
A urgência da transição energética tem motivado uma corrida por minerais críticos, essenciais para a descarbonização da economia e a expansão de fontes renováveis. Mas um relatório da Coalizão Florestas & Finanças, com apoio de outras organizações da sociedade civil, alerta que essa busca está sendo perigosamente minada pelo financiamento extrativista.
Intitulado “Mineração e Dinheiro: Falhas Financeiras na Transição Energética”, o documento revela que, entre 2016 e 2024, grandes bancos injetaram US$ 493 bilhões em empréstimos e subscrição de títulos para empresas de mineração de metais de transição, enquanto investidores detinham US$ 289 bilhões em ações e títulos até junho de 2025. Fluxos financeiros que apoiaram companhias ligadas a desmatamento, grilagem, contaminação e violações de direitos trabalhistas, destaca o Observatório da Mineração.
O estudo mapeou 130 empresas de mineração que produzem dez minerais classificados como de transição e os bancos e investidores que financiam essas companhias, explica a Repórter Brasil. E identifica JPMorgan Chase, Bank of America, Citi e BNP Paribas como os maiores financiadores de operações de mineração destrutivas. Do lado dos investimentos, BlackRock, Vanguard e Capital Group detinham bilhões em títulos e ações de gigantes da mineração como Glencore, Vale e BHP.
A Vale está entre as principais companhias listadas no estudo, tanto pelo volume de recursos quanto pelo histórico de violações. Entre as empresas mapeadas, a Vale foi a 5ª mais financiada, recebendo US$ 23,3 bilhões de bancos. Desse total, US$ 15,8 bilhões foram destinados às operações no Brasil.
As instituições financiadoras têm políticas ambientais, sociais e de governança (ESG) “perigosamente fracas” relacionadas à mineração de minerais críticos, diz o relatório. E a maioria delas não possui nenhuma salvaguarda significativa para comunidades e ecossistemas, frisa o Guardian.
Com base em estudos de caso da Indonésia, Brasil, República Democrática do Congo e Austrália, o relatório apresenta o impacto humano e ambiental da expansão desenfreada dessa mineração. Quase 70% das minas de minerais de transição se sobrepõem a Terras Indígenas ou Comunidades Tradicionais, e 71% estão localizadas em regiões de alta biodiversidade já sob estresse climático e social.
“Este deve ser um alerta para todos os formuladores de políticas, banqueiros e investidores: não se pode construir um futuro energético justo atropelando direitos, deslocando comunidades e destruindo a biodiversidade”, disse Stephanie Dowlen, campaigner da Rainforest Action Network, membro da Coalizão Florestas & Finanças. “Uma transição justa precisa de finanças que não recompensem mais o mau comportamento e a impunidade corporativa.”
Climate Home e BankTrack também repercutiram o estudo.



