
Noruega, Suécia e Finlândia, países conhecidos pelo clima frio, passaram por temperaturas acima de 30°C por mais de 20 dias em julho. A crise climática fez com que a onda de calor na Escandinávia fosse dez vezes mais provável e 2°C mais quente, de acordo com um relatório publicado no World Weather Attribution.
Na Suécia, as temperaturas se mantiveram elevadas também à noite, com 10 dias consecutivos de “noites tropicais” – com termômetros marcando acima de 20°C. Segundo os modelos climáticos, o cenário seria impossível em um mundo sem o aumento da temperatura de 1,3°C em relação aos níveis pré-industriais, informam Politico, Euro News e Independent.
As anomalias climáticas impactaram a saúde e o bem-estar da população e de animais. Os sistemas de saúde ficaram sob pressão pelas internações hospitalares adicionais, bem como pela dificuldade de resfriamento dos hospitais. O estudo registrou a morte por afogamento de pelo menos 28 pessoas na Finlândia, 31 na Suécia e 8 na Noruega devido à busca pela natação ao ar livre.
Assim como em outros países do norte global, a infraestrutura dos prédios residenciais também é um desafio na Escandinávia. Regiões mais frias têm habitações construídas para reter calor em seu interior, logo, populações mais vulneráveis, como idosos, crianças e pessoas com comorbidades, estão cada vez mais suscetíveis aos riscos do calor excessivo dentro de suas casas.
As altas temperaturas também impactaram a vida selvagem. Renas fugiram para a cidade em busca de água e sombra. Na Noruega, o governo alertou motoristas para o perigo de encontrá-las em túneis. A migração desordenada atrapalhou os meios de subsistência dos Povos Indígenas Sami dos países escandinavos e da Rússia.
O calor trouxe seca, escassez de forragem, interrompeu o pastoreio de renas e o acesso à comida. “Os líderes Sami consideram esses impactos como questões de Direitos Humanos e pedem esforços de adaptação que respeitem os direitos indígenas e os conhecimentos tradicionais”, destaca o relatório.
Os extremos climáticos também criaram condições favoráveis para incêndios florestais e proliferação de algas no Mar Báltico, bem como em lagos na Finlândia.
A Escandinávia já registrou uma onda de calor igualmente poderosa em 2018, relembra o Guardian, quando cientistas estimaram a morte precoce de 750 pessoas somente na Suécia. Mas, na época, o mundo havia aquecido “apenas” 1,1°C. Na atual taxa de 1,3°C, ondas de calor como essa são duas vezes mais prováveis – é por isso que toda fração de grau importa.
“Os combustíveis fósseis estão potencializando eventos climáticos extremos e, para impedir que o clima se torne mais perigoso, precisamos parar de queimá-los e migrar para energias renováveis”, disse a climatologista Friederike Otto, uma dos autores do estudo.
Se seguirmos a trajetória atual em direção a um aquecimento de 2,6oC no final do século, ondas de calor como a da Escandinávia podem se tornar cinco vezes mais frequentes.
Em tempo: As altas temperaturas noturnas já quebraram recordes nos dois primeiros meses do verão de 2025 em muitas regiões da Europa. O sudeste da Europa foi a região mais afetada por "noites tropicais" (quando os termômetros ficam acima de 20°C), com áreas na Grécia registrando 55 noites tropicais a mais do que a média; na Itália, até 50 noites; na Turquia, até 40 noites; ao mesmo tempo em que regiões da Croácia, Sérvia, Hungria, Romênia e Bulgária registraram até 35 noites. As noites tropicais podem afetar diretamente a qualidade do sono, provocando insônia e suor excessivo. Para além do desconforto, as altas temperaturas representam risco à saúde quando o corpo tem dificuldade de se recuperar do estresse térmico diurno como normalmente faria a noite. Euronews, Guardian, Al-Jazeera e BBC trazem mais detalhes do assunto.



