Moradores de Fernando de Noronha temem impactos da produção de petróleo no mar

petróleo Fernando de Noronha

Enquanto a ANP se prepara para leiloar blocos de petróleo em alto-mar na região de Fernando de Noronha, moradores do arquipélago estão preocupados com os impactos socioambientais dessa atividade na região, especialmente o risco de derramamento de óleo em uma das áreas de maior biodiversidade marinha do país.

“Por mais que se diga que os cuidados vão ser tomados, ninguém pode garantir que não haverá um vazamento”, argumentou Haryton Almeida, presidente do Conselho de Turismo de Noronha, ao G1. “Não concordamos e estamos do lado dos técnicos [do ICMBio, que são contrários ao projeto] e dos ambientalistas”.

Outra análise técnica, feita pelo oceanógrafo Fabrício Gandini Caldeira (Instituto Maramar), e citada por André Borges no Estadão, informa que a avaliação ambiental de área sedimentar (AAAS) feita pela ANP sobre esses blocos possui uma série de fragilidades. O documento também lembra a existência de um inquérito civil e uma investigação do Ministério Público Federal sobre uma suposta omissão do governo federal em realizar os estudos prévios.  “A forma com que o IBAMA tem determinado as diretrizes ambientais para o leilão dos blocos não tem obedecido parâmetros robustos e nota-se franca precariedade no órgão e diminuição do grau de exigência, ao mesmo tempo em que não se avança com normas e atualização de mapas e diagnósticos que possam colaborar para a tomada de decisão”, apontou a nota técnica.

Na Veja, José Casado destacou o risco de judicialização e alertou para a possibilidade de grandes empresas interessadas nesses blocos, como Chevron, Shell e Total, desistirem de participar do leilão. “A última coisa que uma empresa estrangeira de petróleo deseja é dividir a vitrine de vilã ambiental com o governo Bolsonaro”. Pois é.

Em tempo: Na Califórnia, a Guarda Costeira dos EUA segue tentando conter a mancha de petróleo que se formou na costa sul do estado no último final de semana, decorrente de um vazamento de causa desconhecida em um oleoduto. A Associated Press revelou que os esforços de limpeza sofreram um atraso inexplicável de 12 horas por parte das autoridades federais, entre o momento em que a empresa Amplify Energy, responsável pelo oleoduto, informou sobre o vazamento, e a primeira notificação de mancha de óleo no mar pela Guarda Costeira. A Newsweek informa que a própria empresa demorou três horas entre o alarme de baixa pressão no oleoduto e a decisão de fechá-lo. Já o Washington Post destacou a movimentação de ambientalistas para redobrar a pressão sobre o governo Joe Biden, para que a Casa Branca decrete moratória em novos projetos de extração petrolífera nos EUA.

A crise na Califórnia evidencia um problema sério que o setor fóssil enfrenta não apenas nos EUA, mas também em outros lugares: o envelhecimento da infraestrutura de exploração. O LA Times destacou a situação e o risco de que novos desastres similares possam acontecer por falta de manutenção e pelo abandono de infraestruturas antigas, como oleodutos. Neste acidente, a quantidade vazada foi cerca de metade do petróleo recolhido no litoral brasileiro em 2019.

 

ClimaInfo, 6 de outubro de 2021.

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