Projeto de potássio na Amazônia atiça conflito entre indígenas e fazendeiros

Apesar de ainda não ter extraído uma grama sequer do minério, pressão já causou danos profundos na região.
2 de setembro de 2025
potássio na amazônia
Fernando Frazão/Agência Brasil

Há 16 anos, a empresa Potássio do Brasil pressiona pela exploração de uma das maiores reservas de potássio do país, localizada nas margens do rio Madeira. O empreendimento já tem aval ambiental do governo do Amazonas, mas ainda não iniciou por falta de verba. A projeção de exploração dividiu indígenas Muras, etnia numerosa na região de Autazes, e ganhou apoio de fazendeiros, que querem impedir novas demarcações de terras.

A Potássio do Brasil, de origem canadense, prospecta minas no Lago Soares e planeja um porto na Vila de Urucurituba. Ambos locais estão em processo de análise pela FUNAI com possibilidade de demarcação, ou seja, se a homologação sair, o projeto de potássio corre o risco de não acontecer.

A pressão feita pela empresa tem convencido indígenas moradores da Vila a repudiar a demarcação, dividindo a comunidade. A Folha visitou a região e apurou que a Potássio do Brasil também tem buscado apoio de indígenas Mura mais distantes do Lago Soares, ocupado pela etnia há mais de 100 anos.

A pressão pela aprovação de mineração em Terras Indígenas sofre pressão não só local, mas também de Brasília e do exterior. Recentemente, a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado aprovou dois projetos de lei que abrem Territórios Indígenas para atividades como mineração, garimpo e exploração de petróleo e gás. O PL 6.050/2023 legaliza a exploração de recursos naturais em territórios indígenas e permite que comunidades firmem parcerias com empresas, contam BNC e Brasil 247.

Já o PL 1.331/2022 autoriza a pesquisa e a lavra garimpeira em Terras Indígenas por terceiros, mediante consentimento das comunidades. Segundo Renata Vieira, advogada do Instituto Socioambiental (ISA), as propostas acabam submetendo os Povos Indígenas a regras impostas externamente, alinhadas sobretudo a interesses empresariais e políticos, sob o argumento de promover autonomia e desenvolvimento econômico.

O tarifaço do presidente norte-americano Donald Trump também gera pressão sobre a área. Trump ameaçou punir países que tenham negócios com a Rússia, como o Brasil que importa de lá cerca de 30% dos fertilizantes que precisa. Com o agronegócio temendo novas sanções, a movimentação em Brasília e em Autazes deve resultar no agravamento dos conflitos regionais.

  • Em tempo 1: Um levantamento do Greenpeace Brasil mostra que o garimpo ilegal em Terras Indígenas recuou 95% em 2025. A TI Yanomami, em Roraima, registrou a maior queda, seguida da TI Munduruku, no Pará. Por outro lado, o garimpo cresceu quase 2% na TI Kayapó (PA). A TI Sararé (Mato Grosso) segue com 4% do território ocupado pela atividade ilegal. Miriam Leitão deu mais informações n’O Globo.

  • Em tempo 2: No Vale do Jequitinhonha, indígenas Pankararu/Pataxó acusam a empresa Sigma Mineração de danos ambientais. Moradores relatam sofrer com explosões constantes, poluição atmosférica intensa e racionamento de água; eles pedem R$ 36 milhões de indenização por danos morais e materiais. Mônica Bergamo contou o caso na Folha.

Continue lendo

Assine Nossa Newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Glossário

Este Glossário Climático foi elaborado para “traduzir” os principais jargões, siglas e termos científicos envolvendo a ciência climática e as questões correlacionadas com as mudanças do clima. O PDF está disponível para download aqui,
1 Aulas — 1h Total
Iniciar