Transição energética na África do Sul mostra obstáculos para cooperação entre países ricos e pobres

27 de abril de 2023
África do Sul transição energética
Leon Sadiki/Bloomberg

Anunciada com grande pompa na COP26, em Glasgow, em novembro de 2021, a “Just Energy Transition Partnership” (JETP) deveria ser um modelo de justiça climática, mostrando como países ricos poderiam ajudar economias em desenvolvimento a acabar com sua dependência do carvão e se tornarem verdes. Entretanto, quase 18 meses depois, a peça-chave da transição, um plano de US$ 8,5 bilhões da África do Sul, se parece mais com uma lenda, explica a Bloomberg.

Apenas uma termelétrica a carvão sul-africana deixou de operar nesse período. Agora, políticos do país pressionam para manter outras plantas à base do combustível fóssil operando por mais tempo do que o planejado – potencialmente por anos – enquanto o país tenta acabar com os apagões diários que frustram eleitores e afastam investidores estrangeiros.

O sucesso da JETP depende de um plano da Eskom Holdings, estatal de energia elétrica da África do Sul responsável por cerca de 40% das emissões de gases de efeito estufa do país, para substituir a maioria de suas 14 térmicas a carvão remanescentes por energia eólica e solar. Mas contínuos reveses têm marcado o programa desde o seu início, o que lança uma sombra sobre acordos semelhantes sendo firmados com Índia, Indonésia, Senegal e Vietnã, relata o Valor.

Um desses reveses é que a África do Sul vem sofrendo há tempos com os apagões, às vezes por mais de dez horas por dia, devido a um déficit de capacidade elétrica. Os blecautes pioraram no ano passado durante a pior onda de calor em cem anos, ironicamente um efeito das mudanças climáticas, e afetaram não apenas a economia como a popularidade do presidente Cyril Ramaphosa. Preocupado com as eleições nacionais do ano que vem, Ramaphosa anunciou que o país pode adiar o fechamento das usinas a carvão. A medida pode conter os apagões, mas retardará a mudança para fontes de energia mais verdes, informa a AP.

Outro problema envolve acusações de corrupção e desvio de dinheiro na estatal Eskom. O ex-presidente da companhia, Andre de Ruyter, afirmou que as perdas mensais por roubos superariam US$ 55 milhões, relata a Reuters

Enquanto isso, mulheres da pequena cidade sul-africana de Carolina, cercada por 22 minas de carvão, ilustram tanto a urgência quanto a dificuldade de uma transição justa para a energia limpa no país. Os moradores relatam problemas de saúde e abusos, mas temem um futuro de desemprego e fome se as minas fecharem.

“Ou morreremos deste ar ou morreremos das mudanças climáticas”, disse uma participante do relatório “Mulheres no carvão: uma pesquisa de ação participativa feminista sobre o carvão e as mudanças climáticas”, que reuniu opiniões de 185 mulheres das comunidades de Silobela, Kroomkrans e Onbekend, na Carolina.

A cidade de 14 km2 e 17 mil habitantes fica na província de Mpumalanga, que tem “o ar mais sujo do mundo”, segundo relatório do Greenpeace de 2019. A província abriga uma dúzia de usinas a carvão, uma gigantesca refinaria de petróleo, fundições, fábricas de produtos químicos, olarias e centenas de minas, relata o Mongabay.

Em tempo: Ambientalistas querem que se retire o rótulo “natural” do gás de origem fóssil. Para eles, ainda que tecnicamente correto, o termo traz uma carga enganosa, pois esconde do público o alto poder de efeito estufa do metano. “Não há nada de natural no fracking; não há nada de natural em milhares de quilômetros de oleodutos e não há nada de natural na poluição do ar interior associada ao gás”, disse Caleb Heeringa, diretor de campanha do grupo de defesa ambiental Gas Leaks. Ele e outros ambientalistas estão pressionando os reguladores federais a estabelecer uma política que desencoraje as empresas a usarem o termo “gás natural” no marketing, argumentando que ele classifica incorretamente a substância como uma fonte de energia limpa e verde. As alternativas lançadas pelos ativistas incluem “gás metano” e “gás fóssil”, relata a Bloomberg.

ClimaInfo, 28 de abril de 2023.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.

Continue lendo

Assine Nossa Newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Glossário

Este Glossário Climático foi elaborado para “traduzir” os principais jargões, siglas e termos científicos envolvendo a ciência climática e as questões correlacionadas com as mudanças do clima. O PDF está disponível para download aqui,
1 Aulas — 1h Total
Iniciar