
O rompimento de uma barragem da mina de Córrego do Feijão, da Vale, na cidade de Brumadinho, completou 6 anos em 25 de janeiro. Passado esse tempo, a busca por Justiça continua. Além dos 272 mortos – os corpos de três vítimas continuam desaparecidos até hoje –, o rompimento afetou a vida de dezenas de milhares de pessoas, com efeitos na saúde. Sem falar no enorme estrago ambiental.
Exames feitos em crianças de até 6 anos moradoras de Brumadinho apontam aumento da taxa de detecção de metais pesados na urina. Os menores foram avaliados pela Fiocruz Minas e UFRJ. Por isso, integrantes do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) reivindicaram a criação de um protocolo de saúde para acompanhar a situação das populações afetadas pelo rompimento, informam Folha e Agência Brasil.
O estudo apontou a presença de pelo menos um dos cinco metais (cádmio, arsênio, mercúrio, chumbo e manganês) em todas as amostras de urina analisadas. No caso do arsênio, que pode ser fatal em doses altas, a proporção de pequenos com níveis acima do valor de referência passou de 42% para 57% entre 2021 e 2023. Mas esse percentual é ainda maior à medida que se aumenta a proximidade destas crianças com a área do desastre ou da mineração ativa em Brumadinho, explicam O Tempo, Hoje em Dia, Valor e Folha.
Desde o rompimento da barragem da Vale, propriedades físicas, químicas e biológicas dos solos às margens de rios da região foram alteradas e há acúmulo de metais pesados acima dos níveis seguros, destaca a Folha. A análise, que avalia os impactos nos chamados solos ripários, que ficam ao longo de cursos d’água, afetados pelo acidente, foi conduzida pelos pesquisadores Andressa Cristhy Buch e Emmanoel Vieira da Silva-Filho, da UFF.
A água do rio Paraopeba, atingido diretamente pelos rejeitos da barragem rompida, continua imprópria para consumo até hoje, afetando diretamente a vida de ribeirinhos. Um acordo celebrado em fevereiro de 2021 entre Vale, governo de Minas Gerais e instituições de Justiça prevê que cabe à mineradora a limpeza total do rio, sem limite de custeio.
Um estudo do Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens (NACAB) projetou cenários de prazo para que essa limpeza seja concluída. No cálculo mais otimista, seriam necessários 44 anos de dragagem para a retirada total dos resíduos. Já o mais pessimista coloca esse prazo em 741 anos, relatam Folha e Diário do Centro do Mundo.
No sábado, dia exato do aniversário da tragédia, moradores e atingidos da região de Brumadinho fizeram um protesto. Segundo O Globo, o grupo cobra um novo acordo de reparação e critica que o atual, que envolve indenizações e investimentos em programas ambientais e socioeconômicos, é “praticamente inexistente”.
Em meio à luta para restabelecer a vida, o iminente fim de uma indenização paga mensalmente a 154.964 atingidos desde 25 de janeiro de 2019 é mais uma angústia, de acordo com O Tempo. Conhecido como Programa de Transferência de Renda (PTR), o valor do auxílio para adultos será reduzido pela metade a partir de março.
“A gente precisa com muito afinco lutar para que de fato possamos ter um futuro para os nossos filhos, para as novas gerações. Infelizmente eu não tenho mais filhos e não vou ter netos, mas eu acho que tenho obrigação de lutar por isso, para que esse planeta seja viável e para que o Brasil seja viável”, disse a presidente do Instituto Camila e Luiz Taliberti (ICLT), Helena Taliberti. A entidade foi criada em homenagem aos dois filhos de Helena, que morreram na tragédia, explica a Agência Brasil.
Correio Braziliense, Carta Capital, Exame e UOL também repercutiram o aniversário da tragédia da Vale em Brumadinho.
Em tempo 1: Autoridades de municípios que integram ações movidas no Reino Unido e na Holanda em busca de indenizações pelo rompimento da barragem de Fundão, da Samarco [joint venture entre Vale e BHP Billiton], em Mariana em 2015 estiveram reunidas em Belo Horizonte na semana passada. Advogados do escritório inglês Pogust Goodhead, que os representam nesses processos, também estiveram presentes. Apesar de ter sido o 7º encontro, este se tornou um dos mais relevantes, explicam Agência Brasil, Carta Capital e IstoÉ Dinheiro. Isso porque os municípios têm pouco mais de um mês para decidir se darão sequência aos pleitos levados aos tribunais estrangeiros ou aceitarão recursos do novo acordo de reparação firmado no Brasil. O prazo final é 6 de março.
Em tempo 2: O medo de viver tragédia similar às ocorridas em Mariana e Brumadinho também ronda os moradores de Conceição do Pará (MG). No início de dezembro passado, uma pilha de rejeitos da mina Turmalina, usada na produção de ouro pela Mineração Serras do Oeste (controlada pela canadense Jaguar Mining), desmoronou em Casquilho de Cima, povoado da cidade. Moradores e ambientalistas cobram informações tanto da empresa como da Agência Nacional de Mineração (ANM), relata a Folha.



