
Os eventos extremos que provocaram incêndios monumentais na Espanha e em Portugal no mês passado tornaram-se cerca de 40 vezes mais prováveis devido às mudanças climáticas. As chamas, que queimaram 500.000 hectares da Península Ibérica em poucas semanas, também foram 30% mais intensas do que seriam sem o aquecimento global, segundo um estudo de atribuição do World Weather Attribution (WWA), painel internacional de cientistas que investiga o papel das mudanças climáticas em eventos extremos.
De acordo com a análise, as condições críticas de temperatura, umidade e vento que favoreceram o fogo são esperadas uma vez a cada 15 anos. Sem a crise climática provocada pela atividade humana, a frequência seria de menos de uma vez a cada 500 anos, destaca a Folha.
Os incêndios florestais eclodiram no final de julho e se espalharam com extrema rapidez, impulsionados por ventos fortes e condições excepcionalmente quentes e secas, provocadas por uma onda de calor prolongada, explica o site Earth. Na Espanha, a onda de calor durou 16 dias, elevando as temperaturas em 4,6°C acima da média histórica de longo prazo. Desde 1975, apenas seis das 77 ondas de calor apresentaram uma anomalia de 4°C ou mais, e cinco delas ocorreram desde 2019.
“A magnitude desses incêndios tem sido impressionante”, disse ao Guardian Clair Barnes, climatologista do Imperial College London e coautora do estudo. “Condições mais quentes, secas e inflamáveis estão se tornando mais severas com as mudanças climáticas e estão dando origem a incêndios de intensidade sem precedentes”, reforçou.
Para avaliar como as mudanças do clima afetam as condições que ampliam os incêndios florestais, os pesquisadores do WWA examinaram as mudanças ao longo do tempo no Índice de Severidade Diário. O índice considera temperatura, umidade, velocidade do vento e precipitação para estimar a intensidade potencial de um incêndio florestal e quão difícil será extingui-lo, detalha o Inside Climate News.
No fim de agosto, outro estudo do WWA analisou dados de Turquia, Grécia e Chipre, que desde junho combatem incêndios em temperaturas que alcançam os 45°C. O levantamento constatou que, no clima atual com a temperatura média 1,3°C acima da registrada nos níveis pré-industriais, as chamas incontroláveis que atingiram esses países podem ocorrer uma vez a cada 20 anos. Sem a alteração, tais eventos ocorreriam uma vez a cada 100 anos.
O aumento de 0,2°C na temperatura média da superfície global desde o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), em 2021, demonstra que o aquecimento causado pelo homem está se acelerando, reforçou Friederike Otto, pesquisadora líder do WWA. Isso é mais visível no crescente número de eventos climáticos extremos que são o efeito final das mudanças climáticas. “E quanto mais queimamos combustíveis fósseis, mais grave é a situação”, ressaltou a cientista.Deutsche Welle, Euronews, Al-Jazeera, POLITICO e Bloomberg também repercutiram o novo estudo da WWA.



