Poder público falhou na resposta às enchentes no RS, diz Anistia Internacional

Tragédia foi listada como exemplo de momentos em que governos não realizaram ações suficientes para minimizar os impactos da crise climática.
4 de maio de 2025
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Joédson Alves/Agência Brasil

Um ano após a tragédia climática que deixou quase todo o Rio Grande do Sul submerso, a Anistia Internacional divulgou um relatório apontando falhas em diferentes instâncias do poder público no enfrentamento às enchentes. O evento foi listado junto a outras tragédias internacionais como exemplo de momentos em que governos “não realizaram as ações suficientes para minimizar os impactos da crise climática” e a população teve seu direito de acesso ao meio ambiente saudável violado, destaca O Globo.

As enchentes afetaram 2,3 milhões de pessoas e deslocaram 600.000, fazendo com que 27 municípios decretassem estado de emergência em maio do ano passado, lembrou o documento. As inundações deixaram 806 feridos, 183 mortos e 28 desaparecidos. Além disso, o relatório menciona que houve registro de 788 casos de leptospirose e 10 surtos de doença diarreica aguda até agosto do ano passado. E que grupos vulneráveis foram particularmente prejudicados, incluindo 16.691 indígenas.

A maior gravidade da tragédia no RS sobre populações vulneráveis é confirmada por Javier Palummo Lantes, relator especial da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). Ele chega ao Brasil nesta 2ª feira (5/5) para apresentar um estudo inédito do órgão sobre o evento extremo, informou Lauro Jardim n’O Globo.

Para evitar a repetição da catástrofe para as pessoas, Lantes recomendará, em encontros com autoridades em Porto Alegre e Brasília, a inclusão da questão climática nos planejamentos municipais; o aprimoramento do monitoramento das chuvas; melhorias em sistemas de drenagem, e também a restauração de ecossistemas degradados. Também pedirá reforço na proteção de Direitos Humanos, com foco em diversas categorias, desde pescadores e ribeirinhos a catadores de materiais recicláveis.

A preocupação procede porque um estudo liderado pela Agência Nacional de Águas (ANA) mostra que tragédias como a do RS devem se tornar cinco vezes mais frequentes. E também porque um ano depois, embora tenha superado a calamidade, o estado enfrenta o desafio de recuperar sua infraestrutura, dar vida digna às pessoas atingidas pelas enchentes e voltar à plena normalidade, mostraram Agência Brasil e Estadão.

Em balanço dos últimos dias, o governo federal informou que aplicou R$ 111,6 bilhões em investimentos no estado. Da parte do governo gaúcho, os recursos alocados em diferentes frentes chegam a R$ 8,3 bilhões. Um indicador desse impulso seria o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do estado, que subiu 24% em 2024, acima do PIB nacional (3,4%).

Apesar disso, em Porto Alegre, capital do estado, o risco de que as enchentes se repitam continua. Especialistas afirmam que as soluções de engenharia adotadas pelo poder público vão na direção correta, mas ainda são insuficientes para livrar a cidade de catástrofes em caso de tempestade. Para os pesquisadores, é preciso um plano de emergência para ser acionado até que todas as mudanças estruturais sejam concluídas.

A tragédia gaúcha também causou um “choque de realidade” no setor de seguros, que se vê cada vez mais impactado por eventos extremos causados pelas mudanças climáticas, destacou o Valor. Os temporais e inundações escancararam vulnerabilidades e forçaram alterações nos modelos de gerenciamento de risco e socorro a vítimas de catástrofes.

Um lado pouco relatado na tragédia climática no RS em 2024 foi seu impacto sobre parques e Unidades de Conservação. Foram iniciados estudos para apontar se espécies foram prejudicadas nessas áreas, onde a vegetação conservada conteve estragos, explicou ((o))eco.

Mas saber a dimensão do estrago levará tempo. À frente da Coordenação de Emergências Climáticas e Epizootias (COECE) do ICMBio, Claudia Sacramento informou que os efeitos das enxurradas sobre a biodiversidade em Unidades de Conservação federais no estado serão conhecidos em até 30 meses.

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