Cerrado enfrenta a pior seca em pelo menos 700 anos

seca no Cerrado
Lalo de Almeida - 15/3/2024 / Folhapress

Aumento das temperaturas 1°C acima da média na região central do país faz com que parte significativa da água da chuva evapore antes de infiltrar.

Além do Pantanal e da Amazônia, o Cerrado brasileiro também sofre com a estiagem. E segundo um estudo de pesquisadores da USP publicado na Nature Communications, o bioma vive uma seca sem precedentes – a pior em 700 anos, pelo menos.

Segundo os autores da pesquisa, o aquecimento na região central do país tem sido mais intenso, com o aumento das temperaturas cerca de 1°C acima da média global, de 1,5°C, informam Folha, Agência Fapesp, Brasil de Fato, Poder 360, Um só planeta e Olhar digital. Isso tem gerado um distúrbio hidrológico: a temperatura próxima ao solo está tão quente que uma parte significativa da água da chuva evapora antes de infiltrar no terreno.

A anomalia traz diversas consequências: mudanças no padrão de chuva, que está mais concentrada em poucos eventos, e menor recarga nos aquíferos, o que pode afetar o nível dos rios tributários do rio São Francisco.

O estudo revisou dados de temperatura, vazão, precipitação regional e balanço hidrológico da Estação Meteorológica de Januária, uma das mais antigas de Minas Gerais, com registros iniciados em 1915. As informações foram correlacionadas às variações da composição química de estalagmites de uma caverna no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, no mesmo município.

“Com o uso de dados geológicos foi possível expandir a percepção da seca causada pelo aquecimento global para um período bem anterior ao dos registros meteorológicos. Dessa forma, conseguimos fazer a reconstituição do clima até sete séculos atrás”, afirma Francisco William da Cruz Junior, professor do Instituto de Geociências (IGc-USP) e um dos autores do estudo, que foi liderado por Nicolás Strikis, do mesmo instituto.

A área de superfície de água natural no Cerrado em 2023 foi de 696 mil hectares, 53% a menos do que em 1985, segundo dados do MapBiomas. Embora o bioma possua 1,6 milhão de hectares cobertos por água – o maior dos últimos 39 anos –, apenas 37% estão em áreas naturais, enquanto 51% são destinados a hidrelétricas, relatam Metrópoles, R7 e TV Cultura.

“O Cerrado tem papel central para a agropecuária brasileira e para produção elétrica, pelo qual observamos um aumento de 390 mil hectares (89%) na superfície de água destinada aos reservatórios de hidrelétricas nos últimos 38 anos, afetando diretamente a ecologia dos ecossistemas aquáticos”, destaca o pesquisador Dhemerson Conciani, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), que participou da elaboração e análise dos dados.

Em tempo 1: E não é só falta de água que as mudanças climáticas provocam no Cerrado. Um estudo de pesquisadores da Embrapa e da UnB usou modelos matemáticos para concluir que o aquecimento global, causado pela crise climática, vai aumentar as emissões de óxido nitroso (N2O), um gás de efeito estufa cerca de 300 vezes mais potente que o dióxido de carbono (CO2), nos próximos 50 anos, informa o Um só planeta. O trabalho mostrou também que haverá redução de biomassa aérea e da produtividade de soja e milho, duas culturas que têm no bioma a sua principal área de cultivo no país.

Em tempo 2: Em 2040, o Reservatório do Descoberto, o maior do Distrito Federal, poderá estar seco. E em 2070 o DF contará com apenas metade da água disponível hoje para abastecer uma população cada vez maior, além de passar de um clima subúmido para o semiárido. As previsões são de Henrique Leite Chaves, hidrólogo, doutor em hidrossedimentologia, professor da Faculdade de Tecnologia e coordenador do Laboratório de Manejo de Bacias Hidrográficas da UnB, informa o Correio Braziliense.

Em tempo 3: A Amazônia está em alerta máximo por causa da queda do nível dos rios após a estação chuvosa e a previsão de uma seca que pode repetir ou até mesmo superar a registrada em 2023, que foi a maior já medida na região. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), as bacias dos principais rios amazônicos estão com bem menos água que no mesmo período do ano passado. A previsão é de que o período de seca na região, que começa em julho, tenha chuvas abaixo da média, destaca Carlos Madeiro no UOL.

 

ClimaInfo, 1º de julho de 2024.

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