
O governo australiano divulgou na última 5ª feira (18/9) sua nova meta climática, visando redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) de 62% a 70% até 2035, em relação aos níveis de 2005. A nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) é vista como uma das últimas cartadas da Austrália para assegurar a realização da COP31 no país, no ano que vem. No entanto, as novas metas foram criticadas por especialistas e ambientalistas, que avaliam que seguem aquém do necessário para manter o limite de aquecimento de 1,5°C do Acordo de Paris.
A Austrália é um dos maiores emissores de GEE do mundo e tem forte dependência de combustíveis fósseis. Apesar do novo governo de centro-esquerda ter prometido investir bilhões de dólares em ações climáticas, o país não se comprometeu com a eliminação gradual de seu parque de usinas termoelétricas a carvão – a forma mais poluente de geração energética.
A meta atual está abaixo da faixa de 65% a 75% modelada pelo Departamento do Tesouro e sugerida pela Autoridade de Mudanças Climáticas, órgão independente que aconselha o governo sobre o tema, noticiou a Folha.
“O novo plano climático do governo Albanese é uma afronta às comunidades em todo o Pacífico e Austrália que enfrentam os impactos crescentes das perigosas mudanças climáticas”, disse Shiva Gounden, do Greenpeace Austrália Pacífico.
Especialistas da Climate Analytics ouvidos pela ABC Australia afirmam que, para estar em conformidade com o Acordo de Paris, a Austrália deveria ter uma meta de redução das emissões de 81%. Mesmo assim, para eles, um objetivo de mitigação abaixo de 70% seria um “fracasso político” para o governo do país.
Thomas Houlie, analista de políticas climáticas e energéticas da Climate Analytics, comparou com a meta do Reino Unido, de 81% de redução de suas emissões até 2035 em relação aos níveis de 1990. “Isso mostra que há países desenvolvidos capazes de propor metas alinhadas ao padrão 1,5oC, mesmo sem ter a economia próspera da Austrália, nem seu potencial renovável. Isso mostra que é possível propor uma meta realmente ambiciosa para a Austrália”, ressaltou.
“Para que a Austrália seja uma coanfitriã digna da COP31, precisa demonstrar liderança genuína. Neste momento, ela está falhando. Quatro meses depois de iniciar seu segundo mandato, o governo parece disposto a colocar os lucros das empresas de combustíveis fósseis à frente da segurança das comunidades e dos territórios”, lamentou o Greenpeace Australia.
BBC, Guardian e Financial Times também abordaram a meta climática do governo australiano.
Em tempo: Ao invés da tão esperada nova NDC, a União Europeia deve chegar à Assembleia Geral da ONU com uma “declaração de intenções” de corte de emissões entre 66,25% e 72,5% em comparação a 1990. A Central da COP, n’O Globo, ressalta que uma meta na casa dos 66% não representaria nenhum aumento de ambição, mas sim mera continuidade da meta atual. Se a UE esperava assumir algum protagonismo na política climática global depois da nova saída dos EUA do Acordo de Paris, o impasse em torno de uma nova meta tão ruim indica que os países europeus não conseguirão aproveitar essa oportunidade.



