O Brasil é o 5º maior emissor de metano (CH4) do mundo, atrás de China, Estados Unidos, Índia e Rússia. O dado é do estudo “Bases para proposta de 2ª NDC para o Brasil (2030-2035) – Adendo: emissões de metano”, lançado pelo Observatório do Clima nesta 4ª feira (27/8). Segundo a análise, as emissões brasileiras de metano aumentaram 6% entre 2020 e 2023, quando o Brasil atingiu o 2º maior volume de emissão de CH4 à atmosfera – 21,1 milhões de toneladas (Mt).
O crescimento recente das emissões de metano aconteceu depois do Brasil aderir ao Compromisso Global contra o Metano, firmado em 2021 na COP26 de Glasgow (Escócia), pelo qual mais de 150 países assumiram o compromisso de reduzir em 30% as emissões globais desse gás até 2030 sobre os níveis de 2020. No entanto, assim como demais grandes emissores, o Brasil não fez quase nada para atingir a meta. Pior: aumentou suas emissões, que têm na agropecuária sua principal fonte.
A maior parte das emissões de metano do Brasil vieram em 2023 da fermentação entérica (o “arroto do boi”). Foram 14,5 milhões de toneladas (MtCH4), o equivalente a 406 MtCO2e – mais do que as emissões de todos os gases de efeito estufa da Itália no mesmo ano, compara o OC.
O setor agropecuário é o líder histórico do ranking das emissões brasileiras de metano. Em 2023, respondeu por 75,6% do total, com 15,7 MtCH4, sendo 98% originadas da atividade pecuária – o Brasil abriga o 2º maior rebanho bovino do mundo – há mais boi do que gente no território brasileiro – e lidera as exportações de carne.
O segundo colocado no ranking, bem abaixo da pecuária, é o manejo de resíduos: o despejo de dejetos orgânicos em lixões e aterros sanitários provocou a emissão de 3,1 MtCH4 em 2023. Em seguida, vêm a mudança de uso da terra e florestas, com emissões de 1,33 MtCH4 – a maior parte relacionada às queimadas; o setor energético (0,55 MtCH4); e os processos industriais e o uso de produtos (0,02 MtCH4). No setor energético as emissões vêm principalmente do uso precário de lenha em residências (mais da metade das emissões de CH4 em energia) e as emissões fugitivas da cadeia de petróleo e gás, que vêm de vazamentos, “flares” e outros escapes nos processos de produção e refino.
Os números reforçam a necessidade de resposta rápida e coordenada na mitigação das emissões brasileiras de metano. Limitá-las é importante para o controle do aumento da temperatura média do planeta, já que com sua redução pode-se obter resultados mais rápidos se comparados à redução de CO2, por conta do metano ter um poder-estufa 28 vezes maior que o do dióxido de carbono, embora sua permanência na atmosfera seja bem menor. Reduzir o metano em 45% é crucial para diminuirmos o aquecimento global em 0,3oC até 2040.
“O OC tem mostrado tecnicamente que, para liderar a ambição climática mundial, o Brasil precisa focar em soluções de regeneração florestal, recuperação de solo e adoção de energias renováveis. Ao mesmo tempo, terá de reduzir as emissões de metano, lidando com a magnitude da atividade pecuária, a precariedade da gestão de resíduos sólidos e a pobreza energética”, afirma David Tsai, coordenador do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG) do Observatório do Clima.
A apuração feita pelo SEEG mostrou um crescimento das emissões de metano no país desde 2015. A comparação entre os níveis de 2005 e 2020 revela aumento de 2,1%, (de 19,6 Mt para 20 Mt). Já a variação entre 2005 e 2023 foi de 7,2%.
O Globo, Valor, g1, Pará Terra Boa e Reuters repercutiram a análise.



