Mesmo mais fraco, El Niño deve “torrar” planeta até maio, confirma OMM

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Instant Vantage/WikimediaCommons

Fenômeno tem 60% de chances de contribuir para temperaturas acima do normal em quase todo o planeta, diz a OMM, agravando efeitos das mudanças climáticas.

Um estudo publicado na Scientific Reports no final de fevereiro já tinha dado um alerta de que o El Niño continuaria colaborando para o aumento das temperaturas no planeta, mesmo após ter superado seu pico. E esse diagnóstico de “fervura” foi reforçado por uma análise publicada pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) na 3ª feira (5/3).

O fenômeno foi mais poderoso entre novembro do ano passado e janeiro deste ano, e desde então começou a enfraquecer. Mesmo assim, explica a OMM, ainda tem 60% de chances de contribuir para temperaturas acima do normal em quase todo o planeta entre março e maio.

A organização ressalta que o El Niño não age sozinho. O calor acima do normal é causado pelos gases de efeito estufa emitidos por atividades humanas, detalha o Observatório do Clima. Sobretudo pela queima de combustíveis fósseis – petróleo, gás e carvão.

“Todos os meses desde junho de 2023 tiveram recordes de temperatura, e o ano passado foi o mais quente já registrado. O El Niño contribuiu para essas temperaturas, mas os gases de efeito estufa são inequivocamente o principal culpado”, diz a secretária-geral da OMM, Celeste Saulo.

A especialista também chama a atenção para as anormalidades da temperatura nos oceanos. “A temperatura da superfície do mar em janeiro de 2024 foi de longe a mais alta já registrada no mês. Isso é preocupante e não pode ser explicado apenas pelo El Niño”, completa. Assim, também é possível que a superfície marítima continue mais quente que o normal nos próximos meses.

Em média, o El Niño ocorre a cada dois a sete anos, costuma durar de 9 a 12 meses e provocar eventos climáticos extremos, como incêndios florestais, ciclones tropicais e secas prolongadas. Por seus efeitos, o El Niño de 2023/2024 deve estar entre os cinco mais fortes registrados, relata a Reuters.

O atual El Niño foi mais fraco do que em 1997/98 e 2015/2016, quando ocorreu pela última vez. Mas emergiu rapidamente, levando a extremos climáticos não observados nas últimas décadas. E também se seguiu a uma La Niña – a contraparte de arrefecimento do El Niño – incomumente longa, que durou três anos, explica a Euronews.

Falando em La Niña, a OMM indica que existe a possibilidade de que o fenômeno, que, ao contrário do El Niño, provoca a redução das temperaturas, desenvolva-se “mais tarde este ano”, após um período de condições neutras entre abril e junho, segundo a Folha. Entretanto, no momento a entidade considera as probabilidades incertas.

Veja, Folha de Pernambuco, SBT, CNN, Agência Brasil, Climatempo e O Globo também repercutiram a nova previsão da OMM sobre o El Niño.

Em tempo: A população de Gaza continua sendo massacrada por ataques de Israel, cujo governo se nega a negociar um cessar-fogo humanitário. Contudo, o cenário já enormemente trágico de destruição, mortes – mais de 30.000 até o momento – e fome pode ser agravado pelo clima, relata a Time. O inverno tem sido extremamente rigoroso, com fortes chuvas e frio. Mas a vindoura primavera, com suas temperaturas rotineiramente mais altas, pode acelerar a propagação de doenças contagiosas, como diarreia e hepatite. Uma das principais preocupações é que o clima mais quente possa causar até mesmo um surto de cólera. “Algo como a cólera, se introduzida na Faixa de Gaza, resultaria numa epidemia realmente massiva pelas razões que você pode imaginar: seria extremamente transmissível porque as pessoas vivem umas em cima das outras, não há água suficiente, não há saneamento suficiente, ” diz Francesco Checchi, epidemiologista da London School of Hygiene & Tropical Medicine.

 

 

ClimaInfo, 7 de março de 2024.

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