Será que a humanidade finalmente “olhará para cima”?

não olhe para cima

Foram 152 milhões de horas assistidas em uma semana, “um recorde”, segundo o Netflix. Falem bem ou mal, é inegável que o filme “Não Olhe para Cima!” (Don´t Look Up!), do diretor Adam Mckay, viralizou desde que foi lançado em dezembro, e vem incomodando os terraplanistas de plantão.

O filme é uma sátira ao negacionismo climático e à inação política frente à maior crise do século. O filme é estrelado por Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence e Meryl Streep, entre outros atores de peso no mundo do cinema. O enredo mostra a saga de dois cientistas ao tentar comunicar ao mundo sua descoberta sobre um meteoro gigante que está em rota de colisão e deve atingir a Terra em seis meses, ameaçando a vida no planeta. As reações dos diferentes atores sociais da nossa cultura – políticos, funcionários públicos, mídia, empresários, ONGs e a população em geral – sobre como lidamos com más notícias estão em sua maioria estampadas na tela.

O New York Times considerou o filme “uma raridade de Hollywood” e chamou a atenção para uma “distorção” histórica. Pela primeira vez, uma peça cinematográfica tem gerado torcidas de nariz, por parte dos críticos, e aplausos, por parte dos cientistas – geralmente é o oposto, o que ocorre em relação aos filmes de ficção científica.

Os críticos alertaram que McKay deveria ter sido mais direto sobre a conexão com o aquecimento global, uma vez que muitas pessoas fizeram conexão literal com a alegoria do cometa. O NYT, por sua vez, chamou a atenção para o número de climatologistas que foram às redes sociais e escreveram artigos de opinião declarando o quanto se sentiam contemplados pelo filme.

As semelhanças com a vida real são de fato inequívocas. Há pelo menos 30 anos se avolumam os alertas e as evidências científicas que apontam para a crise climática, sem que as devidas medidas para a conter sejam adotadas com a urgência necessária.

O diretor Adam Mckay reconheceu que seu objetivo foi o de dar um “chute nas partes” para impulsionar ações urgentes sobre as mudanças climáticas. O NYT destaca o trecho de um e-mail que McKay escreveu ao Times: “Não tenho ilusões, não acho que um filme possa resolver a crise climática (…), mas, se o longa inspirar conversas, pensamento crítico e deixar as pessoas menos tolerantes com a inação de seus líderes, então eu diria que alcançamos nosso objetivo.”

No Guardian, Mckay e a cientista Dra. Ayana Elizabeth Jonhson assinam um artigo no qual indicam que, apesar de a crise climática ser a maior ameaça à vida na Terra desde a era dos dinossauros, e apesar de todos os eventos climáticos vivenciados em 2020, a cobertura de notícias sobre o tema foi ínfima – 0,4% do total.

De acordo com a MediaMatters, a cobertura de notícias sobre a catástrofe climática nos programas televisivos noturnos dos EUA despencou 53%, em 2020, na comparação com o ano anterior, sendo a menor desde 2016. Para os autores, o humor pode ser uma “arma secreta” contra a crise climática, engajando um público ainda não sensibilizado para a questão.

O Netflix, em parceria com cientistas, lançou uma plataforma climática com dicas práticas sobre como os cidadãos comuns podem se engajar. O conteúdo também está em Português. Entre as ações propostas está o aumento da pressão para que políticos façam a parte que lhes cabe frente à crise climática. Fica a dica. O ator Leonardo DiCaprio, que tem se engajado nas questões climáticas e esteve na COP26, em Glasgow, pediu que seus mais de 19 milhões de seguidores no Twitter se envolvam na causa. A matéria traduzida foi publicada pelo Estadão.

Em tempo: Como que saído do filme Não Olhe para Cima! – sem querer dar spoilers – o empresário britânico Richard Branson, fundador do grupo Virgin, dono da Virgin Galatic e ferrenho defensor do turismo aeroespacial, declarou que o excita a ideia de colonização da Lua. Ele participou virtualmente da Rio Innovation Week, conduzida pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, como informa o Estadão. Na ocasião, mencionou a degradação da Mata Atlântica, falou da importância de medidas efetivas para frear a destruição ambiental e defendeu as energias limpas. “Nossos filhos deveriam poder viver em um mundo mais limpo.” Segundo ele, o espaço pode ajudar no enfrentamento à crise climática, principalmente com monitoramento por satélites. Resta saber se ele pretende acompanhar os resultados daqui ou do espaço.

 

ClimaInfo, 17 de janeiro de 2022.

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