Crise de hospedagem força redução de delegação indígena para a COP30

Com preços nas alturas, escolas são reformadas para receber participantes, e Defensoria Pública avalia entrar na Justiça.
17 de agosto de 2025
cop30 povos indígenas
apiboficial.org.br

Se a crise de hospedagem em Belém ameaça a participação de representantes de países na COP30, a situação é pior para a sociedade civil. Por exemplo, a presença de Povos Indígenas na conferência será 50% menor que o previsto pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB).

A COIAB esperava reunir em Belém cerca de 6.000 indígenas de todo o Brasil e de outros países. Contudo, o governo federal anunciou nesta semana um limite de 3.000 pessoas na Aldeia COP montada na Universidade Federal do Pará (UFPA).

“Não era o local que estávamos esperando. Tentamos organizar um local mais próximo de onde vai ser o ponto principal da COP30, por uma questão da mobilidade das lideranças indígenas, mas não conseguimos”, diz à Folha Toya Manchineri, coordenador da COIAB.

Os problemas com a hospedagem expõem a falta de planejamento do governo federal para preparar a capital paraense, avalia o Observatório do Clima. O que se vê agora, a menos de três meses para a COP30, é uma corrida contra o tempo com nuances de improviso e possíveis batalhas judiciais.

De um lado, 17 escolas em Belém estão sendo reformadas para servir de hospedagem, segundo o Jornal Nacional (TV Globo). De outro, a Defensoria Pública do Estado do Pará (DPE) analisa possibilidade de entrar na Justiça contra os altos valores. A informação foi confirmada ao g1 pelo órgão que, junto de mais algumas entidades públicas paraenses, notificou Airbnb, Decolar e Booking com uma série de recomendações, incluindo suspender anúncios.

Tentando apagar (mais) este incêndio, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, disse que Belém terá quartos “a preços razoáveis”, segundo O Globo. Ao defender a capital paraense, Corrêa do Lago afirmou que nenhuma cidade do mundo está preparada para receber um evento deste porte e até Paris teve problemas similares quando sediou a COP21, em 2015.

A defesa de Belém ganhou um apoio de peso. O prêmio Nobel da Paz, ex-vice -presidente dos Estados Unidos e ambientalista Al Gore, ao lado do presidente da COP30, conclamou delegações e ativistas a irem para a capital paraense em evento no Rio de Janeiro, informou o Estadão.

Uma ausência, porém, é quase certa: o presidente dos EUA, Donald Trump, convidado por Lula nos últimos dias. Negacionista assumido, Trump tirou seu país do Acordo de Paris assim que assumiu o cargo, em 20 de janeiro.

Para a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, Trump não fará [tanta] falta, informa o Valor. Segundo Marina, desde a Eco92, no Rio de Janeiro, os EUA não participam de maneira contundente dos acordos de convenção climática e em muitas vezes “atrapalharam”, exceto nos governos dos presidentes Joe Biden e Barack Obama, após a adesão ao Acordo de Paris.

  • Em tempo 1: Fundamental para firmar a capital paraense como sede da COP30, a Declaração de Belém, assinada em 2023 pelos presidentes dos países da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), tem sua implementação avançando de forma desigual e ainda repleta de desafios. É o que revela um diagnóstico da Plataforma Cipó que será lançado amanhã (19/8). Entre agosto de 2023 e junho de 2025, os oito países amazônicos (Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela) registraram cerca de 1.700 ações relacionadas à execução do documento, que prevê a consolidação de uma agenda comum para a região e enumera objetivos a serem alcançados em relação aos recursos hídricos. Entretanto, a maior parte delas permanece em fases iniciais. A notícia é d’O Globo.

  • Em tempo 2: Na “COP da Amazônia”, a Organização de Estados Ibero-Americanos (OEI), responsável por gerir a montagem da COP30, vetou a venda de comidas típicas amazônicas, como açaí, tucupi e maniçoba, nos restaurantes da cúpula. Após a repercussão, o veto foi retirado do edital, informam Folha, UOL e Veja. O ministro do Turismo, Celso Sabino, natural de Belém, entrou na articulação com chefes de cozinha paraenses para garantir espaço para pratos e ingredientes típicos na COP30, segundo nota do ministério. Após conversar com a OEI e o secretário-geral da COP, Valter Corrêa, Sabino anunciou a republicação do edital, relatam Estadão, CNN e Metrópoles. Nas redes sociais, Sabino afirmou que a organização “pecou, cometeu um grave erro” impedindo a entrada dos principais produtos da gastronomia paraense. “Vai ter açaí, vai ter tacacá e vai ter maniçoba na COP 30, sim”, disse.

  • Em tempo 3: Os governadores de Minas Gerais, Romeu Zema (NOVO), e do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), ambos de direita e com pretensões presidenciais, não assinaram a carta do Fórum Nacional dos Governadores de apoio a Belém como sede da COP30, informam O Globo e UOL. Eles não foram ao encontro, nem enviaram representantes. Segundo O Globo, governadores de direita articulam um “boicote” à conferência do clima. Alguns desses governadores integram o Consórcio de Integração Sul e Sudeste (COSUD), que organiza para os próximos dias uma espécie de “COP paralela” em Curitiba, com foco na Mata Atlântica.

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