Pantanal em chamas: bioma foi o que mais secou no Brasil desde 1985

superfície de água no Pantanal
MapBiomas Água 2024

No ano passado, a superfície de água foi de 382 mil hectares, 61% abaixo da média entre 1985 e 2023, e apenas 2,6% estava coberto.

Os dados da Coleção 3 MapBiomas Água, lançada na 4ª feira (26/6), mostram que o Pantanal foi o bioma brasileiro que mais secou em 38 anos. No ano passado, a maior planície alagável do planeta respondeu por 2% da superfície de água de todo o Brasil. Em 1985, essa participação era de 10%, destaca Carlos Madeiro no UOL.

Em 1985, o Pantanal registrou uma superfície de água anual (aquela que fica pelo menos seis meses do ano alagada) de 1,9 milhão de hectares, quase 13 vezes a área da cidade de São Paulo. Trinta e oito anos depois, em 2023, esse número caiu 80,7%, para 382 mil hectares, cerca de 2,5 vezes o tamanho da capital paulista, além de representar apenas 61% da média histórica trabalhada pelo MapBiomas para o bioma.

“O Pantanal está secando. Literalmente secando”, disse à Míriam Leitão n’O Globo o coordenador geral do MapBiomas, Tasso Azevedo. E a destruição atual, com o fogo batendo recordes, é a união explosiva de três eventos predatórios, explica.

“A corrente de água que vem da Amazônia, os rios voadores, está diminuindo por causa do desmatamento na região. No planalto, no entorno do Pantanal, muitas áreas estão sendo convertidas em pastagem ou campos de soja. E isso aumentou muito o assoreamento da Bacia do Paraguai. Tanto que o Pantanal está ficando mais raso. E tem um terceiro problema, que é a destruição do pasto natural para ser substituído pelo pasto plantado”, detalhou Azevedo.

Com o agravamento das mudanças climáticas, o desmatamento não só impede a possibilidade de mitigação de impactos como acelera as emissões de gases de efeito estufa e intensifica os eventos extremos. Somado a esse contexto, o recente El Niño intensificou a seca, detalha O Globo.

Mas não foi só o Pantanal que “encolheu” no ano passado. Em todos os meses do ano, inclusive durante a temporada de chuvas, a superfície de água diminuiu em todo o país. A perda registrada no ano passado foi de 3% em comparação com 2022, informa o DW.

A água cobriu 18,3 milhões de hectares do Brasil, ou 2% do território nacional, em 2023. Embora essa extensão corresponda ao dobro da área de um país como Portugal, representa uma queda de 1,5% em relação à média do período analisado, de acordo com a Agência Brasil.

A Amazônia, que abriga 62% da superfície de água do país, sofreu uma seca severa no ano passado, e isso se refletiu nesse indicador. Em 2023, a superfície de água foi de quase 12 milhões de hectares, ou 2,8% da superfície do bioma. É uma retração de 3,3 milhões de hectares em relação a 2022.

O panorama da superfície de água no Brasil lançado pelo MapBiomas também foi repercutido por g1, Brasil de Fato, Valor, Um só planeta, Exame, Terra e SBT.

Em tempo 1: Uma nota técnica do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LASA/UFRJ) alerta que 2 milhões de hectares do Pantanal poderão ser queimados de julho a setembro, informam O Globo e g1. Os pesquisadores destacam que nunca o solo do bioma esteve tão seco e inflamável, mas que, embora o clima esteja desfavorável, só há incêndios por causa da ação humana.

Em tempo 2: A fumaça dos incêndios no Pantanal pôde ser vista em cidades do noroeste do Paraná, como São João do Caiuá e Paranavaí, na 3ª feira (25/6). Imagens feitas pela RPC e reproduzidas pelo g1 mostram como a fumaça tomou conta do céu na região.

Em tempo 3: O governo federal vai liberar R$ 100 milhões para ações do IBAMA e do ICMBio de combate aos incêndios no Pantanal, informam Valor, Correio Braziliense e Agência Brasil. Além disso, de acordo com o g1, o Ministério da Justiça e Segurança Pública confirmou o envio de 80 agentes da Força Nacional para auxiliar no combate ao fogo.

Em tempo 4: O fogo no Pantanal está preocupando pecuaristas da região, informa a Globo Rural. Além dos incêndios, a estação seca após chuvas abaixo da média no período úmido também coloca em xeque a disponibilidade de pastagens até a primavera, quando é esperado o retorno das precipitações. “Temos um longo caminho pela frente, com pelo menos mais três a quatro meses de estiagem, e tudo pode acontecer”, diz o pesquisador da Embrapa Pantanal, Carlos Padovani.

 

ClimaInfo, 27 de junho de 2024.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.