
A Petrobras apresentou seu Plano de Negócios para 2026-2030 reduzindo em 20% os investimentos previstos para transição energética para os próximos cinco anos. O corte vem depois de uma intensa campanha publicitária em que a empresa se coloca como “líder da transição energética justa”.
O novo plano comprova que a Petrobras vai continuar priorizando a exploração e a produção de petróleo e gás fóssil, deixando a transição energética em segundo plano. A petrolífera perde, assim, mais uma oportunidade de sinalizar uma mudança efetiva para sua transformação em uma empresa de energia.
O anúncio ocorreu menos de uma semana após o fim da COP30 de Belém, onde o presidente Lula fez um chamado global pela construção de um mapa do caminho para o fim dos combustíveis fósseis. Mas o novo Plano de Negócios da Petrobras vai na direção contrária à urgência de descarbonização da economia global. A estratégia também está descolada dos compromissos globais já assinados pelo Brasil e dos próprios objetivos de redução de emissões de carbono do país.
De acordo com o documento, a Petrobras reduziu em 1,8% os investimentos totais nos próximos cinco anos, na comparação com o plano anterior (2025-2029), passando de US$ 111 bilhões (R$ 595 bilhões) para US$ 109 bilhões (R$ 585 bilhões). O segmento mais afetado foi justamente o de transição energética, que passou a corresponder por 11,9% do orçamento total, enquanto no plano anterior a participação era de 14,6%.
Na área, os investimentos em energias de baixo carbono tiveram a maior perda, uma redução de 45,6%. Houve corte de 58% na previsão de aplicações financeiras em energias eólica onshore e solar fotovoltaica. Os investimentos previstos em hidrogênio encolheram 20%. O Fundo de Descarbonização das Operações também foi afetado, com redução de 23% na projeção de investimentos.
Já em exploração de petróleo e gás, mesmo reduzindo o valor previsto para buscar combustíveis fósseis na Margem Equatorial, de US$ 3 bilhões para US$ 2,5 bilhões, a Petrobras manteve a quantidade de poços que pretende perfurar na região – 15 no total. O que reforça a aposta da empresa na Foz do Amazonas, apesar da altíssima sensibilidade socioambiental da região.
Novo plano não dialoga com a urgência climática
Apesar de decepcionante, o PN 26-30 não surpreende. Há poucos dias a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, novamente afirmou que a prioridade da empresa é explorar combustíveis fósseis cada vez mais, deixando investimentos mais significativos em transição energética para 2035 e desconsiderando, como sempre, a gravidade da crise climática.
“O novo plano de investimentos da Petrobras nasce velho, com olhar para o passado. No lugar de intensificar os investimentos em renováveis, consolida a lógica petroleira”, afirma Suely Araújo, Coordenadora de Políticas Públicas do Observatório do Clima. “A atual presidente da empresa fala em reforçar os esforços em renováveis em 2035. Infelizmente, não temos esse tempo. A crise climática necessita ser conjugada com verbos no presente”.
Em setembro, o Observatório do Clima lançou o posicionamento “A Petrobras de Que Precisamos”, onde detalha as medidas necessárias para que a petrolífera lidere uma transição justa de verdade. Entre as recomendações estão a priorização de investimentos em fontes de baixo carbono; a realocação de investimentos planejados em novas refinarias para ampliar a participação de combustíveis de baixo carbono em sua linha de produtos; e a ampliação nos investimentos em biocombustíveis, sobretudo os de segunda e terceira geração, diesel verde (HVO) e SAF. O contrário do que foi apresentado no novo plano.
“Apesar do discurso de transição energética justa, o novo Plano de Negócios da Petrobras mostra que, na prática, a empresa não está comprometida com uma transição justa e real”, destaca Délcio Rodrigues, diretor executivo do ClimaInfo. “Ao reduzir investimentos em descarbonização e reforçar a velha aposta nos combustíveis fósseis, a Petrobras enfraquece o setor de renováveis e coloca o Brasil na contramão das tendências globais. A empresa perde, assim, uma oportunidade histórica de liderar a transformação energética que o país e o mundo precisam urgentemente.”
Para uma empresa que investiu pesadamente em uma campanha publicitária na qual se auto-intitula “líder da transição energética justa” no Brasil, o Plano de Negócios 2026-2030 mostra que a imagem que a Petrobras tenta projetar no imaginário da população infelizmente não corresponde aos planos da empresa, cada vez mais inseridos em explorar petróleo no Brasil “até a última gota”.



