Acordo de Paris completa 10 anos com alerta por metas insuficientes

Para especialistas, apesar de ganhos concretos em setores como energia e transporte, a ação climática precisa ir além e ser mais rápida.
15 de dezembro de 2025
10 anos acordo de paris
© Unicef/Pham Ha Duy Linh

O Acordo de Paris completou 10 anos na última 6ª feira (12/12). Ratificado por mais de 190 países na COP21, o texto é considerado a espinha dorsal da cooperação internacional para o clima. Em declaração, a ONU comemorou avanços significativos, mas alerta que o mundo continua distante da meta de limitar o aquecimento a 1,5°C — ponto crítico para se evitar impactos severos e irreversíveis.

“A ação climática precisa ir além e ser mais rápida. Os últimos dez anos foram os mais quentes já registrados. Estamos testemunhando tragédias humanas, destruição ecológica e crises econômicas em tempo real, com a devastação aumentando à medida que as temperaturas continuam subindo”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres.

Na InfoAmazonia, a diplomata porto-riquenha Christiana Figueres, uma das principais “arquitetas” do acordo, afirma que, em setores como o energético e o de transportes, “estamos muito melhor do que poderíamos ter imaginado”. No entanto, setores como indústria de energia pesada – cimento, aço, ferro – e uso do solo, agricultura e restauração florestal estão aquém.

Cientistas e a ONU estimam que o planeta não escapará temporariamente do “overshooting“, quando a meta de 1,5°C será ultrapassada. Mas como a Folha enfatiza, Paris colocou o mundo em uma trajetória sem retorno para longe dos combustíveis fósseis. Apesar de estar longe de uma solução, o acordo expõe os maiores suspeitos pelo aumento da crise climática.

“Se não tivéssemos o acordo, hoje as emissões estariam em níveis mais altos, mas provavelmente a mudança mais importante é que teríamos uma permanência muito mais longeva de sistemas de energia intensivos em carbono. Não acredito que teríamos, por exemplo, a rápida eliminação do carvão que temos visto”, opina o físico Bill Hare, professor da Universidade Murdoch, na Austrália, e fundador do instituto de ciência e política climáticas Climate Analytics, na Folha.

Para Laurence Tubiana, chefe da diplomacia francesa durante a COP21 e hoje presidente da European Climate Foundation, a prova de que as ferramentas do Acordo de Paris continuam válidas é o número de países que criaram leis climáticas nacionais. “O que mudou nos últimos anos é que a soberania está sendo afirmada com mais força, tornando a ação coletiva mais difícil. Paris está sendo testado”, reflete na Folha.

De fato, houve muitas pedras no caminho do acordo nestes 10 anos. O Guardian relembra como o primeiro golpe veio logo após um ano, com a eleição do negacionista Donald Trump em 2016 – e a primeira promessa de tirar o país do pacto em 2017. Depois, ainda em 2016, a China acelerou sua taxa de produção de dióxido de carbono, que atingiu 12,3 bilhões de toneladas no ano passado.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) indica que as emissões globais precisam cair 43% até 2030 para que o objetivo de aquecimento de 1,5°C permaneça ao alcance. A ONU enfatiza que países reforcem suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e acelerem a transição para economias de baixo carbono.

“A chave agora é acelerar o ritmo: implementar, de forma responsável, a redução das emissões e a regeneração dos nossos ecossistemas naturais”, afirma Christiana.

Isto É Dinheiro, UOL, Global Citizen, Euronews, Le Monde, Climate Change News, Earth.org, BBC, Politico Pro, RFI e Business Green também destacaram os 10 anos do Acordo de Paris.

  • Em tempo 1: Um número crescente de países tem experimentado queda nas emissões de CO2 enquanto suas economias crescem, desmentindo a ideia de que a ação climática trava o progresso, mostra o Euronews. Os resultados são de um relatório recente da Energy and Climate Intelligence Unit (ECIU) que analisou 113 países que representam mais de 97% do PIB global e 93% das emissões globais. “Mais pessoas trabalham, em escala global, na energia renovável do que nos combustíveis fósseis; e, nos respectivos países, as indústrias de emissões líquidas zero crescem três vezes mais rápido do que a economia no seu conjunto”, afirma Gareth Redmond-King, da ECIU. Ele acrescenta que o ímpeto gerado pelo Acordo de Paris é imparável.

  • Em tempo 2: A França anunciou nesta 6ª feira (12/12) sua estratégia atualizada para atingir a neutralidade de carbono até 2050. Entre outros pontos, a meta incluiu a eliminação gradual do petróleo entre 2040 e 2045, e de gás em 2050. O anúncio aconteceu em meio a manifestações de organizações de defesa do clima em protesto contra os avanços limitados do Acordo de Paris. Ativistas do Greenpeace seguraram cartazes com os escritos "10 anos de sabotagem climática" em frente ao Arco do Triunfo, em Paris. Folha, Revista Exame e France 24 trazem mais detalhes.

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