ClimaInfo, 31 de janeiro de 2018

31 de janeiro de 2018

MEDIDOR DE RURALISMO DETECTA QUE DESMATAMENTO E TRABALHO ESCRAVO FINANCIAM BANCADA RURALISTA

O Repórter Brasil criou o ‘ruralômetro’, uma ferramenta jornalística para medir e classificar a atuação dos deputados segundo sua ‘febre ruralista’, isto é, sua aderência à agenda ruralista. O site apresenta a ‘temperatura’ de cada deputado: em azul os menos ruralistas; em vermelho aqueles mais acometidos da ‘febre’. O partido mais ruralista é o MDB, que não tem nenhum deputado em azul. O mais ruralista é o ex-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, Nilson Leitão do PSDB, seguido, não de muito longe, pelo deputado Jerônimo Goergen, do PP. Na ponta azul, se destacam o PSOL, a Rede e o PT, que vão bem em relação aos projetos ruralistas, mas abrigam deputados com dívidas junto ao INSS e outros que receberam doações de gente ligada ao trabalho escravo. Cada congressista ganhou uma nota pelos projetos apresentados e pelos votos dados, notas que foram ponderadas pela classificação dos projetos feitas por organizações ligadas ao tema socioambiental.

A partir do ‘ruralômetro’, o pessoal do Repórter Brasil notou que:
– 61% da Câmara teve um comportamento contrário à agenda socioambiental, sendo que metade destes compõe a Frente Parlamentar da Agropecuária, aka “bancada ruralista”;
– os estados de Goiás, Mato Grosso, Piauí, Rondônia, Roraima e Tocantins têm mais de 88% dos seus deputados apoiando as causas ruralistas;
– 57% da Câmara recebeu um total de quase R$ 60 milhões de empresas multadas pelo Ibama; e
– 10% da Câmara recebeu cerca de R$ 3,5 milhões de empresas autuadas por trabalho escravo. O que mais recebeu foi o secretário da casa civil do governo de São Paulo, Samuel Moreira, PSDB. Cinco ministros do governo Dilma também estão na lista.
A ferramenta é muito útil para a decisão de voto em outubro. Ela também seria bem divertida, se não tratasse de assunto tão trágico.
http://ruralometro.reporterbrasil.org.br/

https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2018/01/30/desmatadores-doaram-r-59-mi-a-campanha-de-deputados-ministros-estao-na-lista.htm

http://reporterbrasil.org.br/2018/01/em-cada-10-deputados-federais-6-tem-atuacao-desfavoravel-ao-meio-ambiente-indigenas-e-trabalhadores-rurais/

http://reporterbrasil.org.br/2018/01/maioria-dos-deputados-recebeu-doacao-de-desmatadores-como-isso-reflete-na-sua-atuacao/

http://reporterbrasil.org.br/2018/01/empresas-flagradas-com-trabalho-escravo-financiaram-10-dos-deputados-federais/


FERROGRÃO SERÁ MAIS UMA EMPRESA PRIVADA DE DINHEIRO PÚBLICO

Temer vai colocar muito dinheiro público para subsidiar a construção da Ferrogrão, uma ferrovia privada que praticamente só servirá para o escoamento da soja do norte do Mato Grosso. A ferrovia faz parte do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) lançado por Temer em setembro do ano passado e vai ser construída por uma joint venture formada pelas mega traders Bunge, Cargill, ADM, Dreyfus e Amaggi. O governo quer que o BNDES financie 80% do custo avaliado em quase R$ 13 bilhões, e que estique a carência e o prazo do empréstimo para 30 anos.

Na semana passada, em Davos, o diretor da Cargill disse que estava contando com o apoio do governo. A ferrovia ligará Sinop, MT, ao porto de Miritituba, a 250 km de Santarém e do Rio Amazonas, e terá capacidade para o transporte de 42 milhões de toneladas, principalmente de soja, e só na ida. Serão quase 1.000 km a serem construídos em 5 anos. Na volta, o trem deve voltar tão vazio quanto o trem que leva minério de Carajás para São Luiz. Hoje, essa soja é transportada por caminhão pela BR-163, estrada paralela ao traçado da Ferrogrão. Aliás, têm ocorrido vários protestos de caminhoneiros e da população das cidades que cresceram ao longo da BR-163. Com o trem, muitos caminhoneiros terão que procurar outros locais de trabalho e as cidades perderão um bom tanto de seu movimento.
A ferrovia atravessa áreas de preservação em torno do Jamanxim e de terras indígenas Munduruku.

Em mais uma das suas novidades gestoras, o governo Temer fixou um teto de R$ 400 milhões a ser pago pelas condicionantes ambientais do licenciamento. Tudo que passar deste valor será pago pelo Tesouro Nacional. É ou não é a tal da privatização dos lucros com socialização dos custos?
http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,governo-vai-mudar-emprestimo-do-bndes-para-viabilizar-ferrograo,70002095419


CONTRA HIDRELÉTRICAS NA AMAZÔNIA

Maurício Voivodic, do WWF, e Carlos Nobre, do INPE e do WRI, escreveram um poderoso artigo dizendo que não faz sentido construir mais hidrelétricas na Amazônia. Eles se baseiam em dois argumentos fortes. O primeiro é a própria mudança do clima e as indicações de que o volume de chuvas na Amazônia diminuirá nas próximas décadas, levando, portanto, as hidrelétricas a gerar menos energia. Claro, a não ser que se construam imensos reservatórios que desmatarão a floresta, reduzindo ainda mais a quantidade de água. O segundo é que as renováveis – eólica e fotovoltaica – têm potencial de expansão suficiente para suprir a demanda futura. E como nem sempre tem sol e nem sempre tem vento, os autores entendem que os reservatórios já existentes dariam conta de entrar em ação quando da ausência destes fatores naturais. Os autores terminam o artigo dizendo da importância do tema na escolha dos representantes a serem escolhidos nas eleições deste ano para o legislativos e o executivo.
http://www.valor.com.br/opiniao/5290547/um-brasil-sem-novas-mega-hidreletricas


CÂMARA DE PERUÍBE DECIDE HOJE SE PROÍBE TÉRMICA A GÁS NATURAL

Hoje, até o final da tarde, a Câmara Municipal de Peruíbe vota a lei orgânica contra empreendimentos altamente poluentes, cujo projeto foi apresentado para impedir a construção de uma termelétrica no município que iria impactar áreas de preservação e terras indígenas.
https://www.facebook.com/350Brasil/videos/2258342310858564/

https://www.canalenergia.com.br/noticias/53050160/projeto-de-termeletrica-em-sp-pode-ser-barrado-definitivamente-na-quarta-feira-31


MAIS USINAS DE ÁLCOOL DE MILHO NO CENTRO-OESTE

Boa parte do milho produzido no Brasil é exportado para compor ração animal na Europa e na China. Mas agora os produtores começam a investir em destilarias de álcool de milho, como os norte-americanos. São seis usinas com um investimento de R$ 2 bilhões. O RenovaBio está atraindo o interesse desses investidores.
Um estudo de ciclo de vida feito por um laboratório do Departamento de Energia dos EUA estimou que, do plantio até o veículo, o etanol de cana emite cerca de metade do que o etanol de milho emite, e pouco mais de 1/3 das emissões associadas à gasolina. O etanol de milho é quase tão emissor quanto a gasolina. É bom que o pessoal do RenovaBio tenha esses números em mente, porque não faz sentido incentivar a troca de gasolina por algo que emite quase o mesmo tanto.
http://www.valor.com.br/agro/5290501/etanol-de-milho-avanca-no-centro-oeste#

http://iopscience.iop.org/article/10.1088/1748-9326/7/4/045905/pdf


PRIMEIRO O GÁS TOMOU O LUGAR DO CARVÃO, AMANHÃ AS BATERIAS TOMARÃO O LUGAR DO GÁS

Para contrariedade de Trump, nos últimos 10 anos, usinas à carvão deixaram de gerar 866 TWh (terawatts-hora, ou bilhões de kWh). No seu lugar, as térmicas a gás geraram mais 400 TWh e as renováveis, outros 200 TWh. E a economia americana ficou mais eficiente e deixou de consumir 371 TWh, na comparação com dez anos atrás. Na ponta final, gerar 1 kWh com gás natural libera menos CO2 do que gerar o mesmo kWh queimando carvão. Mas, ao serem contabilizadas as emissões de todo o ciclo de produção e da queima final, do poço de gás e da mina de carvão até a geração do kWh, o gás nem sempre é tão melhor assim, por conta dos vazamentos e do gás que escapa dos poços sem ser queimado. Gás natural é basicamente metano, um gás 27 vezes mais efetivo em segurar calor na atmosfera que o CO2.

Por sorte, a tendência é termos cada vez mais renováveis na rede elétrica e cada vez mais baterias para apoiarem a rede quando da falta de vento e insolação.

No Brasil, o problema do carvão nem é tão grande. A preocupação maior é quanto às baterias conseguirem evitar a construção de mais mega-hidrelétricas na Amazônia.
https://www.theguardian.com/environment/climate-consensus-97-per-cent/2018/jan/29/natural-gas-killed-coal-now-renewables-and-batteries-are-taking-over


CALIFÓRNIA TEM META DE 5 MILHÕES DE CARROS ELÉTRICOS ATÉ 2030

O governador da Califórnia, Jerry Brown, quer chegar a 1,5 milhões de carros elétricos rodando no estado até 2025, e a 5 milhões até 2030. Para isso, o estado vai alocar US$ 2,5 bilhões para equipar mais 250 mil estações de recarga e para subsidiar a compra de carros elétricos. Hoje rodam 350 mil carros elétricos e híbridos na Califórnia. Isto acontece ao mesmo tempo em que Trump quer afrouxar as regras de emissões dos carros. A indústria gostaria muito que Trump e a Califórnia entrassem em acordo porque, em estando separados, a obrigam a trabalhar dois mercados com regras distintas, e os dois com risco sério de modificações no curto prazo.
https://www.reuters.com/article/us-autos-emissions-california/california-looks-to-ramp-up-electric-vehicle-sales-idUSKBN1FF2XG

http://www.rgj.com/story/news/2018/01/28/california-governor-pushes-5-million-zero-emission-cars/1073322001/


TENTANDO RESOLVER O CAOS DO TRÂNSITO DE JACARTA

Rema Hanna, da Universidade de Harvard, conta a experiência de uma medida tomada em Jacarta, Indonésia, que se provou eficaz para reduzir congestionamentos. A cidade tem um dos piores trânsitos do mundo e, para reduzi-lo, a autoridade de Jacarta determinou que os automóveis só poderiam circular com pelo menos 3 passageiros em certos trechos mais centrais de certas avenidas nos horários de pico, sob pena de tomarem multas bastante altas. Aos poucos, a regra criou uma atividade paralela. Pessoas, às vezes mães com bebês, se colocavam nestas avenidas, um pouco antes do início da zona de restrição e, pelo equivalente a US$ 1, entravam no carro até que este saísse da dita zona. Houve uma campanha para revogar a regra, por esta ser ineficaz e ter gerado esta indústria de trambiques. A autoridade acabou cedendo e a revogou. Esta foi a sorte dos pesquisadores do grupo de Rema Hanna. Eles puderam medir o congestionamento antes e depois da revogação. E observaram que a regra, mesmo com os trambiques, tinha de fato reduzido o congestionamento. Quando da revogação da regra, a velocidade média caiu de 28 km/h para 19 km/h, no rush da manhã, e de 22 km/h para 11 km/h no rush da tarde. A autora recomenda o emprego da regra de 3 passageiros com ressalvas: estas regras só conseguem “gerar benefícios se forem concebidas de forma inteligente, fiscalizadas eficazmente e bem estudadas. As pessoas sempre tentam contornar a regulamentação, mas os formuladores de políticas públicas têm de examinar todas as provas antes de decidir revogá-las”.
http://www.valor.com.br/opiniao/5290543/qual-melhor-politica-de-transito#


DRONES SUBMARINOS MEDIRÃO DERRETIMENTO DE GELO ANTÁRTICO

Cientistas sul-coreanos começaram uma pesquisa para colher mais dados sobre o derretimento do gelo na Antártica e sua relação com a elevação do nível do mar. Foram lançados drones submarinos capazes de medir a espessura de gelo navegando por debaixo das plataformas. Existe uma quantidade grande de dados satelitais e de bases científicas no continente. Os sul-coreanos querem complementar, observando o que acontece por debaixo das plataformas. O derretimento das plataformas não eleva o nível do mar. Mas estas servem como rolhas que dificultam o deslocamento das geleiras terrestres, gelo que, este sim, elevaria o nível do mar. Os drones correm riscos sérios de se perder, de ficarem presos em fendas de gelo, ou de sofrerem danos por conta de colisões e não poderem mais ser encontrados. Mas se funcionarem, cientistas do mundo todo poderão entender melhor os efeitos de águas mais quentes sob o manto gelado. Os drones devem ficar submersos durante pelo menos 12 meses.
http://www.newsweek.com/how-much-longer-can-coastal-cities-survive-robots-under-melting-ice-antarctica-790088


TEMPERATURA DO OCEANO BATE RECORDE EM 2017

A ausência do El Niño contribuiu para que 2017 não fosse o ano mais quente registrado (foi 2016). Mas a temperatura das águas oceânicas bateu o recorde, segundo trabalho da Academia Chinesa de Ciências. A medição da temperatura da água dos oceanos atingiu escala global a partir de 1990. O último El Niño esfriou um pouco a água e a sua temperatura média, em 2016, foi menor do que a do ano anterior, mas esta voltou a subir no ano passado. Águas mais quentes matam corais e derretem mais gelo nos polos. Também conseguem dissolver menos CO2. Com isto, é diminuída a capacidade do grande aspirador de gás da atmosfera que é o mar, o que faz a concentração de CO2 na atmosfera elevar-se mais rapidamente.

Bem que poderíamos passar sem este feedback positivo.
https://news.nationalgeographic.com/2018/01/hottest-year-record-global-warming-oceans-spd

 

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