
Quase meio milhão de pessoas foram desabrigadas pelas enchentes no leste do Paquistão. O país vive uma temporada de monções devastadora: desde 26 de junho, 835 pessoas morreram, sendo 195 somente na província de Punjab. E autoridades paquistanesas creditam à vizinha Índia a culpa pela tragédia.
Mais de 1.400 vilas em Punjab, no leste paquistanês, foram inundadas após três grandes rios (Sutlej, Chenab e Ravi) transbordarem devido às fortes chuvas e à liberação de águas de represas em transbordamento na Índia, informam Guardian e Reuters. As inundações ameaçam difundir algumas doenças. A ministra-chefe da província, Maryam Nawaz Sharif, declarou estado de emergência nos hospitais de Punjab devido ao medo de que cólera e hepatite pudessem se espalhar e ao aumento do risco de envenenamento por picadas de cobra.
O governo regional do Punjab iniciou a abertura controlada de importantes diques de contenção de enchentes para desviar as águas dos três rios, segundo a Al-Jazeera. Os cursos d’água transbordaram simultaneamente, pela primeira vez na história do país, de acordo com a mídia local.
As enchentes atuais agravam as tensões históricas entre Paquistão e Índia, segundo a Reuters. Quando as águas atingiram sua aldeia, Shama sabia o que fazer: reunir seus quatro filhos e se preparar para partir. Foi a segunda fuga neste ano; a primeira, quando precisou abandonar sua casa durante os combates transfronteiriços entre os dois países em maio, relata a Reuters.
“Quantas vezes precisamos evacuar agora?”, perguntou a mãe de 30 anos, enquanto o marido transportava as 10 vacas para terras mais altas em um barco. “Perdemos muita coisa durante a guerra, como dias de escola para as crianças, e agora a água está nos forçando a sair de novo.”
Índia e Paquistão estabeleceram há 60 anos o Tratado das Águas do Indo. No entanto, o acordo foi suspenso pela Índia no início deste ano após o assassinato de 26 pessoas por militantes que Nova Déli alegou serem apoiados por Islamabad, o que o Paquistão nega.
O ataque desencadeou batalhas transfronteiriças curtas, mas intensas, entre os vizinhos, expulsando moradores como Shama de suas casas. Então veio a monção e os rios começaram a transbordar. E outra saída apressada precisou ser feita.
Autoridades paquistanesas acusam a Índia de agravar a crise das monções por conta da decisão sobre o tratado. Já a Índia nega ter inundado o Paquistão deliberadamente. Atribuiu a culpa às intensas chuvas de monções e afirmou ter emitido vários alertas de inundação.
No meio da disputa política, agricultores paquistaneses lamentam a destruição de seus meios de subsistência pelo dilúvio. “Treze dos meus 15 acres desapareceram”, disse Muhammad Amjad, produtor de arroz e hortaliças. “Mulheres e crianças foram evacuadas principalmente. Os homens ficaram para trás para proteger o que sobrou”, completou.
France24 e AP também repercutiram as inundações no Paquistão.
Em tempo: Em Bangladesh, país vizinho ao Paquistão e à Índia, as altas temperaturas e a umidade persistente estão causando estragos na saúde da população e em suas finanças, informa o Climate Home. Enquanto o país enfrenta ondas de calor sem precedentes, médicos, meteorologistas e moradores alertam para o crescente impacto em suas vidas e meios de subsistência. Além de desidratação, diarreia e insolação, o calor excessivo também agrava a propagação de doenças virais como gripe e pneumonia. O calor extremo faz as famílias gastarem mais com médicos, mas tem ainda um efeito cascata nos custos de moradia, transporte e até mesmo educação, já que mais água e energia são usadas para resfriar edifícios e veículos.



