Congresso prioriza máquinas e destina menos de 1% das emendas para proteção ambiental

Maquinário pesado é usado para desmatamento e abertura de estradas ilegais, aliando discurso desenvolvimentista a violações da lei.
14 de outubro de 2025
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Policía Federal/Divulgação

Os números do orçamento federal expõem a prioridade dos parlamentares brasileiros e ela, infelizmente, não envolve a proteção ambiental ou medidas para se conter a crise climática. Segundo a Folha, em uma década, menos de 1% do montante bilionário de emendas parlamentares foi destinado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA). No mesmo período, deputados e senadores destinaram verba para 1.648 máquinas pesadas na Amazônia. O recurso é pelo menos três vezes superior ao destinado à preservação da região.

O valor geral das emendas empregadas em todas as áreas no Orçamento foi de R$ 298 bilhões. Desse total, apenas 0,17% foi destinado à pasta do meio ambiente (R$ 520 milhões). A verba, porém, não priorizou a região amazônica. Enquanto R$ 11,6 milhões foram destinados para os estados da Amazônia Legal, R$ 147 milhões foram para o Sudeste – montante quase 13 vezes superior.

Já o valor das emendas para maquinário pesado ultrapassou R$ 900 milhões. Estão nesta lista tratores de esteira e de pneus, escavadeiras hidráulicas, retroescavadeiras, pás carregadeiras, motoniveladoras e rolo-compactadores. O levantamento não considera tratores agrícolas, caminhões e carros.

Em um dos casos observados pela Folha, o maquinário foi empregado para desmatamento e abertura de uma estrada ilegal entre Cruzeiro do Sul e Porto Walter, no Acre. O deputado federal Zezinho Barbary (PP-AC), prefeito de Porto Walter na época da abertura da estrada ilegal, protestou na tribuna da Câmara contra o fechamento da via por decisão judicial. Só não mencionou que a mesma foi aberta com dinheiro de emendas parlamentares, usadas para comprar as máquinas pesadas. Muito menos que as obras levaram a estrada a passar por propriedade rural da família dele e posteriormente invadir uma Terra Indígena já demarcada.

Ao responder à Folha, Barbary – que, já como deputado, também destinou recursos para a via – disse que “faria tudo de novo” e classificou as leis ambientais como “burocracias” que impedem “quem quer trabalhar por essas questões ambientais”. E que fez isso para atender “o clamor da população”.

Barbary também se defendeu de um áudio que enviou a aliados pedindo a contratação de indígenas para trabalhar na obra ilegal. Ele negou a cooptação e se justificou dizendo que o objetivo era mostrar que a comunidade indígena era favorável à estrada.

Como Vinicius Sassine observou na Folha, a negação da realidade é quase uma constante na Amazônia: “A complexidade das realidades amazônicas torna o terreno mais fértil para a ação de agentes políticos e econômicos em prol da negação do óbvio.”

A investigação faz parte da série de reportagens “Poder e Devastação”, que mostra como a atuação de representantes do poder público pode provocar a degradação do ambiente, principalmente por meio de emendas parlamentares.

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