
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e os republicanos do Congresso dos EUA tomaram medidas que estão diluindo a capacidade do país de antecipar, se preparar e responder a inundações catastróficas e outros eventos climáticos extremos, dizem especialistas. A recente tragédia no Texas, onde tempestades e enchentes mataram pelo menos 120 pessoas e deixaram outras 160 desaparecidas, é a mais recente prova disso.
Reduções de pessoal, cortes no orçamento e outras mudanças feitas desde janeiro já criaram buracos no Serviço Nacional de Meteorologia, destaca o NY Times. Além disso, a proposta orçamentária do governo para o próximo ano fiscal fecharia 10 laboratórios administrados pela Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) que pesquisam, entre outras questões, como o aquecimento global altera o clima.
Trump também quer reduzir drasticamente a Agência Federal de Gestão de Emergências (FEMA). Seu governo já revogou US$ 3,6 bilhões da FEMA para centenas de comunidades, recursos que seriam usados para ajudar essas áreas a se protegerem contra furacões, incêndios florestais e outras catástrofes. De janeiro até meados de maio, a agência perdeu 2.000 funcionários em tempo integral (um terço de sua equipe), por demissões e rescisões. Desligamentos que incluíram líderes com décadas de experiência.
O desmonte da FEMA pelos cortes de verbas e pela perda de conhecimento institucional ficará exposto se o país enfrentar mais de um desastre simultaneamente, disse ao Guardian o ex-chefe de gabinete da agência, Michael Coen. Ele contou que funcionários preparavam planos de contingência que permitiriam à agência atender às demandas da temporada de furacões, que vai do início de junho até o final de novembro, com menos recursos.
Mas o sucateamento da FEMA e de outras estruturas cruciais para previsões meteorológicas e antecipação de eventos extremos oriundos das mudanças climáticas é ignorado por Trump e seus asseclas. Tanto que a secretária de Segurança Interna dos EUA, Kristi Noem, defendeu a resposta da FEMA às enchentes mortais no Texas, relatam POLITICO e NY Times. E negou que uma medida sua sobre contratos tivesse piorado a ação da agência.
Em 11 de junho, a secretária emitiu um memorando solicitando que as agências do Departamento de Segurança Interna dos EUA, incluindo a FEMA, submetessem à sua análise qualquer contrato acima de US$ 100.000. O documento, ao qual a Reuters teve acesso, dizia que as agências deveriam conceder pelo menos cinco dias para que seu gabinete analisasse as solicitações de financiamento. Vários funcionários atuais e antigos da FEMA temiam que o teto de gastos pudesse atrasar a resposta da agência a desastres. Temor que a tragédia no Texas confirmou ser real.
AP, New York Times, Washington Post e AP também repercutiram a tragédia no Texas e os ataques de Trump à estrutura de previsão e resposta a catástrofes climáticas dos EUA.
Em tempo 1: Tudo sempre pode piorar com Trump: o Departamento de Energia (DoE) dos EUA contratou pelo menos três cientistas conhecidos por negarem as mudanças climáticas, informam New York Times e Estadão. Steven E. Koonin, físico e autor de um livro que chama a ciência climática de “incerta”; John Christy, cientista atmosférico que duvida da extensão com que a atividade humana causou a crise climática; e Roy Spencer, meteorologista que acredita que nuvens tiveram maior influência no aquecimento do planeta do que os humanos estão listados no sistema interno de e-mail do DoE como funcionários atuais da agência, mostram os registros.
Em tempo 2: Um incêndio florestal destruiu um alojamento histórico e dezenas de outras estruturas no Grand Canyon, forçando as autoridades a fechar o acesso à área, informam AP, BBC, New York Times e CNN. O Grand Canyon Lodge, único alojamento dentro do parque na Borda Norte, foi consumido pelas chamas. Altas temperaturas, rajadas de vento e vegetação seca criaram as condições para incêndios florestais. O incêndio queimou cerca de 7.700 hectares perto do Lago Jacob. Até sábado (12/7), as chamas permaneciam fora de controle e em expansão ativa.
Em tempo 3: Deputado democrata e socialista, Zohran Mamdani venceu as prévias do partido para as eleições da prefeitura de Nova York, que acontecem em 4 de novembro. Sua campanha se concentra no alto custo de vida na cidade e na falta de moradias acessíveis. Mas a adoção de uma lei climática ambiciosa – chamada Lei Local 97 – pode ter tanto impacto no setor imobiliário quanto seu plano mais conhecido de congelar o aluguel de cerca de 1 milhão de apartamentos, destaca o New York Times. Aprovada em 2019, a lei prevê reformas potencialmente caras nos maiores edifícios de Nova York para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa. E Mamdani afirmou que pretende reforçar a fiscalização da medida.



