Menos de dois anos após os assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips, indígenas do Vale do Javari denunciam novas invasões por caçadores no território.
A região do Vale do Javari, no norte do Amazonas, ainda sofre com a presença de invasores não indígenas. Menos de dois anos após os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips por caçadores ilegais, o território segue desprotegido e vulnerável aos invasores, que não se esforçam para esconder os vestígios de sua presença.
O Amazônia Real publicou imagens registradas por um grupo de indígenas Marubo na região do rio Curuçá. Lá, foram encontrados armadilhas, sacos de lixo e de sal, ossos de animais, pilhas, latas e garrafas abandonadas. Além dos vestígios dos invasores, o grupo também encontrou sinais da passagem de indígenas isolados, o que levanta a preocupação por possíveis contatos entre eles e os caçadores não indígenas.
O Vale do Javari é a Terra Indígena com o maior registro conhecido de grupos indígenas em isolamento voluntário – pelo menos 19 comprovados. A interação com não indígenas traz o risco não apenas de ataques e conflitos, mas também de exposição a doenças novas para os isolados.
“A entrada dos pescadores, dos caçadores, não parou, não freou. Simplesmente continuam os mesmos problemas de antes, durante e pós-morte de Bruno [Pereira]. A prisão do Colômbia [Rubén Dario Villar, apontado pela Polícia Federal como mandante das mortes de Bruno e Dom], a prisão dos executores, isso não mudou absolutamente nada”, lamentou Yura Marujo, ativista e liderança indígena do Vale do Javari.
A principal denúncia dos indígenas é a ausência do poder público no Vale do Javari. No ano passado, o governo federal anunciou diversas ações para retomar a fiscalização no território, como o restabelecimento de bases de proteção etnoambiental que foram abandonadas na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Porém, essas medidas ainda não se refletiram em mais segurança às comunidades indígenas.
“Precisamos que o Estado brasileiro faça o seu trabalho, porque senão, os Povos Isolados vão acabar morrendo por conta desse contato prematuro. E a fonte desses problemas é justamente os pescadores e caçadores, inclusive, com anuência de lideranças indígenas das comunidades que fazem essa fronteira entre a terra demarcada e não demarcada”, afirmou Yura.
Em tempo: A Justiça Federal determinou na semana passada a saída dos invasores não indígenas da Terra Alto Rio Guamá, no nordeste do Pará. A decisão atende a um pedido do Ministério Público Federal (MPF), motivado pela volta de cerca de 20 famílias ao território do qual elas haviam sido retiradas há quase um ano. O retorno dos invasores aconteceu depois que um falso juiz anunciou que os invasores tinham o direito de voltar à área. A notícia é do portal ((o)) eco.
ClimaInfo, 2 de abril de 2024.
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