
Ainda que lentamente (e tardiamente) a ficha está caindo e o risco trazido pela urgência climática para a indústria petrolífera parece estar sendo considerado pelo mercado financeiro. Fundos de hedge, que durante anos mantiveram posições favoráveis ao petróleo, inverteram a estratégia e passaram a apostar contra as ações do combustível fóssil e reduzindo suas posições vendidas em energia solar.
Desde o início de outubro de 2024 até junho deste ano, os fundos de hedge focados em ações têm se mantido vendidos (aposta na queda do valor da ação) em papéis de petróleo listados no S&P Global Oil Index revelou análise feita pela Bloomberg Green e repercutida por Capital Reset, Um Só Planeta e AInvest. Uma reversão do cenário dominante desde 2021, segundo os dados baseados em divulgações da Hazeltree, especializada em investimentos alternativos.
No mesmo período, os fundos desfizeram suas apostas vendidas contra ações de energia solar. A análise, baseada em um universo de cerca de 700 fundos de hedge representando cerca de US$700 bilhões em ativos brutos, também mostra os gestores de portfólio permanecendo em posições líquidas compradas (de valorização da ação) no período.
Esse quadro coincide com o aumento na oferta de petróleo, já que alguns países da OPEP+, grupo dos maiores produtores de combustíveis fósseis do mundo, agem para preservar sua participação de mercado. O aumento da produção “historicamente não tem sido bom” para a indústria, observou Joe Mares, gestor de portfólio da Trium Capital, fundo de hedge administrando cerca de US$ 3,5 bilhões.
Os gestores de fundos também sugerem a possibilidade do aumento contínuo nas vendas globais de veículos elétricos reduzir a necessidade de petróleo. Isso corresponde às estimativas da BloombergNEF de aumento anual de 25% nas vendas de VEs neste ano. A BNEF também projeta a participação de 40% de veículos elétricos na frota em circulação até 2040, o que reduziria o consumo de petróleo em 19 milhões de barris por dia.
A mudança de estratégia dos fundos reflete o fato de ser agora inconcebível o crescimento econômico sem energia de baixo carbono, analisa Mares. “Se quisermos continuar crescendo, tanto nas economias desenvolvidas quanto nas emergentes, precisaremos de muita energia”, disse. “Grande parte do crescimento em energia nos últimos 10 anos veio de energias renováveis, e é difícil acreditar que isso não vai continuar”, completou.
Em tempo: As projeções de pico da demanda por petróleo até 2030 estão fazendo da Agência Internacional de Energia (IEA) a mais nova “inimiga pública no 1” do negacionista Donald Trump. Há uma razão para isso, explica o New York Times: os EUA são o maior produtor mundial de petróleo e gás, e Trump está ansioso para extrair mais e vender mais. Só que a desaceleração da demanda atrapalha essa ambição, principalmente porque os relatórios da agência são amplamente utilizados por países e empresas para planejar o futuro. A IEA, porém, não é uma exceção - uma comparação feita pelo Resources for the Future mostrou que projeções de outras organizações, como BloombergNEF, BP e Equinor, também preveem o pico da demanda por petróleo por volta de 2030.



