Ruralistas e Centrão querem votar “PL da Devastação” nesta semana

Enquanto defensores do PL apelam para a desinformação, ambientalistas e o governo federal reforçam críticas à flexibilização do licenciamento ambiental.
13 de julho de 2025
pl da devastação
Copacabana 13/7/25 / Alexandre Gaspari

O Projeto da Lei Geral do Licenciamento Ambiental (PL 2159/21) – também chamado de “PL da Devastação” – poderá ser votado ainda nesta semana. Pelo menos é o que afirmam os líderes partidários da bancada ruralista, dentre eles o relator do projeto, o deputado Zé Vitor (PL/MG). A expectativa é de que o PL seja pautado a partir desta 3ª feira (15/7).

O texto aprovado pelo Senado Federal prevê mecanismos como a Licença por Adesão e Compromisso (LAC), baseada em autodeclaração, e a Licença Ambiental Especial (LAE), com processo acelerado para projetos prioritários. Defensores alegam que a mudança agiliza empreendimentos, mas críticos alertam para riscos de fragilização da fiscalização e da preservação dos biomas brasileiros.

Na última 5ª feira (10/7), em audiência na Comissão de Meio Ambiente da Câmara, representantes do governo federal classificaram o PL 2159/21 como um risco de “dano irremediável” ao sistema de proteção ambiental. O secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, listou 40 pontos críticos no texto, incluindo o enfraquecimento do Sistema Nacional do Meio Ambiente  (SISNAMA), a desarticulação de políticas territoriais e a adoção de mecanismos como o “autolicenciamento” para empreendimentos de médio impacto. Além disso, o projeto exclui a consulta prévia a Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais, podendo fomentar conflitos socioambientais.

Já o presidente do IBAMA, Rodrigo Agostinho, adverte que, se aprovada, a proposta levará a uma onda de judicialização, com mais de 4.140 processos em aberto em setores como mineração e energia. Para ele, o texto “não tem condições de ser corrigido em Plenário”. Entidades socioambientais encaminharam um ofício ao presidente da Câmara, Hugo Motta, pedindo o adiamento da votação por 90 dias, com o argumento de que a proposta ameaça compromissos climáticos do Brasil, inclusive na COP30.

A Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público de Meio Ambiente (ABRAMPA) também divulgou nota contra o PL no fim da última semana, como noticiado pela Folha, somando-se a outras 352 organizações, além da Comissão Arns e da Comissão Tripartite Nacional, a qual reúne órgãos ambientais federais, estaduais e municipais. Segundo a entidade, o PL da Devastação pode gerar uma “guerra de desregulação” entre estados, com empreendimentos migrando para locais com regras mais frágeis, a prever a autonomia local para os licenciamentos.

Também na Folha, Suely Araújo, ex-presidente do IBAMA e especialista do Observatório do Clima, classificou como fake news o argumento de que existem 30 mil normas de licenciamento ambiental no Brasil – justificativa usada para defender o projeto. O dado, originado de um relatório da CNI (2013), inclui todas as normas ambientais (federais e estaduais), não apenas as de licenciamento, e até portarias sem força de lei. Araújo reforça a necessidade do debate baseado em dados precisos, não em distorções, “desinformando a população” sobre a real complexidade do sistema.

Ainda sobre desinformação, Giovana Girardi narrou na Agência Pública como procurou – mas não achou – as mais de 5 mil obras paradas no Brasil por problemas do modelo atual de licenciamento ambiental, outro dado utilizado para defender o PL.

O Globo, Um Só Planeta, entre outros, também repercutiram as expectativas para a votação do PL da Devastação.

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Erramos: O relator do PL da Devastação (PL 2.159/21) na Câmara é o deputado federal Zé Vitor (PL/MG), e não Zé Trovão (PL/SC) como dissemos nesta nota veiculada edição de ontem da Newsletter ClimaInfo. Pedimos desculpas e corrigimos o texto hoje 14/07/25.

  • Em tempo: A ameaça de Donald Trump de impor tarifas de 50% sobre exportações brasileiras aos EUA, condicionada à anistia de Jair Bolsonaro, provocou uma reação inesperada: a Frente Parlamentar da Agropecuária, tradicional aliada do bolsonarismo, repudiou a medida e pediu ação diplomática do governo Lula. Enquanto produtores de carne, café e celulose pressionam contra a “Tarifa Bolsonaro”, o desmatamento na Amazônia registrou estabilização em junho após operações do IBAMA embargando 54 mil hectares. Paralelamente, a votação do PL 2159 enfrenta resistência até de entidades empresariais, as quais pediram 90 dias de debate ao presidente da Câmara, Hugo Motta, alertando para os riscos climáticos e de corrupção.  A notícia é da Central da COP, no jornal O Globo.

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