Para adaptar SP a eventos climáticos extremos, Tarcísio sugere “manejo” de árvores

7 de novembro de 2023
SP eventos climáticos extremos
William Cardoso/Metrópoles

No jogo de empurra entre autoridades, que não se movem para acelerar a adaptação a um clima em mudança, a culpa sobra para a natureza.

Até a manhã de ontem, ainda havia 200 mil imóveis em São Paulo sem fornecimento de energia elétrica. Também ontem, ANEEL, governos do estado e da cidade de São Paulo reuniram-se com a Enel, empresa que distribui eletricidade na região metropolitana, para discutir os efeitos dos eventos climáticos extremos que atingiram o território paulista na 6ª feira passada (3/11) e resultaram no prolongado apagão. Na busca por responsáveis, sobrou para uma das vítimas das chuvas e dos ventos fortes: as árvores.

Foi o que disse o governador paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para quem a queda de árvores foi a “grande vilã” da falta de luz que atingiu mais de 2 milhões de imóveis no estado. A queda de árvores sobre a rede elétrica foi definida por Tarcísio como “questão arbórea”, relatam UOL e Estadão.

Não se pode negar que centenas de árvores na cidade de São Paulo caíram após o evento extremo, derrubando a rede elétrica e também matando pessoas. Mas Tarcísio, ao responsabilizar a cobertura vegetal – o governador sugere um “plano de manejo arbóreo” –, não responde ao principal: o que está sendo feito não apenas para preservar a “questão arbórea”, mas sobretudo para adaptar as cidades a eventos climáticos extremos, como o que ocorreu semana passada, que são cada vez mais frequentes e intensos?

Em coletiva após o encontro, o máximo que o governador paulista e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, anunciaram foi a formulação de um plano de contingência para eventos extremos, segundo a CNN. O que está bem longe de ser um programa de adaptação climática.

N’O Globo, Malu Gaspar conta que na 6ª feira a prefeitura paulistana escolherá o vencedor de uma licitação para fazer a poda de árvores na cidade nos próximos cinco anos, um contrato de R$ 2 bilhões. O problema, segundo técnicos do setor, é que o modelo de contratação continua o mesmo dos últimos cinco anos, que prevê pagamento mensal, e não por árvore derrubada.

Se as estatísticas dos últimos meses se mantiverem, o cuidado das árvores ficará a Deus dará: a Prefeitura de São Paulo deixou em aberto praticamente um em cada três pedidos (35,4%) de poda de árvore feitos pela central de atendimento 156 entre julho a setembro deste ano.

As árvores da cidade também sofrem com podas mal feitas e plantio inadequado, mostra o SP1. Em muitos casos, as plantas são afetadas pela concretagem feita em torno de suas raízes, o que dificulta sua fixação no solo. E também não há controle da saúde das árvores na cidade.

“As cidades não estão preparadas para proteger seus habitantes de flagelos tão previsíveis como as erupções climáticas (sic) extremas. A saída para evitar novos apagões envolve a transferência da fiação para o subterrâneo e uma adequada conservação das árvores. Em relação às árvores, a prefeitura de São Paulo faz por pressão um trabalho que deixou de realizar por precaução”, diz Josias de Souza no UOL.

Aliás, aumentou o coro dos que, depois da porta arrombada, voltam a defender o aterramento da rede elétrica. Segundo O Globo, o promotor Silvio Marques determinou que a prefeitura apresente em 30 dias ao Ministério Público um projeto de aterramento das fiações elétricas e de telecomunicações. Como é uma obra custosa, o prefeito Ricardo Nunes propõe cobrar dos consumidores uma tarifa, que não seria obrigatória, mas “voluntária”. Oi??

Também na mira, por razões óbvias, está a Enel, que desde 2019 vê sua avaliação piorar entre os clientes, diz O Globo. O MP vai investigar a empresa por suposta omissão no apagão, informa a Folha. E segundo Leonardo Sakamoto, do UOL, a empresa foi alertada pelo Sindicato dos Eletricitários de SP sobre os riscos para a rede em caso de eventos climáticos extremos.

 

ClimaInfo, 8 de novembro de 2023.

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