Cientista climática, nova presidente do México enfrenta dilema petrolífero

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Secretaría de Cultura Ciudad de México from México/Wikimedia Commons

Ex-pesquisadora do IPCC, a física mexicana Claudia Sheinbaum herda um legado climático problemático deixado por seu padrinho eleitoral, o atual presidente Andrés Manuel López Obrador.

A vitória histórica de Claudia Sheinbaum para a presidência do México colocou não apenas a primeira mulher no comando do país, mas também a primeira cientista climática na chefia de um governo em todo o mundo. Sheinbaum, que é física e doutora em engenharia energética, contribuiu por oito anos com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC).

A ocasião para a emergência de Sheinbaum como futura líder dos mexicanos não poderia ser mais pertinente. O país experimenta uma seca intensa, provocada por uma forte onda de calor, que tem disparado os índices de poluição atmosférica. Como em outras partes do mundo, esses eventos extremos ganharam força e frequência nos últimos anos no México, que também enfrenta dificuldades para avançar em medidas de adaptação climática.

A trajetória acadêmica de Sheinbaum a coloca em uma posição especial para avançar com ações climáticas no México. No entanto, a trajetória política da nova presidente mexicana traz menos motivos para animação, principalmente pelas circunstâncias que a catapultaram para o comando do governo do país.

O Climate Home destacou o ceticismo de alguns analistas mexicanos com as credenciais verdes de Sheinbaum. Além do aparente desinteresse na agenda climática durante sua passagem no comando da Cidade do México (2018-2023), a presidente eleita sofre com a influência política do atual mandatário, o popular Andrés Manuel López Obrador, também conhecido como AMLO, defensor fervoroso da exploração petrolífera como caminho para o desenvolvimento econômico do país.

Uma das interrogações em torno da nova presidente é até que ponto ela poderá se distanciar das posições de seu antecessor sem melindrar sua base política de apoio. Isso se aplica em particular na questão energética, na qual ele avançou pouco no desenvolvimento de fontes renováveis de energia.

“Não há dúvidas de que seu compromisso com a questão climática é real. [Mas] haverá fantasmas de AMLO a assombrá-la. O seu legado significará que ela não pode se mover muito em relação ao cenário atual”, avaliou Carlos Ramirez, sócio da Integralia Consultants.

A Bloomberg Línea apontou o apoio financeiro bilionário dado por López Obrador à empresa PEMEX, estimado em cerca de US$ 80 bilhões nos últimos seis anos, como uma das cascas de bananas que ele deixará para sua sucessora. Em tese, esses investimentos deveriam ter ampliado a capacidade de produção da empresa, mas até agora isso não se reverteu em ganhos concretos. A partir de dezembro, esses problemas estarão no colo de Claudia Sheinbaum.

Ciclovivo, ((o)) eco e O Globo abordaram a carreira científica da nova presidente mexicana e os dilemas que ela deverá enfrentar no comando do país. NY Times e Reuters também destacaram essas questões.

 

 

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ClimaInfo, 4 de junho de 2024.

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