Cúpula de Líderes: Lula propõe resgatar compromissos energéticos de Dubai

Presidente diz que Brasil criará fundo com recursos provenientes da exploração de combustíveis fósseis para financiar transição energética.
10 de novembro de 2025
cop30 cúpula de líderes
Ricardo Stuckert / PR

No 2º e último dia da Cúpula de Líderes da COP30, na 6ª feira (7/11), o presidente Lula disse que a Terra “não comporta mais o modelo de desenvolvimento baseado no uso intensivo de combustíveis fósseis que vigorou nos últimos 200 anos”. Ele defendeu o perdão de dívidas de países em desenvolvimento em troca de investimentos na transição energética, bem como a aplicação dos lucros da atividade petrolífera na transição – proposta que certamente tenta amenizar as críticas à exploração de petróleo e gás fóssil na Foz do Amazonas, defendida por Lula e aprovada poucos dias antes da conferência do clima.

Em discurso para autoridades de mais de 100 países, o presidente afirmou ser válido países em desenvolvimento direcionarem parte dos lucros com a exploração de petróleo para a transição energética, destaca a Folha. E ainda disse que o Brasil criará um fundo nessa linha, informam Infomoney e Jota.

O fundo proposto por Lula pegou de surpresa vários integrantes do governo, que disseram que a ideia de fundo é incipiente. Em conversas reservadas com o UOL, ministros contaram que não há nada concreto e que não houve uma organização prévia do governo antes da fala de Lula.

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que defende a exploração de petróleo no Brasil usando como justificativa que o dinheiro dos combustíveis fósseis é necessário para financiar a transição, desconversou, segundo a Sumaúma. “O que eu vi foi o presidente Lula falando da possibilidade da gente acelerar a transição energética global e a importância de serem criados mecanismos internacionais de fortalecimento dessa transição energética justa e inclusiva”, disse em entrevista coletiva.

Propostas de uso do dinheiro do petróleo para resolver problemas brasileiros não são novidade. A principal delas é o Fundo Social, formado por recursos governamentais com combustíveis fósseis do pré-sal. Mas o Fundo, que se destinava a investimentos em saúde e educação, foi basicamente para reduzir o déficit fiscal. Nada garantirá, portanto, que o novo fundo vai ser mesmo mantido com foco exclusivo em transição energética.

O Brasil não precisa explorar mais combustíveis fósseis na Amazônia para financiar a transição. Se o país apenas direcionar os subsídios dados à indústria petrolífera para fontes renováveis e combustíveis de baixo carbono, já terá recursos para um salto monumental, mostrou o estudo “Subsídios às Fontes Fósseis e Renováveis”, do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc).

Assim como defendeu o uso de recursos dos combustíveis fósseis para a transição, Lula lembrou os compromissos assumidos pelos países na COP28, em Dubai, em 2023. O presidente cobrou investimentos para triplicar a capacidade global das fontes renováveis e duplicar a eficiência energética até 2030; propôs incluir metas de cocção limpa e de acesso à eletricidade nas metas climáticas das nações; e instou os países a aderirem ao compromisso para quadruplicar o uso de combustíveis sustentáveis até 2035 e acelerar a descarbonização dos setores mais desafiadores.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, já vem dizendo que investir em renováveis é um bom negócio. A avaliação foi corroborada pelo ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore. Para Gore, o investimento em renováveis é a maior oportunidade econômica de todos os tempos, destaca a Folha.

“Em 2015, se você observar o investimento global em energia, 55% ia para fósseis, enquanto a energia limpa recebia 45%. No ano passado, essa razão inverteu completamente e as renováveis receberam 65%. Em poucas palavras, é a maior e melhor oportunidade de crescimento econômico em toda a história da Humanidade, em um momento em que precisamos criar mais empregos”, disse ele, em um evento em São Paulo no sábado (8/11).

Agência Gov, Poder 360, O Globo e Valor também repercutiram o discurso de Lula.

  • Em tempo 1: Dezenove países aderiram ao Consenso de Belém, que busca quadruplicar a produção de combustíveis sustentáveis no mundo até 2035, incluindo biocombustíveis. O acordo foi apresentado pelo presidente Lula na 6ª feira (7/11), na Cúpula de Líderes da COP30. A União Europeia ficou de fora e não se comprometeu com a iniciativa, informa a Folha.

  • Em tempo 2: A Cúpula de Líderes também lançou a Declaração de Belém sobre o Combate ao Racismo Ambiental. O documento busca promover o diálogo internacional sobre a interseção entre igualdade racial, clima e meio ambiente, reforçando a dimensão dos Direitos Humanos - em especial a Justiça Social - nas políticas ambientais e climáticas internacionais. O texto permanecerá aberto para endossos durante a COP30 e já recebeu apoio de países da América Latina, África, Ásia e Oceania.

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