Os desafios do novo comando da Petrobras com o preço dos combustíveis

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Ávido por alguma boa notícia para turbinar sua popularidade antes das eleições, Bolsonaro decidiu incluir a Petrobras em seu tabuleiro eleitoral – ainda que sob o custo de prejudicar ainda mais a empresa sem resultados práticos sobre os preços dos combustíveis no Brasil.

Os acionistas da Petrobras são os primeiros a se incomodar com as mudanças sucessivas no comando da empresa: como o Valor destacou, as trocas não trazem apenas angústia quanto à politização da maior estatal brasileira, mas também colocam em xeque a continuidade de estratégias e projetos de longo prazo, que dependem de um modelo de governança minimamente estável.

Nem mesmo o Palácio do Planalto faz muita questão de repetir a ladainha de que a troca do general Joaquim Silva e Luna por Adriano Pires vá reduzir o preço do combustível em um centavo sequer nos postos. “Se você ler tudo o que ele [Pires] escreve, vai continuar tudo como dantes no quartel de Abrantes. Não vai mudar nada”, comentou o vice-presidente Hamilton Mourão nesta 4ª feira (30/3), citado por O Globo.

“Pela enésima vez o governo troca o presidente da Petrobras, como se o problema dos preços dos combustíveis fosse criado por ele. Não é, mas fica assim demonstrada a autoridade do presidente da República”, escreveu Claudia Safatle no Valor. “Até a próxima escalada de preços do petróleo que, goste-se ou não, tem que ser repassada para os preços domésticos com base em toda a fórmula que se criou e se aprovou para reajustar os preços internos dos derivados conforme a cotação internacional do óleo”.

Por falar em preços de combustível, Bruno Rosa informou n’O Globo o caso da refinaria de Mataripe, na Bahia, vendida pela Petrobras ao fundo árabe Mubadala. Responsável por 14% da capacidade de refino do Brasil, a refinaria vem reajustando seus preços com mais frequência do que a estatal, repassando variações internacionais quase automaticamente para seus consumidores. Só neste ano, o preço da gasolina vendida por Mataripe aumentou 29,7%, passando de R$ 3,267 o litro em janeiro para R$ 4,238 no último sábado. Os reajustes vêm puxando para cima o preço médio da gasolina na Bahia, em Pernambuco, Maranhão e Alagoas.

Além do petróleo mais caro, outro fator também contribui para o aumento dos preços dos combustíveis no Brasil: a valorização dos créditos de descarbonização (CBios), comprados pelas distribuidoras de combustível para compensar a venda de derivados de petróleo no mercado brasileiro. No começo do mês, esses títulos atingiram valor superior a R$ 100, recorde histórico. “As companhias trabalhavam antes com valor perto de 40 reais, e hoje [este] está 100 reais”, comentou um representante do setor à Reuters. “Isso é custo da sociedade; no final da linha, quem paga é o consumidor”. Lembrando que, no caso do RenovaBio, o valor é repassado ao preço da gasolina, e não do etanol, para que os motoristas de modelo flex evitem queimar a opção fóssil. O UOL também repercutiu a reportagem.

Em tempo: No UOL, Rubens Valente abordou a reticência do novo presidente da Petrobras em divulgar a lista de clientes atendidos por ele no Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). No final do governo Temer, Pires chegou a ser questionado pelo Ministério Público de Contas sobre um potencial conflito de interesses por conta de sua condição de “representante da sociedade civil” no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), considerando eventuais conexões dele com empresas de petróleo e gás. Ao final, Pires decidiu se afastar do colegiado “de forma preventiva”. Com ele no comando da Petrobras, as dúvidas voltam à tona.

 

ClimaInfo, 31 de março de 2022.

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