Crise de hospedagem pode enfraquecer resultados da COP30

Baixa presença ou mesmo ausência dos países em desenvolvimento, mais atingidos pela crise climática, é um risco para as negociações em Belém.
3 de agosto de 2025
crise hospedagem cop30
Bruno Cecim / Ag.Pará

A menos de 100 dias para a abertura da COP30, a crise da hospedagem em Belém (PA) pode azedar as negociações antes mesmo delas acontecerem. 

“A questão, para nós, não é sobre quartos, mas sobre inclusão. Estamos falando de multilateralismo e não de restringi-lo ainda mais”, disse Richard Muyungi – presidente do grupo dos 54 países africanos – a Daniela Chiaretti no Valor. “Se os quartos não são adequados e em número suficiente, não podemos ter uma COP ali (em Belém) (…) Precisamos garantir a inclusão. E isso quer dizer mídia, sociedade civil, delegados, jovens. Portanto há que haver quartos suficientes para garantir que todos sejamos incluídos no processo e a preços acessíveis. Este é o nosso ponto central.”

Para além das dificuldades geopolíticas atuais e dos impasses das últimas rodadas de discussão, a primeira COP na Amazônia enfrenta uma ameaça que pode ser fatal para suas pretensões – seu esvaziamento.

A diminuição das delegações tem sido sugerida pelo Brasil e pelo secretariado da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) como um caminho para reenquadrar as COPs climáticas, que cresceram de forma excessiva nos últimos anos. O problema é que, para os governos dos países mais pobres, a redução no número de participantes pode enfraquecer sua capacidade de acompanhar as várias negociações ao longo da Conferência – e de legitimar as decisões tomadas em cada debate.

“Um país que acompanha 15 mesas de negociação e tem que cortar esse número, acompanhando só oito, porque não está levando delegado suficiente, ele pode virar para as outras mesas, que ele não pôde acompanhar, e dizer ‘eu não reconheço isso, porque eu não estava lá, não debati’”, assinalou Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima (OC), ao Estadão.

Como os governos africanos explicitaram na semana passada, existe ainda o risco de que alguns países sequer possam mandar representantes para Belém. Nesse caso, como lembrou Daniela Chiaretti no Valor, a COP30 enfrentaria um cenário de esvaziamento que pode simplesmente torná-la inviável do ponto de vista diplomático. “É preciso quórum de pelo menos um terço das Partes para abrir uma COP, e de dois terços para que decisões sejam tomadas. A COP30 está ameaçada também na sua legitimidade”, destacou.

Enquanto aguardam por uma solução dos organizadores da COP30, as delegações governamentais, da sociedade civil e da iniciativa privada seguem fazendo as contas para definir sua participação na Conferência de Belém. O Financial Times informou que empresas estrangeiras estudam enviar uma representação menor para a capital paraense, em virtude dos altos custos de hospedagem. A Folha publicou a tradução da reportagem.

O Globo destacou que a opção do setor privado em priorizar os eventos pré-COP em outras cidades com infraestrutura maior, como São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ). A capital fluminense, por exemplo, deve receber o Local Leaders Fórum, entre os dias 3 e 5 de novembro, com expectativa de 10 mil participantes.

O g1 repercutiu a situação das representações diplomáticas, que ainda não definiram quantos diplomatas e técnicos virão ao Brasil em novembro. Países como Alemanha, China, Indonésia e Suíça enfrentam o mesmo problema: preços excessivamente altos para hospedagem em Belém, com baixa disponibilidade de leitos.

Correio Braziliense, Valor e VEJA evidenciaram a situação dos altos preços de hospedagem em Belém para a COP30. Em um anúncio, a tarifa cobrada para as duas semanas de negociação supera R$1,5 milhão por uma casa popular. Já um pequeno hotel mudou de nome e subiu o preço de seus quartos em quase 30 vezes.

“A ânsia de transformar o evento em um pote de ouro está destruindo a possibilidade de ter uma COP. E isso não é só absurdo, é grave, pois pode destruir a possibilidade da realização da primeira COP amazônica”, ressaltou Miriam Leitão em sua coluna no jornal O Globo. “Isso afeta a imagem de Belém para sempre, afeta a imagem do Brasil, eleva o risco de insucesso da COP no Brasil porque quiseram explorar as pessoas”.

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