
Diferente das duas COPs anteriores, a COP31 não deve trazer grandes resultados obrigatórios, mas espera-se que a Conferência traga avanços em diferentes frentes. Em 2024, era preciso definir metas de financiamento, em 2025 – 10 anos do Acordo de Paris – os países signatários tinham a obrigação de atualizar seus objetivos climáticos nacionais.
Em 2026, o assunto é diferente. O rascunho da agenda definitiva deve acontecer após as reuniões climáticas em Bonn, na Alemanha, em junho. Qualquer país ou grupo pode pedir que itens sejam colocados na pauta, explica a Folha.
Para a COP31, de copresidência da Austrália e Turquia, são esperadas propostas como o Acelerador de Implementação Global, parceria entre as presidências das COP30 e COP31. A proposta é que países recebam apoio na implementação de seus planos climáticos, com medidas de adaptação para manter o limite de 1,5°C vivo. Outro documento esperado é o relatório de avaliação dos planos nacionais de adaptação.
Espera-se que países também debatam mais sobre maneiras de remodelar fluxos financeiros de modo a aumentar os investimentos contra as mudanças climáticas e ampliar o financiamento público. A pressão sobre o tema dos combustíveis fósseis, muito marcada pela sociedade civil na COP30, também deve seguir em discussão na próxima Conferência.
Olhando para a consolidação de um movimento pelo fim dos fósseis, Claudio Angelo, coordenador de Política Internacional do Observatório do Clima, acredita que este foi um dos grandes êxitos que fizeram da COP30 um sucesso.
“As falas abriram uma avenida de oportunidade política. Ao longo da COP, o número de países favoráveis ao mapa do caminho saiu de 1 para 82. Belém entregou tudo o que podia num mundo em que a ação climática despencou das prioridades dos governos”, sentencia na Folha.
Angelo lembra que, apesar do assunto não ter entrado no texto final, ficou tão incontornável que o presidente da conferência, André Corrêa do Lago, decidiu criar o mapa do caminho para os fósseis. “Foi ovacionado ao anunciar a decisão, que não terá peso legal, mas que reflete uma realidade política que veio para ficar”, declara.
Olhando o outro lado da moeda, o climatologista Carlos Nobre reconhece avanços e pergunta: isso é suficiente? “A resposta, sustentada pela ciência, é não”, afirma também na Folha. Para Nobre, as ações são poucas e miram muito o futuro, enquanto o presente precisa de mais ação.
“O planeta enfrenta uma emergência climática que já se consolidou como uma das maiores ameaças à estabilidade ecológica e à segurança humana no século 21. A ciência é contundente: as emissões globais precisam começar a cair já em 2026. Não em 2030. Não ‘na próxima década'”, reforça.
O cientista destaca que, para evitar o colapso climático, o mundo precisa estar próximo de zero emissão fóssil até 2040 e, no máximo, até 2045. A receita para isso é “simples”: nenhum novo investimento em combustíveis fósseis; eliminação imediata dos subsídios ao setor; um plano global para expandir energias renováveis de forma justa e equitativa; financiamento robusto de países ricos para países em desenvolvimento.
Em tempo: Uma investigação do Intercept Brasil mostra que indígenas foram alvo de espionagem, vigilância e tentativa de suborno na COP30. Até um rastreador GPS foi encontrado no ônibus de uma das delegações de lideranças indígenas de povos do Baixo Tapajós. Casos foram comunicados com urgência, mas autoridades ainda não informaram sobre o resultado da investigação nem quem fez isso e por qual razão.
A descoberta do rastreador e de vigilância mostra que mesmo no maior palco climático do mundo, os que mais protegem as florestas seguem vulneráveis à intimidação.



