
Em seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas ontem (23/9), o presidente Lula cobrou as novas metas climáticas (NDCs) dos países para que a COP30 entregue implementação, e não mais promessas (leia mais aqui). China e Índia devem apresentar suas NDCs até o fim deste mês – segundo prazo dado pela ONU para o documento –, mas um outro grande emissor, a União Europeia, deixará a comunidade internacional no vácuo.
Quatro negociadores disseram à Folha que o bloco europeu não fará a entrega de sua NDC nesta semana, em meio a uma tensão que se agravou nos últimos dias, depois da Dinamarca, presidente temporária do bloco, não conseguir obter um consenso dos países-membros. Assim, a ideia da UE é apresentar uma “carta de intenções” à ONU – documento que também não está plenamente garantido, de acordo com a Folha.
A vice-presidente executiva para a transição ecológica, justa e competitiva da Comissão Europeia, Teresa Ribera, disse à Reuters que o bloco planeja definir sua nova meta climática nas próximas semanas. Participando da Semana do Clima de Nova York, a executiva acrescentou que qualquer crença de que a ação climática possa ser adiada equivale a “suicídio”.
Teresa disse que a UE pretende manter seus planos climáticos porque faz sentido social e econômico, mesmo com os Estados Unidos recuando no combate às mudanças climáticas – e com Donald Trump ameaçando a Europa com tarifaços caso não siga seu (mau) exemplo. “A discussão é como combinar as medidas de competitividade para chegar a um caminho consistente para a descarbonização total, que é a meta até 2050”, explicou.
Mas a definição da NDC não é o único imbróglio. O bloco adiará novamente e por mais um ano a entrada em vigor de sua lei antidesmatamento (EUDR, sigla em Inglês), disse à Reuters a comissária do Meio Ambiente do bloco, Jessika Roswall. A UE já havia adiado a legislação por um ano, o que acabou com a oposição de parceiros comerciais como Brasil, Indonésia e EUA, os quais dizem que cumprir as regras seria custoso e prejudicaria suas exportações para o continente.
Mesmo com os recuos da UE, o comissário do clima do bloco, Wopke Hoekstra, advertiu que o mundo caminha para sofrer danos cada vez mais severos por causa do clima, à medida que atinge rapidamente o limite de 1,5°C do Acordo de Paris. A fala foi classificada pela Euractiv como “incomumente sombria”.
“A realidade é que a situação vai piorar antes de melhorar”, disse Hoekstra num evento paralelo na Semana do Clima de Nova York. “Estamos decifrando a fórmula de como lidar com este enorme, enorme problema. O impacto econômico, o impacto social e o impacto no nosso ecossistema, infelizmente, piorarão nos próximos anos. Por mais que tentemos redobrar esforços, o custo só vai aumentar”, alertou.
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Em tempo: Em entrevista ao Guardian, o chefe da Convenção da ONU sobre Clima (UNFCCC), Simon Stiell, reconheceu que muitos governos não conseguirão entregar suas metas climáticas até o fim de setembro. Ainda assim, segundo ele, as novas metas climáticas podem redefinir as economias dos países para colher as vantagens do crescimento de baixo carbono. “Estamos nos movendo na direção certa. Não suficientemente rápido, nem suficientemente profundamente, mas [o progresso] mostra que está funcionando. Precisamos encontrar todas as alavancas disponíveis para ver como podemos acelerar ainda mais esse processo”, disse.
Já a Folha repercutiu o discurso de Stiell na abertura da Semana do Clima de Nova York na última 2ª feira (22). O chefe da UNFCCC anunciou a criação de um grupo de especialistas independentes para avaliar e sugerir mudanças na Convenção, o que inclui as negociações da COP. Stiell também defendeu a aplicação de tecnologias de inteligência artificial no combate à crise climática, mas desde que usadas com energias renováveis.



