Amazônia concentra quase metade dos conflitos no campo nos últimos 40 anos

Disputa por terra, trabalho escravo e conflitos por água estão entre os principais motivos do aumento da violência agrária no Brasil.
23 de julho de 2025
amazônia concentra quase metade dos conflitos no campo nos últimos 40 anos
Ditec_Ibama/AM

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) lançou na última 2ª feira (21/7) o Atlas dos Conflitos no Campo Brasileiro 2024. O documento mostra o crescimento de 44% dos conflitos do campo entre 1985 a 2023, com destaque especial à Amazônia Legal, que concentra quase metade dos casos (44%). O Repórter Brasil detalhou que, desse total, 84% referem-se a disputas por terra, 8,9% a casos de trabalho escravo e 7,1% a conflitos por água. 

Segundo o Atlas, desde 2008 a Amazônia passou a responder por mais da metade dos conflitos registrados anualmente. Em 2016, esse índice chegou a 57%. A região também lidera o número de assassinatos por conflitos no campo. Em 2023, foram 2.008 ao todo, dois terços deles na região, seguida das regiões Nordeste (17%) e Centro-Sul (16%).

Todos os dez municípios mais conflituosos do país ficam na Amazônia Legal – sete deles no Pará, com destaque para Marabá (548 conflitos), São Félix do Xingu (394) e Altamira (288). Completam a lista Rio Branco (AC), Porto Velho (RO) e Macapá (AP). O Pará também é o estado com maior número de assassinados (612), tentativas de assassinato (420) e ameaças de morte (1.597).

“A Amazônia é a região para onde se expandiram nos últimos anos o agronegócio e a mineração, em muitos casos avançando sobre terras públicas e devolutas [áreas ainda sem destinação] com base em grilagem e invasões, promovendo processos de expropriação de indígenas, quilombolas e camponeses”, explica um trecho do publicação.

O Instituto Humanitas Unisinos ressalta que, dos 5.570 municípios brasileiros, 2.969 (53%) registraram ao menos uma disputa por terra desde 1985. A maioria dos casos (60,9%) corresponde a reações contra ocupações ou posses.

Carlos Lima, coordenador nacional da CPT, afirmou em entrevista à Rádio Brasil de Fato que a violência não é um acidente, mas parte da lógica de expansão do capital sobre os territórios tradicionais. “A violência é o instituto utilizado pelo agronegócio, é o instituto utilizado pelas mineradoras. Então, ela faz parte do mecanismo que eles utilizam para deixar a terra liberada para o uso excessivo do capital”, alerta.

Em relação aos quilombolas, o Atlas frisa que a falta de titulação torna as comunidades mais vulneráveis aos conflitos. Ao longo de 24 anos, a CPT identificou 3.017 ocorrências, a maior parte delas relacionadas a disputas por terra (2.466 casos), seguida por conflitos por água (259), informou o Brasil de Fato. Outras formas recorrentes de violência contra quilombolas incluem prisões (69), tentativas de assassinato (50) e assassinatos (48).

O documento traz análise especial sobre a violência contra Povos Indígenas, Quilombolas e sobre o que chama de “neoextrativismo” no Cerrado. Entre 1985 e 2023, foram registrados 4.559 conflitos envolvendo indígenas, sendo mais da metade só nos últimos cinco anos.

No Cerrado, os conflitos se acirram por conta do “neoextrativismo”, termo entendido como a ênfase em estratégias de desenvolvimento centradas na exportação de commodities, aprofundando a dependência e os conflitos territoriais nas fronteiras agrominerais.

Carlos Madeiro, em coluna no UOL, relembra que os conflitos no campo bateram recorde em 2023, no terceiro mandato do presidente Lula. “Para a CPT, o atual governo segue o modelo de anteriores ao não priorizar a reforma agrária e ao dar bilhões em financiamento público aos setores que mais geram disputas. O período é de ‘aumento da violência, tanto do poder privado como do poder público’”, destaca.

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