Indústria fóssil russa resiste a sanções, mas começa a sentir impacto econômico

Rússia indústria fóssil
Sputnik/Mikhail Klimentyev/Kremlin via Reuters

Passados três meses desde que tropas russas invadiram a Ucrânia, Estados Unidos e União Europeia seguem apostando em sanções internacionais para forçar o governo de Vladimir Putin a recuar e voltar à mesa de negociação. Em um primeiro momento, as sanções se limitaram a pontos comuns nesse tipo de medida, como congelamento de ativos de representantes de Moscou e empresários próximos ao Kremlin. No entanto, a continuidade da guerra e a pressão da Ucrânia por mais apoio contra a Rússia forçou o Ocidente a fazer algo que seria impensável há menos de um ano: fechar a torneira da energia fóssil russa para o mercado europeu.

A promessa feita pela UE nesta semana, de diminuir o consumo de petróleo russo em 90% até o final do ano, foi a medida mais agressiva até agora. Ao mesmo tempo, a indisposição dos países europeus de pagar pelas importações de gás com moeda russa também forçou esses mercados a buscar alternativas no curto prazo para substituir, ainda que não totalmente, o gás de Moscou.

Mas e o impacto disso tudo na Rússia? Bem, a avaliação é ambígua. Como destacou a Bloomberg, por um lado, os russos seguem ganhando muito dinheiro vendendo combustíveis fósseis para o mundo: beneficiada pela alta do preço internacional, a Rússia pode fechar 2022 arrecadando algo como US$ 800 milhões diários (!) vendendo seu petróleo e gás natural, mesmo com as sanções e a redução do consumo europeu. No entanto, dependendo de como a guerra se desenvolverá nos próximos meses (e a expectativa é de que o conflito se arraste até pelo menos o final do ano), a bonança pode encontrar um limite. Aí é que se encontra a casca de banana mais traiçoeira para Putin: no curto prazo, o impacto econômico é bem reduzido; no longo, ele pode ser bem mais dramático para a indústria fóssil russa, com perda semipermanente de mercados importantes na Europa.

O caminho das sanções também tem seus riscos para a UE. O Wall Street Journal abordou o impacto das medidas recentes para substituir os combustíveis russos sobre as economias europeias. O preço da energia tem subido acima da inflação em muitos países do continente, o que pode causar problemas com a chegada do verão, especialmente se as temperaturas ficarem muito mais altas do que o normal.

Para atrapalhar, como assinalado pelo Financial Times, os preços internacionais do petróleo voltaram a ficar no patamar de US$ 120 o barril, bem acima dos US$ 80 cotados no começo do ano. Essa carestia acaba repassada para o preço dos derivados do petróleo, como gasolina e diesel, o que está causando em grande parte a explosão do valor desses combustíveis em todo o mundo. Alguns analistas começam a enxergar a possibilidade de que essa alta se prolongue por um tempo – potencialmente, até o final desta década.

 

ClimaInfo, 2 de junho de 2022.

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