Petróleo na Foz do Amazonas amedronta pescadores na costa do Pará

Comunidades descrevem manguezais como "segunda casa" e acusam Petrobras de não incluir sociedade civil nos debates.
21 de novembro de 2025
preservação de manguezais
Fernando Frazão/Agência Brasil

Na costa do Pará, pescadores enchergam os manguezais para além da atividade econômica. “O mangue é o nosso sustento. É a nossa segunda casa”, afirma Patricia Faria Ribeiro, ex-pescadora, cozinheira e liderança comunitária da Ilha dos Pescadores, no Marajó.

A licença do IBAMA para a Petrobras perfurar um poço para explorar petróleo no bloco FZA-M-59, na Foz do Amazonas, não tão distante dali, tem tirado o sono da população. Manguezais são ecossistemas complexos e extremamente vulneráveis a um vazamento de óleo. Diferente de uma praia, o impacto sobre o mangue seria quase irreversível. “Você não tira o petróleo [do manguezal]. Você forma uma camada impermeável sobre o sedimento lodoso do manguezal. Isso faz uma espécie de bloqueio da troca gasosa e reduz o oxigênio disponível nas raízes, que leva a uma asfixia radicular e à consequente morte das árvores”, explica o professor Marcus Fernandes, diretor do Laboratório de Ecologia de Manguezal da Universidade Federal do Pará (UFPA) no Terra.

O Brasil possui a segunda maior área de manguezal do mundo, 75% dela na Amazônia. São milhares de pessoas beneficiadas pelos serviços ecossistêmicos. Sem falar que os manguezais amazônicos são um dos maiores estoques de carbono azul (capturado pela vegetação de ambientes costeiros e marinhos) do planeta. 

“[Se o petróleo] encostar numa área de mangue, a gente já pensou: a gente perde tudo, porque a maior parte do berçário [de caranguejos] fica dentro da nossa área de mangue”, diz José Roberto Garcia, presidente da Associação de Usuários da Reserva Extrativista Mãe Grande de Curuçá (AUREMAG), no Pará.

Garcia lamenta que o debate econômico tenha prevalecido sobre o ambiental e o da própria sobrevivência dos moradores locais. A AUREMAG tenta dialogar com a Petrobras, mas diz que a empresa não inclui a sociedade civil nos debates, conta o UOL. Ainda assim, uma reunião deve acontecer em dezembro.

“A gente quer escutar e quer uma reunião aberta para o nosso público para vir discutir mesmo com a gente, como pescador, o sofrimento que a gente está [passando]”, afirma. A Petrobras respondeu que “não se aplica consulta prévia” em casos de perfuração, mas que tem procurado o diálogo.

O presidente do IBAMA, Rodrigo Agostinho, buscou amenizar a situação, afirmando que a autorização para o poço de exploração da Petrobras foi o processo ambiental “mais longo” do órgão. Ele defende um procedimento “muito exigente”, destaca o RFI.

“A população tem se mobilizado e é muito clara: não querem exploração de petróleo na Foz do Amazonas. Muitos classificam estes lugares como pobres porque não circula dinheiro. Mas circula alimento, e alimento de qualidade. As pessoas moram bem, vivem bem”, destacou Isabel Brito, moradora do Marajó.

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