Emissões “ocultas” do petróleo do Brasil anulam quase 70% da queda do desmatamento

IEMA mostra que emissões do petróleo exportado pelo país e “queimado” em outros países comprometem ganhos com a queda no desmatamento.
24 de novembro de 2025
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Divulgação Petrobras / ABr

O governo brasileiro tem sido bem-sucedido em combater o desmatamento na Amazônia. Como o desmate é a principal causa de suas emissões de gases de efeito estufa, os números do Brasil estão em decréscimo, com queda histórica no ano passado, mostrou o Sistema de Estimativa de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) do Observatório do Clima.

Mas se o país faz seu dever de casa de um lado, de outro contribui para elevar as emissões de GEE em outras partes do mundo. Isso se deve à sua exportação de petróleo, que vem crescendo a passos largos. É o que o Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) chama de “emissões ocultas”, não contabilizadas no país, mas em outra nação. Emissões que comprometem seriamente o que se ganha com o combate ao desmate.

Segundo o IEMA, quase 70% de tudo o que o Brasil deixou de emitir ao reduzir as suas taxas de desmatamento em 2024 foi compensado pela exportação de petróleo do país, que cresce desde 2021, destaca a BBC Brasil. Afinal, apesar deste óleo cru não ser queimado aqui, será queimado em outros lugares. E como as emissões não estão presas em “caixinhas” sobre seus países, contribuem da mesma maneira para agravar as mudanças climáticas.

O instituto calculou o volume de carbono contido na porção de Floresta Amazônica que o Brasil deixou de desmatar em 2024 e comparou com a quantidade de carbono existente no petróleo que o país exportou no mesmo período. A queda no desmatamento na Amazônia em 2024 resultou em uma “economia” de aproximadamente 371 milhões de toneladas de CO2 que seriam jogadas na atmosfera. Já as “emissões ocultas” da exportação de petróleo brasileiro somaram 260 milhões de toneladas de CO2.

Pelas regras do Acordo de Paris, só podem entrar no inventário de emissões os GEE emitidos dentro de um território nacional. Mas o pesquisador do IEMA, Felipe Barcellos, pondera que, como parte do governo federal defende a abertura de novas frentes de exploração de petróleo, como na Foz do Amazonas, o papel do Brasil no conjunto das emissões globais passa a chamar cada vez mais atenção.

Físico especializado em mudanças climáticas e pesquisador do Instituto ClimaInfo, Shigueo Watanabe Jr. reforça que, “moralmente”, o Brasil poderia ser visto como responsável por essas emissões. Mas que, do ponto de vista oficial, não pode ser responsabilizado. “Não podemos forçar a China a reduzir as suas emissões. Se eles não comprarem [petróleo] do Brasil, vão comprar do Cazaquistão ou de qualquer outro país”, complementa.

O mapa do caminho para eliminar os combustíveis fósseis que a COP30 não incluiu em seu documento final, mas que vai ser trabalhado pela presidência brasileira e já tem apoio de mais de 80 países, pode trazer avanços nesse cenário. Afinal, sua meta será reduzir a queima de petróleo, gás e carvão em todo o mundo. Somente assim será possível frear a crise climática.

Click Petróleo e Gás, Terra e ANDA reproduziram a matéria da BBC Brasil.

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