Justiça obriga Belo Monte a fornecer mais água ao Xingu para garantir pesca

A decisão atendeu aos pedidos do MPF em uma ação civil pública movida em 2021, mas Norte Energia informou que recorrerá.
18 de dezembro de 2025
belo monte presidência do ibama admite rever vazão do rio xingu
Joédson Alves/Agência Brasil

A Justiça Federal no Pará determinou a revisão da vazão de água adotada para a operação da hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu. Com isso, a Norte Energia, responsável pela usina, e o IBAMA foram condenados a refazer o hidrograma de consenso da planta, usado pela empresa para definir o volume de água que libera para a região da Volta Grande do Xingu, abaixo da barragem.

A juíza federal Maíra Campos, da Vara Federal em Altamira (PA), determinou que o Xingu volte a ter nível de inundação suficiente para garantir os ecossistemas, o modo de vida de ribeirinhos e Povos Indígenas e a navegação de embarcações, detalha a Folha. Para isso, é necessário revisar o hidrograma, “com a definição de um controle artificial de vazões apto a garantir a mitigação dos impactos advindos do desvio do fluxo hídrico do rio Xingu”, menciona a magistrada.

A decisão responde a uma ação civil pública com tutela de urgência proposta pelo Ministério Público Federal (MPF) em 2021. É uma vitória, mas não com a rapidez que o colapso socioambiental na região exige, reforça a Sumaúma. Por decisão do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, a tutela de urgência da ação não foi concedida. Ou seja, a sentença só será cumprida após o trânsito em julgado, quando não couber ou não houver mais recurso.

E a Norte Energia – que opera Belo Monte sem licença ambiental válida desde novembro de 2021 – já avisou que recorrerá da decisão. A empresa continua defendendo o hidrograma atual. “O hidrograma estabelece a vazão de água mínima para a Volta Grande do Xingu e foi estabelecido pelo Estado brasileiro no processo de licenciamento”, disse a companhia, em nota.

A Volta Grande do Xingu guarda mais de cinco séculos de ocupação pelos indígenas Juruna e Arara, sem falar de sua imensa biodiversidade. Em dissenso com as vidas humanas e mais-que-humanas, o hidrograma de consenso previsto no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) de Belo Monte impôs dois regimes de liberação de água: num ano seria aplicado o Hidrograma A, com vazão mínima de 4 mil metros cúbicos por segundo (m3/s) em abril, no pico da cheia; noutro valeria o Hidrograma B, com pelo menos 8 mil m3/s no mesmo mês. Mas a média histórica, entre 1931 e 2007, chega a quase 20 mil m³/s.

Desde 2016, com o início da operação da usina, ficou evidente que os testes do hidrograma seriam inviáveis. A redução do fluxo hídrico na Volta Grande, mesmo com vazões superiores às do Hidrograma B, impediu que as águas chegassem às florestas de igapó e aos pedrais, gerando um desastre ambiental e humanitário muito além do previsto pelo licenciamento. O mecanismo que deveria abrandar os danos da hidrelétrica e garantir a vida de curimatás, pacus, piaus, tucunarés, tracajás e também de pessoas virou um novo impacto gerador de fins de mundo. Áreas que eram berçários de peixes se tornaram cemitérios.

Em 2019, com a instalação da última turbina da barragem, começariam os testes do hidrograma de consenso. Mas um parecer técnico do IBAMA avaliou que o Hidrograma A era impraticável e que os dados eram insuficientes para assegurar que o Hidrograma B não levaria a uma piora drástica.

Um ano depois, em 2020, ficou definida a aplicação de um hidrograma provisório, até que houvesse novos estudos. No ano seguinte, contudo, com a pandemia de COVID-19, o Hidrograma B passou a operar.

Na 3ª feira (16/12), devido à gravidade da situação, o MPF solicitou à Justiça Federal que a Norte Energia seja obrigada a fornecer água potável e acesso à internet, em caráter emergencial, às famílias ribeirinhas, indígenas e de agricultores familiares que vivem na Volta Grande do Xingu, informa o Diário do Pará. Segundo o MPF, as comunidades enfrentam uma grave emergência hídrica, com riscos diretos à saúde pública, decorrente do desvio das águas do Xingu para a geração de energia em Belo Monte. 

  • Em tempo: Pior que instalar Belo Monte é usar carvão para gerar energia elétrica. E a Deutsche Welle mostra a força do lobby do combustível fóssil, liderado por Fernando Luiz Zancan, presidente da Associação Brasileira do Carbono Sustentável (ABCS) - isso, você leu direito. Apesar de representar apenas 2% da geração elétrica brasileira, o carvão — que tem o maior nível de emissões entre os combustíveis fósseis e também é o mais caro — continua tendo espaço graças à pressão do lobista Zancan e de políticos da região Sul no Congresso Nacional.

Continue lendo

Assine Nossa Newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Justiça climática

Nesta sessão, você saberá mais sobre racismo ambiental, justiça climática e as correlações entre gênero e clima. Compreenderá também como esses temas são transversais a tudo o que é relacionado às mudanças climáticas.
2 Aulas — 1h Total
Iniciar