Levantamento mapeia impacto de eólicas offshore em comunidades pesqueiras no RN

Nordeste Potência eólicas RN
PAC Flickr via OEco

“Cartografia Social do Mar” alerta para potencial impacto das usinas no mar em áreas de comunidades tradicionais e revela como projetos podem prejudicar ecossistema marinho.

Os impactos socioambientais que projetos eólicos e solares vêm provocando no Nordeste motivaram comunidades atingidas por essas usinas, instaladas em terra, a elaborarem um guia com salvaguardas para a instalação de empreendimentos novos no futuro. E como a região também tem grande potencial para a implantação de usinas eólicas offshore, as preocupações agora se voltam para o mar.

Um exemplo é Itajone Morais. Filho de pescadores artesanais, ele tem visto o ofício da família e o modo de vida de sua comunidade em Guamaré, no litoral do Rio Grande do Norte, ameaçados por empreendimentos eólicos. Temor que aumentou com a planejada expansão dos projetos para o ambiente marinho.

Itajone, que integra o Movimento dos Atingidos Pelas Renováveis (MAR) e a Associação de Pescadores Artesanais de Guamaré, compartilhou suas experiências na “Cartografia Social do Mar” no Rio Grande do Norte. O documento reúne levantamentos de áreas utilizadas pelas comunidades tradicionais pesqueiras para habitação, desenvolvimento de atividades produtivas, preservação, abrigo, reprodução das espécies e de outros recursos necessários aos seus hábitos e costumes e ao equilíbrio ambiental da região, conta Bárbara Poerner n’((o))eco.

O projeto é liderado pela Assessoria Cirandas, por meio do seu Programa Dragão do Mar, com suporte da Comissão Pastoral da Pesca e consultoria da Universidade Federal do Ceará (UFC). Além de Guamaré, o levantamento contempla outros cinco territórios pesqueiros: Enxu Queimado, Galinhos, Macau, Reserva Ponta do Tubarão e Dunas do Rosado – todos na costa potiguar e de interesse dos empreendimentos eólicos.

A cartografia social “é uma abordagem dentro da ciência cartográfica e uma metodologia que visa atrelar o conhecimento técnico, científico e acadêmico com conhecimento de vida”, descreve Regina Balbino, geógrafa e integrante do Laboratório de Geoprocessamento e Cartografia Social da UFC. “Trata-se de unir o conhecimento empírico com o conhecimento científico”, completa.

Segundo a pesquisadora, há similaridade em termos da atividade e dos potenciais impactos dos projetos eólicos no Ceará e no Rio Grande do Norte. Tal fator, aliado ao êxito da cartografia social realizada no primeiro, culminou no convite para o laboratório apoiar o desenvolvimento da iniciativa no território potiguar.

A elaboração da cartografia social potiguar ocorre num momento extremamente oportuno. Há a expectativa de que a regulamentação das eólicas offshore seja votada em breve no Senado – onde se espera que sejam derrubados os “jabutis” beneficiando combustíveis fósseis que foram inseridos no texto pela Câmara.

Além disso, as empresas, principalmente as petroleiras, estão se mexendo para avançar com projetos. A Petrobras já deu início a estudos e projetos-piloto de geração eólica offshore. E na 2ª feira (29/4), assinou com o governo do Rio Grande do Norte um memorando de entendimento para instalar uma usina no mar no estado, que deverá entrar em operação em 2029, informam Tribuna do Norte e Correio da Bahia.

Até fevereiro, um total de 96 projetos eólicos offshore foram apresentados ao IBAMA. O Rio Grande do Sul é o estado com o maior número de projetos propostos (27), seguido por Ceará (25) e Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro (14 cada um).

Em tempo: Levantamento da Frente Nacional de Consumidores de Energia mostra que, entre as grandes hidrelétricas do país, o custo de geração da usina binacional de Itaipu é o que mais pesa no bolso dos brasileiros, relata a Folha. No ano passado, a tarifa da usina para as 31 distribuidoras que são obrigadas a comprar sua energia ficou em R$ 294 por megawatt-hora (MWh). O valor supera de longe o praticado por oito grandes hidrelétricas comparáveis à Itaipu – já pagaram os custos de construção e instalação, têm ganhos de escala, produziram acima de 5 milhões de MWh e podem oferecer valores menores –, que na média foi de R$ 101,78/MWh. Especialistas afirmam que essa diferença de preço não tem razões técnicas, mas políticas. À medida que o custo da dívida para a construção de Itaipu foi caindo, até zerar, no ano passado, os governos de Brasil e Paraguai elevaram a transferência de recursos do caixa da hidrelétrica para bancar investimentos públicos dos dois lados da fronteira por meio da oferta de projetos socioambientais e obras.

 

ClimaInfo, 30 de abril de 2024.

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