
A cidade de Belém corre contra o tempo para concluir as obras para a COP30, que começará daqui a exatos dois meses. Os projetos de adequação da capital paraense para o evento também visam deixar um legado de infraestrutura para a população local, com novas instalações públicas e intervenções importantes de saneamento básico, um problema crônico da cidade.
Ainda é cedo para avaliar se esses planos realmente darão certo, mas é possível vislumbrar algumas possibilidades a partir das próprias obras em andamento. O Globo ouviu especialistas sobre os impactos potenciais positivos e negativos desses empreendimentos.
A avaliação é mista. Por um lado, há um entusiasmo, especialmente no que diz respeito à construção do Parque da Cidade, onde ficarão as zonas azul e verde da COP. “O Parque da Cidade é um ganho não só para Belém, mas para a região metropolitana”, observou a urbanista Roberta Menezes, da Universidade Federal do Pará (UFPA). “Belém é uma cidade muito carente de espaços de lazer”.
Por outro, persiste uma incerteza sobre a efetividade das obras de infraestrutura, além de um desconforto com a forma como elas estão acontecendo na periferia. Para a COP30, Belém também está trabalhando na implantação de dois parques lineares, nos canais da Nova Doca e do Tamandaré. As duas obras vêm sendo bastante criticadas por não servirem efetivamente para facilitar a preservação dos cursos d’água.
José Júlio Lima, urbanista da UFPA, lembrou que a obra da Nova Doca, ao deslocar o fluxo do esgoto da região sem tratá-lo, acabou privilegiando uma área em processo de gentrificação em detrimento de uma comunidade carente. “A destinação final do esgoto da área da Doca para a comunidade da Vila da Barca é uma vergonha”, lamentou.
O andamento das obras também é uma preocupação. A despeito das garantias dos governos federal e estadual de que tudo estará pronto até novembro, o cenário é particularmente delicado no aeroporto internacional da cidade. Segundo a concessionária Norte da Amazônia Airports (NOA), estão sendo investidos cerca de R$ 450 milhões na modernização do aeródromo.
Outra parte do legado é o incentivo que a COP30 pode dar para a mobilização da sociedade civil e da comunidade científica brasileira em torno da Amazônia. Em entrevista ao Valor, o reitor da UFPA, Gilmar Pereira da Silva, a realização da COP no meio da maior floresta tropical do planeta pode ser decisiva para a proteção do bioma.
“Não tenho nenhuma ilusão de que iremos resolver os problemas da Humanidade a partir da COP. Mas eu tenho uma expectativa importante de que sairemos dessa COP30 com muito mais acúmulo de conhecimentos coletivos e sabedoria sobre a Amazônia e os impactos que a floresta pode ter de forma positiva ou negativa na vida das pessoas”, disse.
Em tempo: Em entrevista à Rede Amazônica, o presidente Lula minimizou o problema dos altos preços de hospedagem para a COP30 em Belém. Segundo ele, o mercado pode se regular “para mais ou para menos”, a depender da disposição dos participantes em pagar ou não esses valores mais altos. O presidente também reforçou que a COP em Belém será diferente das demais exatamente por acontecer dentro da Amazônia, de uma região vulnerável à crise climática. “Não é um desfile de COP, em que as pessoas vão querer comprar coisa, não. Lá, a gente quer mostrar pra vocês a Amazônia”, afirmou. O Globo e Metrópoles repercutiram a fala.



