
A antiga “Cidade da Garoa” agora é a “Cidade das Tempestades”. Tempestades com chuvas e ventos fortes têm impactado a infraestrutura de São Paulo anualmente. Dessa vez, as rajadas de vento recordes atingiram 100 km/h e deixaram um quarto da cidade sem luz.
Os ventos do ciclone extratropical atingiram a região Sudeste no meio da semana. Na 5ª feira (11/12), o caos já estava instalado: mais de 2 milhões de imóveis sem luz, mais de 1.600 chamadas ao Corpo de Bombeiros por quedas de árvores, dezenas de voos cancelados, ao menos R$ 1,53 bilhão perdidos pelo comércio, segundo informa a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FECOEMÉRCIOSP). A falta de energia também afetou o fornecimento de água em muitas residências.
Miriam Leitão afirma, n’O Globo, que este não foi um evento isolado. A crescente vulnerabilidade das cidades às mudanças climáticas exige maior preparação dos governos. No entanto, o Plano de Ação Climática (PlanClima) de São Paulo, criado em 2021 e atualizado anualmente, não possui nenhuma diretriz sobre como a cidade deve responder a apagões decorrentes de temporais, vendavais ou ondas de calor.
Como o Um Só Planeta mostra, o documento menciona ações de aprimoramento dos alertas de tempestades e de revisão dos protocolos de mobilidade, mas não cita impactos na infraestrutura. Já um relatório recente da Secretaria-Executiva de Mudanças Climáticas (SECLIMA) lista 11 ações na categoria “adaptar a cidade de hoje para o amanhã”. Nenhuma ligada à proteção ou modernização da rede elétrica.
Em resposta, a SECLIMA afirmou que o PlanClima está em fase de revisão e que, apesar de ser muito caro enterrar os fios, está discutindo como melhorar a infraestrutura de distribuição de energia da cidade.
“É essencial que gestores públicos ouçam os especialistas — há muitos bastante qualificados no Brasil — e sigam suas recomendações. Só assim poderemos prevenir novas tragédias por meio de um planejamento urbano mais eficiente, com planos de resposta rápidos a eventos extremos e, principalmente, políticas que reduzam riscos”, afirma Miriam.
Desastres climáticos causados por ciclones, frentes frias e ondas de frio no Brasil aumentaram em 19 vezes nas últimas três décadas, segundo estudo da Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica divulgado durante a COP30.
“A superfície do mar mais quente, em um estado que chamamos de oceano febril, libera mais calor e umidade, alimentando e intensificando esses sistemas e provocando ventos e chuvas cada vez mais fortes”, explicou Ronaldo Christofoletti, professor do Instituto do Mar da UNIFESP e integrante da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN).
De acordo com Alexandre Nascimento, diretor da Nottus Meteorologia, o ciclone que atingiu São Paulo foi previsto com três a quatro dias de antecedência não só pela sua empresa, mas também pelo CEMADEN. Em entrevista à CNN Brasil, o especialista ressaltou que o desafio está em “primeiro acreditar e, segundo, criar processos para tentar antecipar ou melhorar essa condição”.
Na 6ª feira (12/12), a Defesa Civil de São Paulo emitiu um alerta sobre a possibilidade de tempestade em todo o estado até 3ª feira (16/12), com previsão de chuva forte, ventos intensos e granizo. O sistema que trouxe as ventanias para a região deve avançar lentamente para o Rio de Janeiro a partir de hoje (15/12), mas mantém chuva na região leste do estado, informa a Folha.



