
Pescadores artesanais da comunidade de Jubim, na Ilha do Marajó, realizaram um protesto no domingo (21/9) contra a exploração de petróleo e gás na Foz do Amazonas. A ação ocorre sob a expectativa de obtenção pela Petrobras da licença para a perfuração de um poço de exploração de petróleo no bloco FZA-M-59, na bacia da Foz do Amazonas.
A ação reuniu 16 embarcações em uma linha simbólica no rio, exibindo uma faixa com a mensagem: “COP30: Amazônia de pé, petróleo no chão”, informam g1, CBN, AM Post, Notícia Marajó, Click Petróleo e Gás e AC24horas. Faltam menos de dois meses para a conferência do clima em Belém, que fica praticamente em frente a Marajó, do outro lado do Rio Amazonas.
Os pescadores afirmam que a abertura de uma nova fronteira de exploração de petróleo na Foz do Amazonas ameaça diretamente os ecossistemas marinhos e a segurança alimentar da comunidade, que depende da pesca para sobreviver. Um vazamento de petróleo ou a presença da indústria petrolífera pode comprometer a qualidade da água, afastar os peixes e destruir modos de vida tradicionais, reforçam.
“A comunidade de Jubim vive um momento muito preocupante. Quando os navios de grande porte passam pelo rio já levam nossas redes. Se o petróleo avançar, a vida dos pescadores artesanais do Marajó ficará ainda mais ameaçada”, disse o pescador e pesquisador da UFPA Nelson Bastos.
O protesto dos pescadores de Marajó integra a campanha internacional “Draw the Line / Delimite”, que reúne mais de 600 mobilizações em 90 países às vésperas da Assembleia Geral da ONU, em Nova York. A mobilização busca pressionar por medidas reais de enfrentamento à crise climática e marcar oposição a novos projetos de combustíveis fósseis.
O impacto da exploração de petróleo na Foz do Amazonas vai além do poço da Petrobras no bloco 59; ele começa na mentalidade que cria a oposição entre “civilização” e “barbárie ecológica” e no legado que está sendo criado. A análise é de Celso Sánchez, biólogo, professor da UNIRIO e coordenador do Grupo de Estudos em Educação Ambiental Desde El Sur GEASur, e Alberto Calil Elias Junior, também professor da UNIRIO e pesquisador do Observatório de Educação Ambiental de Base Comunitária do Rio de Janeiro.
“Que mundo estamos querendo construir e deixar para nossos filhos e netos e para nós mesmos? O impacto é também sobre onde vão se instalar as empresas que vão receber o petróleo e queimá-lo, onde, quando e como vão viver os que viverão para furar a Terra? Não queremos falar só dos manguezais e dos biomas e ecossistemas recém-descobertos como os corais na Foz do Amazonas e as verdadeiras bibliotecas de vida que representam, mas entender o que vamos deixar de lição para os que nos veem optar por seguir matando a Terra”, frisam os especialistas n’(o)eco.
Em tempo: A Petrobras foi convidada para o lançamento do relatório “A Petrobras de que precisamos”, do Observatório do Clima, com propostas para a empresa se tornar uma empresa de energia e liderar uma transição energética justa de verdade. A empresa, porém, não respondeu nem apareceu. Mas seus gastos em greenwashing continuam a toda, a despeito da ausência quase total de investimentos em transição energética. A empresa tem buscado ativamente influenciadores da área ambiental para tentar melhorar a sua imagem junto ao público que se preocupa com os efeitos dos combustíveis fósseis na mudança climática, explica Juliana Aguilera, do ClimaInfo, na Agência Pública. Desde o início de julho, a equipe de influenciadores da campanha publicitária da petrolífera sobre transição energética justa acumulou mais de 200 milhões de visualizações em suas postagens sobre a Petrobras somente no Instagram, além de quase 3 milhões de curtidas. Os perfis de influenciadores estão diretamente ligados ao público que a Petrobras tenta sensibilizar. Segundo uma pesquisa do Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube), com participantes de 15 a 28 anos, a maioria dos jovens prefere se informar em plataformas virtuais, sendo 38,30% optantes pelas redes sociais. Já o Instagram foi a principal rede social usada pelos brasileiros para se informar em 2024, de acordo com o relatório do Aláfia Lab de 2025.



