A Amazônia suja de petróleo

Posição incerta dos países da OTCA sobre combustíveis fósseis se soma ao avanço da Petrobras na exploração de petróleo na Foz do Amazonas.
18 de agosto de 2025
  • Alexandre Gaspari, jornalista no ClimaInfo.

Os presidentes dos oito países da Pan-Amazônia – Brasil, Colômbia, Venezuela, Suriname, Peru, Guiana, Equador e Bolívia – são esperados em Bogotá na 6ª feira (22/8) para a cúpula de líderes da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA). Cientistas e organizações da sociedade civil reforçaram o apelo para que os chefes de Estado assumam na reunião um compromisso efetivo para banir a exploração de combustíveis fósseis na região. Mas até agora há um “silêncio ensurdecedor” sobre o tema.

Se focarmos no Brasil, detentor da maior fatia da Floresta Amazônica, o sinal é ainda pior. Na próxima semana a Petrobras dará início à Avaliação Pré-Operacional (APO) no bloco FZA-M-59, na Foz do Amazonas. A APO é um simulado de vazamento de petróleo e atendimento à fauna e pode ser uma das últimas etapas para a petrolífera conseguir a licença do IBAMA para perfurar um poço exploratório de petróleo e gás fóssil na área. 

A ameaça do petróleo à Amazônia brasileira não se resume ao bloco 59. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) incluiu no PL da Devastação a Licença Ambiental Especial (LAE), uma “licença express” claramente política, como mostrou o Observatório do Clima. O presidente Lula vetou a proposta no PL, mas a incluiu ligeiramente modificada numa medida provisória. Ou seja, projetos de exploração de petróleo e gás na Foz do Amazonas e em outras bacias da região poderão ser considerados “estratégicos” por um conselho governamental e, assim, serem licenciados em até um ano. Uma “boiada” petrolífera atropelando a maior floresta tropical do planeta. 

Neste cenário, organizações da sociedade civil entregaram uma carta ao Itamaraty pedindo que o Brasil defenda na OTCA o fim da exploração de combustíveis fósseis na Amazônia. Para isso, demandam que os países pan-amazônicos declarem a região como a primeira zona global transnacional de exclusão da exploração e produção de petróleo e gás. “É hora de dar um passo corajoso e tomar uma decisão clara: não mais expansão de combustíveis fósseis na Amazônia”, frisou a carta. Que não obteve resposta.

Ameaçada principalmente pelo desmatamento e expansão do agronegócio, a Amazônia vive num “limbo” quando se trata da principal causa das mudanças climáticas no planeta: a queima de combustíveis fósseis. Estudos mostram que o aumento da concentração de  gases de efeito estufa na atmosfera afeta negativamente a capacidade da maior floresta tropical do mundo de regular o clima e fixar carbono. No entanto, os países da região se abstêm de se compromissarem formalmente a eliminar os combustíveis fósseis, à exceção da Colômbia. Além disso, promovem mais exploração de petróleo e gás no território amazônico, com sérias consequências sobre o ambiente e as populações locais.

Os efeitos devastadores da atividade petrolífera na Amazônia estão por toda a parte. Vazamentos de petróleo são comuns principalmente no Equador, no Peru e na Venezuela, contaminando solo, rios e chegando aos oceanos, com impacto direto na fauna e na flora e no cotidiano das comunidades ribeirinhas e indígenas. Estas, na maioria das vezes, não são consultadas e são “atropeladas” pelas petrolíferas, sejam elas privadas ou estatais.

Os governos costumam buscar apoio à exploração de combustíveis fósseis prometendo riqueza e desenvolvimento. No entanto, seja no Brasil, na Colômbia, na Bolívia ou em qualquer país do Sul Global, os acionistas das empresas [entre eles, os próprios governos] ganham muito com os lucros da atividade. Já a população fica com os prejuízos sociais e ambientais. Inclusive porque, como demonstram os índices de desenvolvimento e qualidade de vida de várias cidades beneficiadas por royalties do petróleo, esses recursos raramente se traduzem em benefícios à população. É assim que funciona a indústria do petróleo e do gás. 

Às vésperas da COP30, a primeira conferência do clima a ser realizada na Amazônia, a cúpula de presidentes da OTCA tem uma chance única com a Declaração de Bogotá. Se propuser a eliminação dos combustíveis fósseis no planeta e a transformação da região amazônica em uma zona de exclusão de petróleo e gás, dará força às discussões sobre o tema em Belém. Mas, se optar pelo silêncio sobre o tema, como infelizmente tudo indica, restará aos países pan-amazônicos participarem das discussões climáticas na capital paraense vendo a Petrobras perfurar um poço no litoral amazônico.  

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