Trump e Europa derrubam entusiasmo com hidrogênio verde

Além do cenário externo desfavorável, gargalo na transmissão de energia elétrica no país é obstáculo para a implantação de projetos.
22 de abril de 2025
trump europa hidrogênio verde
Foto Oficial Casa Branca

O hidrogênio verde (H2V) produzido a partir da eletrólise da água com fontes renováveis de eletricidade é uma alternativa para acelerar a transição energética e a descarbonização da economia global. Com sol e vento à vontade, o Brasil é uma possível potência na produção do novo combustível, principalmente no Nordeste, mas, como em qualquer inovação tecnológica, precisa ganhar escala para se tornar competitivo. Entretanto, a empreitada de Donald Trump contra as energias renováveis, o recuo da União Europeia quanto ao hidrogênio e as limitações da infraestrutura elétrica nacional jogaram um balde de água fria nas pretensões de empreendedores do combustível no país.

Nas palavras de executivos do setor ouvidos pela Folha, os brasileiros caíram na real. Com seu furor em explorar combustíveis fósseis, Trump não está nem aí para o H2V. Mas foi a mudança política na Alemanha, o país europeu até então mais entusiasmado com o combustível e com a possibilidade de importá-lo do Brasil, que fez os investidores colocarem as barbas de molho.

O próximo primeiro-ministro alemão, Friedrich Merz, é reticente quanto às metas ambiciosas do atual governo e já questionou a viabilidade de substituir o uso de gás fóssil na produção de aço por hidrogênio verde. A narrativa pode ganhar força em caso de um cessar-fogo na guerra na Ucrânia e uma retomada de exportação do combustível fóssil russo para a Europa.

“A Europa tinha uma missão de 10 milhões de toneladas de importação, o que equivale a 60 gigawatts de eletrolisadores. Mas eles estão passando por conflitos, o que faz com que a gente entenda que a demanda atual seja bem menor”, disse Luis Viga, responsável pelo projeto da Fortescue no Brasil e presidente do conselho da Associação Brasileira da Indústria de Hidrogênio Verde (ABHIV). “Com isso, muitos projetos no mundo foram cancelados”.

Segundo especialistas, as pesquisas relacionadas à produção de H2V avançaram menos do que o planejado e é difícil estimar quando o combustível terá o mesmo preço do hidrogênio cinza, feito a partir de combustível fóssil.

A BNEF, braço da Bloomberg responsável por pesquisas sobre transição energética, apontou que dificilmente o quilo do hidrogênio verde custará, em algum momento, US$ 1, valor necessário para que se equipare ao hidrogênio cinza. Hoje, nas contas da consultoria, no melhor cenário, o H2V custa US$ 3,20 por quilo na China.

Uma análise do banco holandês ING listou os desafios, relatou a Época Negócios. Além da projeção de oferta de H2V superior à demanda, há dúvidas regulatórias e o governo dos Estados Unidos dando prioridade ao hidrogênio azul, produzido com gás fóssil e até petróleo. Não à toa a indústria petroleira pressiona Trump para manter incentivos dados por seu antecessor, Joe Biden, ao combustível, mas direcionando-os à versão azul, informou a agência eixos.

Se o cenário externo é de cautela, a situação no Brasil também não é das melhores, mas por problemas na transmissão. Responsável por autorizar o acesso à rede, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) negou os oito primeiros pedidos de conexão por projetos de H2V, alegando que o sistema não tem capacidade de receber em segurança essas usinas, relataram Folha e Estadão.

O setor pede agilidade em obras de ampliação e reforço da rede para permitir a instalação dos projetos, que têm investimentos já programados de R$ 188 bilhões, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). O problema mobiliza governadores do Nordeste, onde os projetos estão planejados.

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