Seca na Amazônia: vazante dos rios se aproxima da pior marca histórica

seca Amazônia
Lalo de Almeida/Folhapress

Na véspera do começo da temporada seca, rios da Amazônia já apresentam níveis baixos; a expectativa é que a vazante supere o recorde de 2023. 

Faltando duas semanas para o começo oficial da temporada seca na Amazônia, os rios do bioma já apresentam sinais preocupantes. O principal temor é que o clima seco esperado nos próximos meses traga complicações iguais ou até mesmo maiores que as observadas no ano passado, quando a vazante dos rios amazônicos atingiu seu pior nível histórico.

O g1 destacou a movimentação de comunidades que vivem nas margens dos rios e dependem de sua água, especialmente no estado do Amazonas. Os impactos vão muito além da falta de água para abastecimento hídrico: os rios mais secos prejudicam a circulação de pessoas e mercadorias, já que o transporte na região central da Amazônia é totalmente dependente do modal fluvial.

“A gente está falando de um cenário crítico que se avizinha, e um dos problemas que nós tivemos ano passado, entre outros, foi o isolamento”, observou o secretário da Defesa Civil do governo do Amazonas, coronel Francisco Máximo. “Nós estamos com uma preocupação muito grande, principalmente com os ribeirinhos”.

A seca também preocupa as empresas instaladas na Zona Franca de Manaus. A Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (ELETROS) divulgou uma nota de preocupação com os impactos da estiagem no Amazonas. “É importante que o poder público tome medidas urgentes e imediatas para mitigar os impactos adversos da iminente estiagem”, assinalou o grupo, citado pelo g1.

A recorrência de fortes secas na Amazônia é mais um indício dos efeitos das mudanças climáticas na maior floresta tropical do planeta. Além de intensificar fenômenos climáticos naturais, como o El Niño, o aumento da temperatura média da Terra também está causando um aquecimento generalizado dos oceanos, o que pode ter um papel na intensificação das secas na região amazônica.

“[A seca dos últimos anos] é uma amostra” do que está por vir, pontuou José Marengo, cientista do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (CEMADEN), ao InfoAmazonia. “Parece que agora estamos olhando para algumas dessas coisas que poderiam acontecer nas próximas décadas”.

Ainda sobre secas amazônicas, a revista Nature publicou nesta semana um novo estudo que mapeou os efeitos da seca nas diferentes áreas da Amazônia. Segundo a análise, além do clima em si, o impacto da seca depende também de características da própria área, como a profundidade dos lençóis freáticos e o tamanho das raízes.

O estudo analisou dados de satélite que cobrem três períodos de seca na Amazônia – 2005, 2010 e 2015-2016. De acordo com os pesquisadores, a análise mostrou que algumas regiões aumentaram em áreas verdes durante a seca porque a água subterrânea era mais próxima à superfície.

Esse resultado foi mais observado na região sul da Amazônia, em uma bacia sedimentar conhecida como Escudos Brasileiros. Ao mesmo tempo, as porções da floresta amazônica ao norte, concentradas no Escudo da Guiana, onde o solo é menos fértil e as águas mais profundas, também apresentaram resiliência, ainda que menor, por conta das raízes profundas das árvores.

“Quando falamos sobre a Amazônia estar em risco, pensamos como se fosse uma única coisa. Esta pesquisa mostra que a Amazônia é um mosaico rico em que algumas partes são mais vulneráveis. Essa é a chave para compreender o sistema e, em última análise, protegê-lo”, afirmou Shuli Chen, cientista da Universidade do Arizona (EUA) e autora principal do estudo, à VEJA.

O Correio Braziliense também repercutiu a análise.

 

ClimaInfo, 21 de junho de 2024.

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