ClimaInfo, 19 de março 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

RURALISTAS E BOLSONARO QUEREM ACABAR COM O MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE

Jair Bolsonaro disse à turma da bancada ruralista que quer acabar com o Ministério do Meio Ambiente e transferir suas responsabilidades para o Ministério da Agricultura. Tamanha irresponsabilidade provocou a reação forte de vários ex-ministros da pasta. Izabella Teixeira disparou perguntas, lembrando que “meio ambiente não é só uso da terra. A fiscalização ficará com quem? O controle de poluição? Irá ficar a cargo da Agricultura ou ficará tudo fragmentado”. Rubens Ricupero disse que “seria um retrocesso que nem Donald Trump cometeu” e completou: “nem ele se atreveu a suprimir a EPA ou subordiná-la a uma área de produção. Isso seria um retrocesso imperdoável, um tiro no pé monumental”. E José Goldemberg ponderou que “obviamente há um conflito intrínseco. Os dois ministérios têm pontos de vista diferentes. O da Agricultura olha para a produção, o do Meio Ambiente, para a conservação. É natural, democrático e salutar que existam conflitos entre eles”. Daniela Chiaretti, no Valor, apurou que Geraldo Alckmin gostou da ideia. E cita a sucessão, um tanto desastrosa, de secretários de meio ambiente em São Paulo. A bancada ruralista quer usar o exemplo do Reino Unido, onde só existe um ministério. Comparar com a situação do Brasil não para em pé, posto que não existe por lá qualquer coisa remotamente parecida com a Floresta Amazônica e o Cerrado, como, também, a importância econômica do agronegócio inglês é zero comparado com o daqui.

http://www.valor.com.br/politica/5388731/ex-ministros-temem-extincao-de-pasta#

 

CONTAS DE LUZ DISPARAM ACIMA DA INFLAÇÃO

Quem acompanha os reajuste de tarifas das concessionárias de eletricidade autorizados pela Aneel observa que estes têm sido acima e, até, muito acima da inflação. A razão alegada é a combinação do atual modelo de gestão do setor com a chuva abaixo do normal. E não adianta lembrar que durante boa parte do ano vigorou a bandeira vermelha, teoricamente criada para compensar o acionamento das térmicas a gás. É que muitos geradores, para honrar seus contratos com pouca água nos seus reservatórios, tiveram que comprar energia no mercado spot, bem mais cara do que o preço que cobram na venda de energia. A diferença, claro, está ficando para o consumidor. Enquanto o setor espera ansioso que o Executivo e o Congresso aprovem a reforma de suas regras, a Aneel vai fazendo o que pode para evitar que geradoras e distribuidoras passem por dificuldades. Caso um dia a situação se normalize, vamos ver se a Aneel beneficia aquele que, no fundo, é seu empregador: o contribuinte e o consumidor brasileiro.

http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,conta-de-luz-pode-subir-mais-de-20,70002230715

 

OS PREÇOS DA ENERGIA LIMPA CAEM E DIFICULTAM A VIDA DE PEQUENOS EMPREENDEDORES

O preço das eólicas e fotovoltaicas continuam a cair e, na América Latina, as grandes multinacionais energéticas estão empurrando as pequenas empresas nacionais para fora do mercado. Até recentemente, as grandes enxergavam riscos altos e, portanto, preços altos. Isso abriu espaço para empresas menores, nacionais, assumirem esse risco. Mas com o preço internacional em queda e os sistemas nacionais incorporando cada vez mais renováveis, essa percepção de risco mudou e as grandes passaram a entrar para valer nos mercados do Chile, Peru, México e Brasil. Dificilmente as pequenas e médias nacionais conseguem estruturar projetos competitivos. Mesmo no nicho das fotovoltaicas residenciais, está cada vez mais difícil competir, uma vez que as próprias distribuidoras estão entrando no mercado.

http://www.valor.com.br/empresas/5385441/pequenos-perdem-vez-no-setor-de-energia-limpa-da-america-latina

 

POR UM LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE QUALIDADE

O deputado constituinte Fábio Feldmann diz n’O Globo que seria bem-vinda uma legislação nacional que tratasse do licenciamento ambiental com serenidade e que tivesse como objetivo melhorar a qualidade do licenciamento, ao mesmo tempo em que garantisse ampla participação social. Mas Feldmann diz que o que assistimos até o momento no Congresso é a uma tentativa pouco republicana de fazer prevalecer interesses setoriais, que pretendem diminuir a participação social sob pretexto de garantir ao licenciamento ambiental maior celeridade. Segundo Feldmann, “caso prevaleça essa visão distorcida em uma eventual legislação, assistiremos a uma judicialização no Supremo Tribunal Federal e, com isso, perderemos a possibilidade de conferir maior segurança jurídica na matéria”.

https://oglobo.globo.com/opiniao/licenciamento-ambiental-de-qualidade-22498911

 

CRISES HÍDRICAS E A (IR)RESPONSABILIDADE DOS ESTADOS

João Paulo Capobianco e Guilherme Checco deram uma dura no governo Alckmin pela insistência em aguçar crises hídricas. Essa semana, a Arsesp (Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo) fez que ia, mas não foi: pensou em aplicar um aumento na tarifa de água porque os paulistanos estavam gastando menos água, ameaçando as receitas da Sabesp, mas a proposta não resistiu ao próprio absurdo. Num mundo onde as crises hídricas vão se multiplicar por causa da mudança do clima, economizar água é um dever e não algo a ser penalizado. A Sabesp ainda deve uma resposta à população do estado de São Paulo. Porque as perdas continuam altas? Porque o governador insiste em gastar em obras de captação, ou melhor, desviar água de bacias vizinhas para abastecer a Grande São Paulo? Por que Alckmin mentiu descaradamente durante a campanha de 2014 não admitindo que reduziu a pressão da água em quase toda a rede sem dar o nome correto: racionamento. Os autores resumiram assim a receita: “Segurança hídrica exige ações que vão muito além de espalhar tubulações e represas pelo Estado, pois, ao contrário do que se propaga, água de qualidade é um recurso finito e a cada dia mais escasso. A redução das perdas na distribuição deve ser uma das prioridades, assim como a universalização da coleta e do tratamento de esgoto, que leva à diminuição da poluição dos corpos hídricos próximos aos centros urbanos, permitindo sua utilização. Proteger e recuperar as áreas de mananciais, assegurando a capacidade desses locais de prover água em quantidade e qualidade adequada também é fundamental”.

Enquanto isso, em Brasília, onde voltou a chover um pouco, o racionamento declarado continua em vigor. Exceto durante o 8o Fórum Mundial da Água que ocorre essa semana, pelo menos no entorno do Estádio Mané Garrincha e do Centro de Convenções Ulisses Guimarães, locais que hospedam o Fórum. Enquanto isso, no resto do Plano Piloto e nas cidades satélites, um dia sem água, dois para estabilizar o fornecimento (quer dizer, pouca água) e três dias “normais”. Pelo menos isto é o que a Caesb (Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal) anuncia em seu site.

http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,a-seguranca-hidrica-e-o-gatilho,70002230810

http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,ocupacao-pode-ter-piorado-crise-hidrica-em-brasilia,70002231853

 

O BALZAQUIANO IPCC

Sobre o aniversário de 30 anos do IPCC, o Observatório do Clima diz que “como toda balzaquiana, a rede de cientistas da ONU chega a essa idade preocupada com duas coisas: com a própria imagem e com sua estabilidade financeira”. Ao longo destas décadas, a rede se formou, aprendeu por tentativas (muitas) e erros (nem tantos) a expressar claramente o entendimento de milhares de cientistas sobre os múltiplos aspectos da mudança do clima e de suas causas. Sob sua orientação, modelos climáticos foram desenvolvidos, postos a prova e os resultados de suas simulações foram escrutinados com o que há de melhor na ciência. E, quase que sob encomenda, duas ou três gerações de modelos macroeconômicos foram desenvolvidos e testados para elaborar cenários dos impactos sociais e econômicos que poderão vir com a mudança do clima e as necessárias ações de mitigação e adaptação. Atravessou crises de credibilidade, sempre sob o cerrado ataque do dinheiro dos fósseis patrocinando think tanks negacionistas.

Se o painel de cientistas conseguiu tudo isso com os apertos financeiros de praxe, a retirada dos EUA do rol de partícipes de Paris deixou um buraco nas contas que dificilmente será coberto. O que é lamentado por muitos cientistas preocupados em não mais enxergar com a mesma clareza a situação atual e as alternativas de futuro que o IPCC se esmerou em produzir.

http://www.observatoriodoclima.eco.br/ipcc-chega-aos-30-preocupado-com-verba-e-desinformacao/

http://www.observatoriodoclima.eco.br/%EF%BB%BF%EF%BB%BFipcc-30-o-que-dizem-os-cientistas/

 

A PETROLEIRA ESTATAL NORUEGUESA MUDOU… DE NOME

A Statoil agora se chama Equinor, para tirar o óleo do nome e apontar para uma guinada na direção das renováveis. O anúncio vem meio ano depois do fundo de pensão norueguês anunciar que começou a desinvestir em fósseis. Mas, por enquanto, a ex-Statoil continua firme com seus planos de exploração de petróleo e gás em águas brasileiras, tanto acima como abaixo da famosa camada de sal. Só no campo de Roncador, a empresa avalia ter mais de 1 bilhão de barris de petróleo e gás. O artigo da Energia & Petróleo tem dados dos principais campos e poços daqui.

https://www.statoil.com/en/news/15mar2018-statoil.html/

http://epbr.com.br/graficos-que-ajudam-a-entender-a-aposta-da-statoil-em-roncador/

http://epbr.com.br/statoil-muda-de-nome-para-equinor-de-olho-no-mundo-pos-petroleo/

 

CIDADE DO CABO: AÇÕES CIDADÃS EMPURRAM ‘DIA ZERO’ PARA 2019

A Cidade do Cabo respirou um pouco quando o governo avisou que adiará para 2019 o ‘dia zero’, o dia em que o suprimento de água será cortado. A população parece estar fazendo mais do que esperado, reusando água de banho e de cozinha em descargas e outras formas de não desperdiçar uma gota. Cantores locais gravaram spots de 2 minutos que servem para marcar o tempo do banho.

http://www.businessinsider.com/cape-town-postpones-day-zero-when-it-runs-out-of-water-to-2019-2018-3

https://climatenewsnetwork.net/citizens-unite-in-cape-towns-water-crisis/

 

COMPENSA COMPENSAR AS EMISSÕES DA AVIAÇÃO? A EUROPA ACHA QUE SIM

A aviação internacional responde por 1,3% das emissões globais de gases de efeito estufa e tem poucas opções para cortá-las. Se forem incluídas as emissões da aviação doméstica, isso sobe para 2%. Por enquanto não há biocombustíveis aptos a substituir a gasolina e o querosene de aviação, a não ser em pequenas aplicações localizadas, como na agricultura. As Boeings e Embraers da vida fazem o que podem para aumentar a eficiência de seus aviões. A aviação internacional, por definição, não está debaixo da jurisdição de nenhum país e, assim, não entrou em nenhuma promessa feita ao Acordo de Paris. Para regular essas emissões, um braço especial da ONU, a ICAO (sigla de inglês para a Organização da Aviação Civil Internacional), propôs compensar boa parte das emissões comprando os polêmicos créditos de carbono. Na semana passada, a União Europeia deu seu aceite a essa iniciativa, com várias ressalvas. A UE diz perceber esforços de alguns países para enfraquecer os critérios de sustentabilidade de combustíveis de aviação, para alargar os critérios de elegibilidade dos créditos de carbono e para enfraquecer a transparência do esquema todo. Aqui no Brasil, se discute se os projetos de desmatamento evitado, conhecidos por REDD+, poderiam ser aceitos no esquema. O governo desde sempre se manifestou contrário, e na nossa NDC tem uma frase específica basicamente negando esta opção. Só que todos reconhecem que faltam recursos para subir o nível no combate ao desmatamento e, argumentam alguns, a aviação poderia suprir parte destes recursos.

http://www.greenaironline.com/news.php?viewStory=2458

https://www.icao.int/environmental-protection/Pages/market-based-measures.aspx

http://www.iata.org/policy/environment/Pages/corsia.aspx

https://www.businessgreen.com/bg/news/3026280/aviation-giants-call-for-corsia-carbon-offsetting-scheme-to-be-cleared-for-take-off

https://www.icao.int/about-icao/Pages/default.aspx

 

AQUECIMENTO GLOBAL AFETA DURAMENTE AS REGIÕES ÁRIDAS DA ÁFRICA

As planícies áridas do Chifre da África sempre conheceram tempos difíceis, com os rios secos, as vacas cada dia mais magras. Mas os tempos difíceis sempre foram seguidos por tempos normais, quando chove o bastante para recompor os rebanhos, pagar as dívidas, dar leite às crianças e comer carne algumas vezes por semana.

Agora, os tempos mudaram. O norte do Quênia – assim como os seus áridos vizinhos no Chifre da África – tornou-se visivelmente mais seco e mais quente, e os cientistas estão encontrando as pegadas do aquecimento global. Segundo pesquisa recente, a região secou mais depressa no século 20 do que em qualquer outra época dos últimos dois mil anos. Quatro secas graves castigaram a área nestes últimos vinte anos, uma rápida sucessão que levou milhões de pessoas entre as mais pobres do mundo à beira da inanição.

Gideon Galu, meteorologista queniano da FewsNet, analisando 30 anos de dados da meteorologia, não vê a condenação dos pastores e agricultores do seu país. Ele vê a urgente necessidade de se adaptarem radicalmente: plantar forragem para os tempos magros, construir reservatórios para o armazenamento de água, mudar para culturas que se adaptem bem ao solo do Quênia, e não apenas o milho, o produto básico.

http://internacional.estadao.com.br/noticias/nytiw,aquecimento-global-afeta-duramente-as-regioes-aridas-da-africa,70002228915

 

Curtas sobre o aquecimento do Ártico:

DERRETIMENTO DO ÁRTICO BAGUNÇA A CIRCULAÇÃO DOS OCEANOS

É em torno da Groenlândia que as águas frias superficiais mergulham para o fundo do mar e começam sua viagem de volta ao sul. Em um artigo publicado na Nature Climate Change, pesquisadores reportam que, nos verões quentes dos últimos anos, essa circulação tem perdido força em função da água vinda do derretimento das geleiras groenlandesas. Frear as correntes norte-sul implica alterar significativamente quase todas as correntes oceânicas.

https://www.nature.com/articles/s41558-018-0105-1

https://www.washingtonpost.com/news/energy-environment/wp/2018/03/14/the-melting-arctic-is-already-messing-with-a-crucial-part-of-the-oceans-circulation-scientists-say/

 

REAÇÃO EM CADEIA DE ESCOAMENTO RÁPIDO DE LAGOS É NOVA AMEAÇA PARA A CAMADA DE GELO DA GROENLÂNDIA

A quantidade de lagos formada pelo derretimento das geleiras na Groenlândia vem aumentando e foi descoberto um novo processo que acelera ainda mais essa tendência. Os lagos estão formando redes e, uma vez interligados, canalizam o escoamento para poucos canais. Estes têm seu calibre aumentando com a água morna e se abrem para o escoamento de ainda mais água. Mais, os canais maiores enfraquecem o gelo da superfície. O que acelera e potencializa todo o processo.

https://www.nature.com/articles/s41467-018-03420-8

https://www.sciencedaily.com/releases/2018/03/180314092305.htm

 

O PREJUÍZO DA INDÚSTRIA NÓRDICA COM UM ÁRTICO MAIS QUENTE

O solo ártico dos países nórdicos costumava suportar as 25 toneladas das máquinas de cortar e processar toras para as indústrias de celulose e mobiliário. Os verões mais quentes acima do Círculo Polar estão descongelando este solo e as máquinas, volta e meia, atolam. Já houve casos nos quais a lama quase conseguiu engolir as enormes máquinas. As empresas já estão fazendo as contas do prejuízo causado pela redução do número de toras cortadas.

https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-03-15/deep-thaw-below-arctic-circle-risks-30-billion-nordic-industry

 

 

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