“Todo mundo é lobista”: as várias frentes dos lobbies na COP30

Debate sobre presença de empresas de setores com altas emissões na COP30 esquentou ainda mais, pois muitas acessaram reuniões estratégicas.
24 de novembro de 2025
lobbies na cop30
Filipe Bispo / Greenpeace

“Numa COP, todo mundo é lobista. Até os governos estão aqui defendendo seus interesses.” A frase, que de forma falaciosa compara laranjas com bananas, saiu da boca de um lobista, claro, quando questionado sobre a presença ostensiva de empresas e entidades empresariais na COP30. Foi dita por Roberto Ardenghy, presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás (IBP), que tem a Petrobras como uma de suas associadas, entre outras companhias do setor petrolífero.

A COP30 teve intensa participação de corporações, muitas de setores com alto nível de emissões de gases de efeito estufa, como o de petróleo e gás. A alta cúpula da Petrobras não esteve em Belém – certamente para fugir de protestos contra a exploração do bloco FZA-M-59, na Foz do Amazonas. Mas uma análise da Kick Big Polluters Out (KBPO) mostrou que mais de 1,6 mil lobistas dos combustíveis fósseis conseguiram se credenciar para a conferência.

O debate sobre a presença dessas empresas na COP30 esquentou ainda mais porque muitas delas tiveram acesso a reuniões estratégicas, lembra a Folha. Estavam na lista de indicados pelo governo brasileiro para circulação em áreas de acesso restrito representantes do IBP, da Petrobras, da estadunidense ExxonMobil, da refinaria Acelen, da Braskem e da empresa de gás fóssil Eneva, além de membros de indústrias químicas e do agronegócio, como a gigante JBS.

Também havia nomes de outros segmentos econômicos, como mineração, energia e financeiro. “Essa dinâmica cria um ambiente desigual, no qual interesses privados organizados podem interferir nas decisões que deveriam priorizar o clima e as pessoas”, diz Renato Morgado, da Transparência Internacional – Brasil.

Estudioso das relações entre público e privado, o pesquisador e professor do Insper Sérgio Lazzarini está fazendo um levantamento para analisar como e por que o setor empresarial se movimenta na agenda ambiental e climática, e como isso pode influenciar a política pública. Lazzarini diz que já identificou algumas tendências.

Setores exportadores, como o agronegócio, estão preocupados em entender como podem ser boicotados e quanto isso vai custar, explica o pesquisador. Por sua vez, a mineração tem fala consistente em defesa do meio ambiente e da transição, mas as práticas ainda não confirmam o discurso, analisa ele, como mostram os desastres de Mariana e Brumadinho.

Para Lazzarini, o setor de petróleo e gás exige mais cautela. E surpreendendo zero pessoas, sua agenda é atrasar a transição energética. A mesma que a Petrobras diz liderar “de forma justa”. Essas empresas têm grande poder de lobby. A ausência do mapa do caminho para eliminar os combustíveis fósseis da “Declaração de Mutirão” de Belém é apenas mais uma prova disso.

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