Mato Grosso aciona STF contra demarcação de Terra Indígena anunciada na COP30

Governo federal formalizou em Belém três TIs no estado, mas gestão de Mauro Mendes evoca marco temporal para impedir criação de uma delas.
23 de novembro de 2025
mato grosso stf demarcação terra indígena cop30
Mayke Toscano/Secom

O governador do Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), é ávido defensor do agronegócio. Não à toa, sancionou uma lei em 2024 vedando a concessão de incentivos fiscais estaduais a empresas signatárias da Moratória da Soja.

Com tamanho apreço pelo “ogronegócio”, Mendes também é um inimigo dos Direitos Indígenas. Por isso, não surpreende que tenha acionado o Supremo Tribunal Federal (STF) contra a demarcação de uma Terra Indígena no Mato Grosso, anunciada nesta semana pelo governo federal após a Marcha Indígena em Belém, durante a COP30, informam g1 e Folha. Pior: usando como argumento a famigerada lei do marco temporal, aprovada pelo Congresso no fim de 2023, apesar de o STF já ter derrubado tal tese.

A ação de Mendes quer suspender o decreto que estabelece a TI Manoki, em Brasnorte – o pacote federal inclui outros dois territórios no estado. Ela afirma que a medida do governo Lula desrespeita artigo da legislação que veta a ampliação de territórios já demarcados, pedindo o aumento da Terra Indígena de 46 mil para 252 mil hectares.

As duas áreas, porém, estão em locais distintos. O território menor está demarcado como área para o Povo Irantxe (nome pelo qual os Manokis também ficaram conhecidos entre não indígenas). Os Manokis não reconhecem este como seu território original e reivindicaram a área de 252 mil hectares, que fica em uma outra região.

A Procuradoria-Geral do Mato Grosso também afirma que o decreto de Lula viola a Lei nº 14.701/2023, que estabeleceu o marco temporal. Isso porque não haveria “vestígios materiais, registros ou presença cultural que indiquem ocupação indígena na data constitucionalmente exigida” pela lei, 5 de outubro de 1988, quando a atual Constituição Federal foi promulgada.

O ataque aos novos Territórios Indígenas, porém, não se restringe ao governo de Mato Grosso. Na semana passada, a Comissão de Agricultura do Senado aprovou um requerimento cobrando explicações do ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, sobre a legalidade das recentes portarias e decretos que tratam da demarcação de TIs no país.

Além das três TIs no Mato Grosso, foi criada a Terra Kaxuyana-Tunayana, que fica no Pará e no Amazonas – as quatro na Amazônia Legal. O Ministério da Justiça ainda assinou portarias declaratórias de outras 10 TIs nas cinco regiões do Brasil, inclusive na Bahia e em Mato Grosso do Sul, onde a tensão e os conflitos com não indígenas vêm se acentuando. As declarações incluem também áreas em Amazonas, Pará, Pernambuco, Paraná e São Paulo, e contemplam os Povos Mura, Tupinambá, Pataxó, Guarani Kaiowá, Munduruku e Pankara.

Continue lendo

Assine Nossa Newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Justiça climática

Nesta sessão, você saberá mais sobre racismo ambiental, justiça climática e as correlações entre gênero e clima. Compreenderá também como esses temas são transversais a tudo o que é relacionado às mudanças climáticas.
2 Aulas — 1h Total
Iniciar