
Há 16 anos, a empresa Potássio do Brasil pressiona pela exploração de uma das maiores reservas de potássio do país, localizada nas margens do rio Madeira. O empreendimento já tem aval ambiental do governo do Amazonas, mas ainda não iniciou por falta de verba. A projeção de exploração dividiu indígenas Muras, etnia numerosa na região de Autazes, e ganhou apoio de fazendeiros, que querem impedir novas demarcações de terras.
A Potássio do Brasil, de origem canadense, prospecta minas no Lago Soares e planeja um porto na Vila de Urucurituba. Ambos locais estão em processo de análise pela FUNAI com possibilidade de demarcação, ou seja, se a homologação sair, o projeto de potássio corre o risco de não acontecer.
A pressão feita pela empresa tem convencido indígenas moradores da Vila a repudiar a demarcação, dividindo a comunidade. A Folha visitou a região e apurou que a Potássio do Brasil também tem buscado apoio de indígenas Mura mais distantes do Lago Soares, ocupado pela etnia há mais de 100 anos.
A pressão pela aprovação de mineração em Terras Indígenas sofre pressão não só local, mas também de Brasília e do exterior. Recentemente, a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado aprovou dois projetos de lei que abrem Territórios Indígenas para atividades como mineração, garimpo e exploração de petróleo e gás. O PL 6.050/2023 legaliza a exploração de recursos naturais em territórios indígenas e permite que comunidades firmem parcerias com empresas, contam BNC e Brasil 247.
Já o PL 1.331/2022 autoriza a pesquisa e a lavra garimpeira em Terras Indígenas por terceiros, mediante consentimento das comunidades. Segundo Renata Vieira, advogada do Instituto Socioambiental (ISA), as propostas acabam submetendo os Povos Indígenas a regras impostas externamente, alinhadas sobretudo a interesses empresariais e políticos, sob o argumento de promover autonomia e desenvolvimento econômico.
O tarifaço do presidente norte-americano Donald Trump também gera pressão sobre a área. Trump ameaçou punir países que tenham negócios com a Rússia, como o Brasil que importa de lá cerca de 30% dos fertilizantes que precisa. Com o agronegócio temendo novas sanções, a movimentação em Brasília e em Autazes deve resultar no agravamento dos conflitos regionais.
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Em tempo 1: Um levantamento do Greenpeace Brasil mostra que o garimpo ilegal em Terras Indígenas recuou 95% em 2025. A TI Yanomami, em Roraima, registrou a maior queda, seguida da TI Munduruku, no Pará. Por outro lado, o garimpo cresceu quase 2% na TI Kayapó (PA). A TI Sararé (Mato Grosso) segue com 4% do território ocupado pela atividade ilegal. Miriam Leitão deu mais informações n’O Globo.
Em tempo 2: No Vale do Jequitinhonha, indígenas Pankararu/Pataxó acusam a empresa Sigma Mineração de danos ambientais. Moradores relatam sofrer com explosões constantes, poluição atmosférica intensa e racionamento de água; eles pedem R$ 36 milhões de indenização por danos morais e materiais. Mônica Bergamo contou o caso na Folha.



