
Um levantamento realizado pela Articulação Nacional de Agroecologia mostrou que os efeitos da crise climática já estão sendo sentidos pelos produtores agroecológicos. Secas mais extensas, quebra do calendário de chuvas e temperaturas mais altas estão diminuindo a produção de alimentos no Brasil, pondo em risco a segurança alimentar e nutricional.
A pesquisa foi realizada entre abril e junho deste ano, com mais de 20 mil pessoas em 307 municípios, e envolveu agricultores familiares, Povos Indígenas, Quilombolas, ribeirinhos, camponeses, educadores e estudantes.
Para 66% dos entrevistados, os impactos das mudanças climáticas foram sentidos com clareza nos últimos dez anos – 73% relataram percepção no aumento da temperatura e 70% na alteração dos períodos de chuva. O desaparecimento de espécies vegetais nativas (36%), de animais nativos (30%), de variedades de vegetais agrícolas (19%) e o aumento de doenças em animais (12%) também foram evidenciados, detalham Folha e Agência Pública.
As mudanças climáticas também afetaram a saúde dos trabalhadores. Como o Nexo apontou, 34% relatam problemas cardíacos, diminuição da imunidade e adoecimento mental, além de piora da qualidade do ar (43%) – principalmente em regiões de concentração urbana e área de mineração. Para 44% dos entrevistados, o principal causador das mudanças climáticas nos territórios é o agronegócio.
De acordo com Um Só Planeta, a maior parte das 503 iniciativas agroecológicas é comandada por pessoas negras, cerca de 36%. Lopes destaca que, ao mesmo tempo que o grupo protagoniza as iniciativas, é também o mais vulnerável à insegurança alimentar em outros levantamentos.
Segundo Helena Lopes, pesquisadora da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e uma das coordenadoras do estudo, as entrevistas nos territórios evidenciaram a falta de políticas públicas de apoio. “Dessas 503 experiências da pesquisa, só 187 acessam políticas públicas. Então, o estudo traz para a gente a necessidade de apoio do Estado de forma qualificada para essas áreas de atuação que já estão desenvolvendo soluções para um problema global”, afirma.
“Estamos perdendo a capacidade de produzir alimentos saudáveis justamente por causa das mudanças climáticas. Mas essas são as soluções que deveríamos apoiar”, ressalta para o Brasil de Fato.



