
O desmonte das políticas climáticas nos Estados Unidos de Donald Trump não se limita aos limites fronteiriços do país. Em mais uma ação no mínimo duvidosa, o governo norte-americano sinalizou a possibilidade de deixar a Agência Internacional de Energia (IEA) se esta não for “reformada” em prol dos combustíveis fósseis. Para a Casa Branca, as projeções de crescimento das fontes renováveis de energia nos próximos anos feitas pela Agência são “irrealistas” e prejudicam a indústria fóssil.
A irritação de Trump não é recente. Há anos, grupos negacionistas nos EUA criticam as projeções da IEA para a demanda futura de petróleo, que preveem uma estabilização nesta década e a perspectiva de queda sustentada a partir de 2030. Esses grupos, agora encastelados na Casa Branca de Trump, acusam a IEA de distorcer suas projeções para atender aos interesses dos defensores das fontes renováveis de energia.
“Isso é um absurdo total. Faremos uma de duas coisas: reformaremos a forma como a IEA opera ou nos retiraremos”, afirmou o secretário de energia dos EUA, Chris Wright, citado pela Bloomberg. Ele também disse que tem mantido diálogo com o diretor-executivo da IEA, Fatih Birol, sobre o “futuro” da agência.
Os aliados republicanos de Trump no Congresso norte-americano já sinalizaram a intensificação da pressão sobre a IEA. O Comitê de Apropriação da Câmara dos Representantes aprovou nesta 4a feira (23/7) um relatório que defende a retirada do financiamento dos EUA à agência, sob a alegação de que ela “abandonou a objetividade” ao projetar o crescimento das energias renováveis.
“O Comitê conclui que a agência abandonou a objetividade nas informações cruciais sobre o fornecimento de energia que produz e, em vez disso, buscou informações politizadas para apoiar a defesa de políticas climáticas. Essa mudança bem documentada prejudica a tomada de decisões dos formuladores de políticas e ameaça a segurança energética e os interesses econômicos dos EUA”, escreveram os parlamentares republicanos. A Bloomberg deu mais detalhes.
A ofensiva negacionista de Trump contrária à IEA segue o mesmo padrão de desmonte capitaneado por ele nos EUA. A iniciativa ignora a realidade da ciência e da economia para beneficiar a indústria de combustíveis fósseis em detrimento do clima e do futuro do planeta.
Em tempo: Por falar em “ignorar a ciência”, o Guardian destacou o alerta de Jason Burnett, ex-administrador-adjunto da Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA na gestão George W. Bush, sobre a tentativa do governo Trump de relativizar uma conclusão de já 16 anos sobre o dióxido de carbono e outros cinco gases de efeito estufa prejudicarem a saúde pública. A medida pode servir para atropelar as restrições atuais de poluentes na indústria em geral, o que representaria um retrocesso de décadas no combate à poluição do ar. “A ciência é clara, os impactos são claros, e a lei é clara. O desafio deveria ser como reduzir as emissões, em vez de debater se há um problema”, afirmou Burnett.



