
“Não podemos esperar.” A urgência por ações climáticas na África é o tom das falas de Amani Abou-Zeid, comissária de Infraestrutura e Energia da União Africana, presente em Foz do Iguaçu (PR) na semana passada durante a reunião do Grupo de Trabalho do G20 para Transição Energética.
Abou-Zeid, assim como outros representantes de países em desenvolvimento, como o Brasil, defende uma reforma do sistema financeiro internacional, que traz assimetrias entre as nações ricas e pobres. “Um sistema que foi criado depois da Segunda Guerra Mundial definitivamente não está alinhado com o tipo de questões e urgências que temos hoje, especialmente a urgência climática. O pedido para que seja reestruturado está sobre a mesa”, afirmou em coletiva de imprensa. “Contudo, reestruturar a arquitetura global de financiamento vai demorar anos, e não podemos esperar por isso. Queremos ações urgentes.”
O sistema monetário internacional em vigor trata de forma diferente países ricos e pobres, o que aprofunda disparidades em vez de reduzi-las. É o caso, por exemplo, de taxas de juros aplicadas a nações em desenvolvimento, apontadas por elas como abusivas e que atrapalham investimentos internos. Além disso, a falta de dinamismo não é capaz de responder adequadamente a demandas emergenciais globais, como no caso da pandemia de covid-19 e nas ações de enfrentamento à crise climática.
O continente africano, diz Abou-Zeid, recebe somente 2% do financiamento climático global, enquanto 85%, vai para os países ricos. Ainda assim, é o mais vulnerável às mudanças climáticas: a temperatura média tem subido mais rápido do que no restante do planeta, cerca de 0,3ºC por década, entre 1991 e 2023, segundo a Organização Meteorológica Mundial. Contraditoriamente, responde por cerca de 3% do volume global de gases-estufa emitidos todo ano, e é duramente atingido por eventos extremos, como uma onda de calor que elevou a temperatura na cidade de Agadir, em Marrocos, a 50ºC em agosto.
“Somos penalizados em vários níveis: pelos desastres que não causamos, quando buscamos soluções com os países ricos e não as conseguimos, porque os investimentos feitos na África são duas a três vezes mais caros do que em qualquer outra parte do mundo”, afirma a comissária. “São firmados compromissos há quase 29 COPs, e isso é ótimo. Mas agora é hora da ação, especialmente para os que mais precisam, e bem rápido.”



