pelos Direitos dos Povos Originários e atuava pela retomada de terras na região de Minas Gerais.

Segundo a polícia militar do estado, Merong se suicidou. No entanto, a polícia civil mineira ainda apura as causas da morte do cacique. E a Polícia Federal está auxiliando nessas investigações, de acordo com a Folha.

Diversas lideranças indígenas e de movimentos sociais questionam a PM sobre a morte do cacique e acreditam que ele foi assassinado. “Ele me disse que se aparecesse morto, ‘alguém o teria bombado na luta, pois ele me disse que jamais se suicidaria, pois era guiado pelo grande espírito, por Tupã, para salvar a humanidade, o que passaria necessariamente por frear as mineradoras, o agronegócio e superar o capitalismo’”, afirmou o assessor da Comissão Pastoral da Terra (CPT) frei Gilvander Moreira, uma das pessoas próximas da liderança indígena, relata o Brasil de Fato. “O cacique Merong foi assassinado”, reforçou.

O líder indígena estava à frente da retomada da Terra Kamakã Mongoió, no Vale do Córrego de Areias, em Brumadinho, onde há forte atuação de mineradoras. Foi em Brumadinho que há 5 anos a barragem de Córrego do Feijão, da Vale, rompeu, matando 270 pessoas e afetando milhares de outras, com a poluição do rio Paraopeba e a destruição de várias regiões.

Por isso, a deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG) solicitou à superintendência regional da PF de Minas que atue não apenas na investigação da morte do cacique, mas que garanta a proteção do Território Kamakã.

“Já nos foi informado que o cacique era alvo constante de ameaças e estava sendo perseguido em razão da sua liderança pela Defesa de Territórios Indígenas. Merong participou de diversas lutas, não apenas em Minas Gerais, mas na linha de frente em diversas retomadas, como em São Francisco de Paula (RS), na aldeia Xokleng e também em Maquiné (RS), em território do povo Guarani”, diz o documento encaminhado pela parlamentar à PF.

Célia Xakriabá denuncia outra violência contra Merong Kamakã Mongoió mesmo após sua morte. Segundo a deputada, a Vale conseguiu uma liminar judicial para impedir o sepultamento do cacique na Terra Kamakã, pela qual lutava. A mineradora alega que é a proprietária da região do Vale do Córrego de Areias, onde o território está localizado, explica a Revista Fórum.

“Fomos surpreendidos com uma liminar na justiça autorizando o envio de força policial para impedir o enterro do cacique Merong no território. O não sepultamento ataca um Direito Humano fundamental, respeitem o nosso luto”, disse Célia em post no X (ex-Twitter).

O Globo, Metrópoles, Carta Capital, Agência Brasil, Estado de Minas, CNN, g1 e O Tempo noticiaram a morte do líder indígena.

 

 

ClimaInfo, 7 de março de 2024.

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